sábado, 29 de setembro de 2012

S. Paulo

Toda a lucidez que habita São Paulo Posted: 28 Sep 2012 03:18 PM PDT alt Fotografia: Raimundo Neto 1. Fragmento de céu e concreto Vivo preso ao conforto habituado de uma cidade do interior. Sempre pensei estar a salvo do mundo, o mundo de verdade: os movimentos de progresso embalados pelo capitalismo, o pouco verde das grandes metrópoles, a alegria colorida das pessoas sem tempo. Na Cidade Pequena não há trânsito; a fumaça que se mistura a nuvens encorpadas vem dos fornos de duas padarias centrais e de uma rica vegetação queimada para receber a pouca chuva que cairá, um dia. A poluição que existe é apenas o som do diz-que-diz frustrado de quem não sabe viver a vida. Quando estive em São Paulo, comecei a entender que existia, no meu vulnerável presente, uma farsa. A bruma da vida bucólica e acomodada se dissipava e comecei a entender a velocidade do mundo, a dinâmica arriscada da verdade entusiasmada que a percorre. Existe uma singular diferença entre a felicidade pastoril a qual me habituei e a algazarra metropolitana dos grandes centros: o tédio. A vida quieta e sussurrada que ocupo, hoje, é, na verdade, a mais pura e descarada acomodação. Sabe-se exatamente o que acontecerá no amanhã; o tédio cria raízes em sua capacidade de desvencilhar-se da repetição. Em São Paulo, no entanto, os galhos do fastio até brotam, mas são constantemente podados, controlados. Adquiri novas distâncias, processos irreversíveis. São Paulo começou a pesar dentro de mim. Eu era, a cada minuto, sugado por uma dolorida realidade; tudo que eu entendia sobre viver foi soterrado pelas novas impressões que se edificaram em mim. As horas dão saltos em São Paulo; entre os pulos das horas, uma suspensão gloriosa da existência; é quando se percebe que os dedos congelaram, a boca transformou-se em deserto, e os planos para o presente cresceram. Um código difícil prende-se às formas retas e à arquitetura triunfante de São Paulo. Não chega a ser um mistério indissolúvel; se deixarmos a alma escapar pelos olhos, ela pousará nas paisagens sólidas que nos cercam, abraçará a ideia iluminada de que nem tudo é transitório, e conseguiremos receber as informações possíveis para compreender a cidade: os sonhos são indestrutíveis; finitos, mas indestrutíveis. Dava para sentir o peso das coisas olhando, ali, de fora. Eu quis que todos os trajetos fossem feitos a pé. Passos ensaiados, com calma, ao enfrentar a pressa implacável dos transeuntes. Dei passos largos com as pernas cambaleantes de meus olhos curiosos. Porque possuo passos largos dentro de algo maior que eu. Falei isso em uma oração de boca fechada, murmurante; torcia para que as pessoas que não me entendiam soubessem esperar. Eu poderia repetir o mesmo percurso o dia inteiro. Contei os passos com o piscar os olhos. Queria ter todos os detalhes presos na alma em quadros bem registrados. Minha alma fotografaria o inquieto e permanente despertar de São Paulo. A maioria das pessoas que conheço, e que esteve em São Paulo, informa os riscos de fixar residência. Que qualquer fantasia se despedaçará com o tempo. Fiquei impressionado com tantas pessoas investindo na permanência, correndo para solucionar o enigma do dia imediato. É como se a imprudência fosse a marcar maior e tola de quem optou por São Paulo. Por que tantas pessoas investiriam naquele sonho? O que tem em São Paulo que não as deixa partir? Talvez haja mesmo um mistério insolúvel grudado dentro das pessoas que só sabem querer muitas coisas da vida. Talvez o paulista (e todos os que ali se familiarizaram) trabalhe tanto para dirimir a culpa que sente por ter deixado outros sonhos para trás. Talvez sejam apenas sonhos concretos. Ou menos duros que tudo aquilo. É tudo enorme e intenso para se experimentar em pouco tempo. A solidez das coisas que passavam me atingiu aos poucos. Blocos de realidade foram sendo atirados no fundo da consciência, alicerçando um desespero claustrofóbico. A rapidez de tudo deixava