sábado, 30 de julho de 2011

Hemingway

50 anos sem Hemingway: “Paris é uma festa”
Segue trecho do livro no qual o escritor Ernest Hemingway estava trabalhando semanas antes do suicídio. Revivia dias alegres da sua juventude na França. Publicado postumamente em 1964, o livro inspirou muitas gerações de jovens a se tornarem jornalistas.
“Eu era muito tímido quando entrei na livraria pela primeira vez, não tendo dinheiro sequer para me inscrever na biblioteca de aluguel. Sylvia me disse que eu podia pagar o depósito quando tivesse dinheiro, preparou o meu cartão e encorajou-me a levar quantos livros quisesse.

Não havia motivo para que ela confiasse em mim dessa maneira. Não me conhecia, e o endereço que lhe dei, rue Cardinal Lemoine, nº 74, não podia ser mais pobre. Mas ela foi cordial, encantadora e amabilíssima. Atrás dela, em toda a altura da parede e estendendo-se para a sala dos fundos, que dava para o pátio interior do edifício, havia estantes e mais estantes carregadas do tesouro da biblioteca.

Comecei com Turgueniev e tomei os dois volumes de A Sportsman's Sketches e um dos primeiros livros de D. H. Lawrence, creio que Filhos e Amantes. Sylvia disse-me que levasse mais livros, se eu quisesse. Escolhi a edição de Guerra e Paz preparada por Constance Garnett, e O Jogador e Outros Contos, de Dostoievski.

- Você não voltará tão cedo se for ler tudo isso, disse Sylvia.

- Voltarei para pagar - respondi - Tenho algum dinheiro no meu apartamento.

- Não me referia a isso - disse ela - Você pagará quando lhe for conveniente.

- Quando é que Joyce costuma vir aqui? , perguntei.

- Quando vem, em geral é no fim da tarde – disse ela. - Você não o conhece pessoalmente?

- Já o vimos no Michaud, comendo com a família - disse eu. - Mas não é delicado olhar as pessoas quando elas estão comendo e, além disso, o Michaud é caro.

- Você costuma comer em casa?

- Agora quase sempre - disse eu. - Temos uma boa cozinheira.

- Não há restaurantes perto de onde você mora, não é?

- Não. Como é que sabe disso? – perguntei.

- Larbaud viveu por ali - disse ela. - Gostava muito do bairro, exceto por isso.

- O lugar mais próximo, onde se pode comer bem e barato, fica além do Panthéon.

- Não conheço esse bairro. Nós também comemos em casa. Você e sua mulher devem aparecer uma noite dessas.

- Espere até ver se eu Ihe pago - disse eu – Mas muito obrigado pelo convite.

- Não leia depressa demais - disse ela.”


(vermelho.org)

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