uma impressão permanente, uma marca em alto-relevo. A cada passo a vida se alargava, e eu sentia que precisaria correr para não sucumbir ao medo de não conseguir ser o que sempre me desagradou: comodamente medíocre e pateticamente limitado. São Paulo não precisa tocar você com suas grandes mãos de monstro vaidoso que necessita ser reconhecido em sua enormidade. Ela apenas bate palmas para que você preste atenção ao que ela oferece; um sinal de aprovação festiva: Experimente. Ela permite-lhe algumas revelações destemperadas. Gosto, sim, da parte quieta do mundo, mas entendi que se não houver um momento pulsando frenético no que acontece ao redor - mesmo que eu apenas o observe - volto a acreditar que alguma parte minha apodrece e se fragmenta, se desfaz, a cada novo minuto, no detalhe do momento que não se recupera. Ela não atrai as pessoas para a morte, como alguns se habituaram a pensar. Ela possui a narrativa dos sonhos de milhões de pessoas na sua horizontalidade sólida. Talvez você não consiga entender em que lugar seu começa a noite em São Paulo. O sono talvez seja um sinal. Esperei que os dois amigos, que me acompanharam na visita a São Paulo, dormissem. O frio grudava-se ao mármore da pia, ao ferro das trancas das portas, aos relógios de pulso, a tudo que se expunha, como uma razão de ser. No hotel, o quarto escuro com linhas de luz que vinham do tempo claro da Avenida Ipiranga. A luminosidade entalhada quadrada e solta das janelas sujas, do térreo até a confusão das antenas de TV. Eu queria colocar a madrugada de São Paulo na palma da língua, deixar a carne tremer e não voltar mais; deixar de morrer, ou congelar a impressão de morte iminente para sempre no fundo das minhas gotas de chuva mansa. Desci o quarto andar com duas camadas de moleton escuro e bermuda. Os pés calçados em couro barulhento. Perguntava-me se toda gota que caía salvaria o mundo. As pessoas corriam nos espaços alongados, nas veias asfaltadas de São Paulo. As ruas derramavam pessoas em todas as direções; pessoas que eram engolidas pelos trens lotados, pelos ônibus compridos. Tinha sempre um funk vazando de um canto impreciso; as batidas rachadas do funk sujo eram, no entanto, amenizados pela MPB que os taxistas ouviam. Caminhei na noite da Ipiranga. Ouvi Caetano na esquina da São João reclamar do frio e enfiar a cara nos peitos de uma prostituta. Duas outras prostitutas ouviam um pop eletrizante, algum som nervoso da Rihanna. Uma travesti desfilava sua beleza cheia de defesas. Eu queria chegar ao final da avenida desconhecendo o começo de tudo em mim. A filosofia carcomida dos que não possuem bons e bem remunerados projetos. As pessoas acordadas às quatro da manhã caminham sobre uma renovação; seus pés soam dentro de um tic tac mais resistente. Os automóveis costuravam o barulho que nunca cede; seguem um destino incógnito. Mas há um cansaço latente entranhando-se nos músculos. Não sei se o dia está começando ou terminando para a maioria deles. Pelas horas gastas buscando renovação dos sonhos, eu diria que suas ações ordinárias constroem um ritual de praticidade e obrigação: acordar, matar um bom dia com café quente, correr, abrigar o frio nos dedos, ultrapassar limites. O cansaço afasta a alegria de prosseguir mais um pouco, só mais um pouco, mas não abraça o tédio. Eles seguiam o caminho que nasce dentro. Iam e vinham. Poucos duram na vida de muitos. Acontecia comigo também. 2. O passado quando surge é para partir em seguida Minha infância foi de puro distanciamento. Do berço à adolescência, achei que seria menos desgastante optar pelos livros, videogame, construções fantasiosas no quintal do meu avô. Ocupava o dia com estudos e corridas contra o tempo para conquistar o espaço meu que não era de mais ninguém. Grupos de meninos me recebiam com uma rispidez já madura para o tamanho de seus acordos infantis. Eu não caminhava como eles. Brincávamos todos com carrinhos em cidades sitiadas de areia e merda de bode. Mas os meus carrinhos eram pilotados por bonecas com rouge e delineador. Jogávamos videogame. E nas competições de luta e sangue, as personagens femininas que eu escolhia levantavam a bandeira da delicadeza combativa. No final das brincadeiras, eu terminava sozinho e satisfeito porque existia uma amizade, mesmo limitada, que transformava minha infância em um pedaço superficial do meu futuro. Apreciava abraçar ausências, e suportar a falta com um suspiro semi-esperançoso. Quando os adultos perguntavam-me sobre como era ser filho único eu explicava sem restrições que não era tão bom quanto se pensa. Complementava a informação dizendo: Na verdade, eu tenho dois irmãos, por parte do meu pai. - Você conhece seu pai? - Por fotografia. - E seus irmãos? - O que tem? - Você conhece seus irmãos? - Não! Mas vou conhecer quando eu crescer. Em São Paulo, encontrei um dos meus irmãos. Nunca tínhamos nos visto. Trocávamos impressões apenas pela internet. Encontramo-nos na grande agitação capitalista da rua 25 de Março, e seguimos até o Mercado Municipal. Ele organizou a reserva em um dos vários restaurantes do espaço. Na verdade, tratava-se de uma representação mais ruidosa de algo maior que vive numa representação mais organizada da realidade. Deu um estalo de tolice ao reconhecer no irmão aquilo que poderia ser meu ou estar ao meu lado há anos. É como se eu voltasse a ser alguém que nunca existiu de fato, e a ter alguém que nunca estará lá. O orgulho mais estranho que já experimentei por alguém se avolumou no peito. Meu irmão tem um rosto forte, duro, e uma polidez organizada. Distribuiu atenção com generosidade e uma única gargalhada espontânea, quando viu um Wolverine subnutrido passar apressado ao seu lado. Possui uma estrutura maciça, impenetrável. A coragem de superar qualquer dor espalhada nos movimentos comportados. Uma capacidade adquirida de se defender sem guerrear por qualquer reles motivo. É uma mente de simpatia socialista agarrada às tecnologias. Suas opiniões são plácidas e os olhos pousam calmos enquanto as pessoas tentam explicar-lhe algo que ainda não conhece. Calei por minutos. Absorvi a confusão de todos os gritos estourados que chegavam. Apontei para a mochila dele e avisei que estava aberta. Foi meu modo de protegê-lo. Se tivéssemos vivido uma infância em comum ele não seria o tipo de criança que dividiria os brinquedos com o irmão mais velho. Mas eu me orgulharia de vê-lo brincar quieto com sua raiva aliviada. Eu o defenderia das ameaças paternas. Eu o esconderia debaixo da barra da minha calça. Eu quis silenciar todos os anos de curiosidade inconveniente; meu silêncio como uma acusação da minha mediocridade. Eu não inventaria qualquer qualidade que me igualasse a ele, ou superaria uma desvantagem decepcionante. Então deixei que ele contasse a sua história. Nossas versões do passado foram costurando-se numa camada de breve cumplicidade sobre a superfície da fraternidade iniciada, estendendo-se sobre mim e aquecendo o orgulho confortável que eu não tive medo de vestir. Senti que poderia absorver todas as complexas histórias que ele tivesse para contar, e amortecer seu tom empolgado com meus segredos catastróficos. Mesmo entendendo minha pressa em respeitá-lo e admirá-lo por tão pouco, continuei alimentando o arrebatamento. Ele tentava traduzir o mundo para nós, eu e meus amigos, sem ofender nossa sabedoria visitante. Ele possui uma sensibilidade improvável que muitos talvez nem entendam. Os passos firmes corridos, como se driblasse uma bola nervosa à sua frente, incentivavam a minha dependência que, com o tempo, poderia se tornar cansativa. Talvez tenha sido o tipo de adolescente que não fui: esperto e digno o suficiente para não vender o futuro por tão pouco. Quando ele projetou a despedida, eu quis pedir-lhe para que falasse mais de suas maneiras superiores de viver em São Paulo, a praticidade de ter uma visão política madura e estreita, e suas resoluções afetivas com garotas paulistanas liberais. Acho que eu pretendia preencher o espaço aberto existente desde a infância com os conteúdos do irmão que acontecia recente para mim. Dentro, no fundo, quase todo mundo deve ter esse espaço que vai sendo ocupado pelas importâncias adjacentes dos irmãos e dos pais. O meu permanecera intocado para ambos os casos, até aquele dia. Ele oferecera hospitalidade e distanciamento. Foi sua maneira de me proteger. Quando o irmão foi embora, deixei a solidão brotar solenemente. E segui com o sorriso indisposto até o quarto do hotel, com uma nova solidão instantânea que sustentava a densa sensação de lamentar o presente que não sei como vencer. 3. O terceiro andar de Clarissa Há uma disciplina na solidão que percorre São Paulo. É terra que se abre para agrupamentos, na verdade. O que vi foram solidões repartidas como uma reserva de sobrevivência. O despertar de uma silenciosa compaixão. Suspeito que depois de São Paulo, tudo que for substância diferente ofenderáminha disposição para experimentar o mundo. Os detalhes estão perdidos nas repetições de todos aqueles que vão com a pressa dos que pretendem volta logo, logo. Percorri o dia da Avenida Paulista; e abracei os tons escuros da Augusta. O meu estranho entendimento percebeu que algumas pessoas que você pretende amar em São Paulo estão repletas de segredos nas dobras perdidas dos gestos secretos. Os semáforos abrem seu vermelho elétrico e grupos de novas solidões dedicadas à conquista da hora seguinte param e se agrupam; só avançam quando não há mais perigo. Eles parecem livres da ociosidade; rápidos e circunspectos, a maioria deles. Não se conhecem; e querem a mesma coisa: acreditar que São Paulo pode dar certo. Eles carregam suas casas no peito. Recebem visitas no corpo quando se tocam acidentalmente na troca do passeio, na rua espaçosa com obstáculos humanos vendendo detalhes de uma vida pirateada, quando se amontoam e comprimem sua expectativa dentro do trem. Quem veio de fora, habitantes desconfiados de outros estados (os sólidos já firmaram sua crença no futuro), pede abrigo na solidão do outro que não o reconhece. São Paulo é lugar que abriga a alheia solidão que deixou de ser rumor; remota e implacável. São Paulo tornou-se dentro deles a casa que eles levam adiante, indescritível. Nenhum dos olhos que se cruzam se tocam realmente. A solidão é compartilhada com um silêncio ignorado que escapa deles e se agarra ao movimento organizado da vida. Existirá, ali, alguém que conhece todos os detalhes das pessoas que ama? Que consegue ler os fragmentos que elas deixaram na sua vida? Que consegue carregar por mais alguns anos os pedaços imprevistos e pesados que eles não conseguem guardar em si? Eles conhecem a música que mora nos dedos do alguém que nunca os quis na vida? Eles entendem quando não é mais possível perdoar o futuro que não vai acontecer? Clarissa me responderia. A única pessoa que me pronunciou seu nome em São Paulo, com dois tons de alegria. Um nível mais claro de céu aberto. Eu quis entender: Que ruas percorrem Clarissa? E os olhos responderam: (Na Praça da Luz): As crianças deixavam os sentidos escorregarem e saíam com os olhos disparados pelos quadros e esculturas procurando uma nova explicação. Um gato pintado de sombra numa vidraça espelhada de luz de sol não sabe ser outra coisa além da arte. Vigia tudo que faz sentido dentro do sentido dos outros. (Estação Pinacoteca): O homem de rosto avermelhado que coça as orelhas para o som vagar sem aborrecimentos em suas fantasias. (Viaduto do Chá): Um homem curto e sua tentativa de controle da mão fechada sobre a mesa, quando o namorado expõe sobre a ex alguma dificuldade inspirada, uma represa de ciúmes contida no tremor ajuizado. (Viaduto Santa Efigênia): A filha desentendida da vida abandona os dedos inseguros nas dobras da calça e aperta as pregas ornamentadas buscando paciência, amassa o desespero do toque. Em poucos segundos tudo está desfeito. Mas os dedos continuam vivos, e conferem ordem à matéria que não é a interior. (Estação da luz): Os cuidados mansos do avô resmungão e sorridente, mas que ensinou alguém a salvar borboletas com açúcar, água limpa e fios de misericórdia na extremidade dos dedos. (Livraria Cultura): A moça de olhar caído e vincos de preocupação, pequenas montanhas de desgosto que deixam escapar rochas-filhas morro abaixo. Despencando para a terra desolada da família. (Rua Frei Caneca): O casal que adormece vigilante, protegendo de qualquer mentira os sonhos que virão a inventar. As lembranças do namoro estalam dentro do que possuem de concreto atualmente (porque eles casaram, e ele o esperou por anos e anos, e eles tinham carinhos gêmeos que foram separados no nascimento): a pele coberta de vergonha encostava-se com discrição ao corpo próximo, o dele, o dele, os sentidos se aguçavam, havia cheiro de satisfação e café-da-manhã-da-nossa-vida-a-dois; e assim talharam o rosto feliz da pessoa que são hoje. O amor também vem no atrito. (The Week): O menino tímido que não consegue anunciar sua busca. Os dedos dos pés estalando, dobrados sobre a própria vergonha. A palma da mão em giros lustrando a ponta do nariz em cócegas, como um conserto, mas ao contrário. As notas ao avesso. (Hotel Normandie): Alguém que acorda dentro da noite para cumprimentar o ressonar aliviado da saudade do companheiro e protegê-lo seu sonhar com um cobertor, tocar com a ponta dos cílios os cantos desolados da boca que anuncia um sonho inquieto. (Mercado Municipal): O marido que observa a esposa preparar o prato do almoço com verdes indigestos, os dedos firmes no corte vermelho do tomate, a força impressa para fatiar o sabor da dedicação da mulher que o agradará ternamente. (Estação de Metrô da República): A paciência lustrosa do rapaz que esperou três anos, ou mais, sozinho, até que a garota, que ele não sabia que seria sua pelo resto da vida, voltou. (Catedral da Sé): O sorriso enrugado de uma avó falecida brilhando no quarto escuro da recordação aborrecida da moça vestida de azul anil que ora com a força dos dedos apertados. (Museu da Lingua Portuguesa): Quando a árvore da vida é composta de livros. E há morada fixa na poesia dentro das luzes. (Avenida Ipiranga): O som dos cabelos limpos dos que chegam com surpresas cuidadosas em uma tarde qualquer. (Avenida São João): Caixas de presente com sentimentos duradouros embalados, sem preço, com valor. (Avenida Paulista): Dois homens e uma dança no abraço surdo dos que sentem saudade. (Largo do Arouche): Quando a declaração de ‘Estamos Juntos Outra Vez’ vem com o dardejar das asas finas de olhos cansados. (Teatro Municipal): Olhos cerrados, cortando a aspereza oferecida pela realidade, deixando pó velho das esperanças ressentidas; a mulher vestida de nuvem cinza e uma tempestade de verde pôde enxergar como deveria ser o futuro. Ou deveria ser assim. (Praça da República): Elas, duas meninas de movimentos bruscos, falavam de amor. Uma boca gentil matava a sede no copo das tristezas daquela que tinha uma história triste para contar. 4. O último andar São Paulo torna o presente um golpe duro de nostalgia, onde se lamenta ter que deixar a busca para trás. É espaço para chegadas que não duram e partidas que se desmancham. São Paulo é um sonho de vinte andares inabaláveis. Ela é rígida; desperta um sentimento carregado, asfixiante. Uma paixão nascida no caos daquele mar de alumínio e luz artificial; a claridade que se derrama do céu torna a realidade consciente demais para os facilmente assustáveis como eu. E se me perguntarem que medo deixei nascer em mim, direi a partir de agora: 1. De não viver mais tempo para aproveitar São Paulo. 2. De voltar a ser filho único no dia seguinte. Ao voltar à terra prometida, que me prende e não revigora, Vovó olhou por alguns instantes para mim; fez silêncio antes de declarar sua benção. Vovó disse que voltei mais alto da viagem a São Paulo. Ela acredita que me tornei um sonho de três andares. (O Pensador Rebelde)

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