domingo, 31 de julho de 2011

Nosso Beto

O ROTEIRISTA APRENDIZ

Este diálogo aconteceu dia 2 de setembro deste ano entre um PRETENSO CINEASTA de quase 100 anos e um EMPRESÁRIO mais jovem : 75 anos. Foi no próprio escritório do empres´pario,de onde amplas janelas mostravam o Recife como uma vista aérea.
O papo começa com uma dope de uísque Johnnie Walker,garrafa azul.
PRETENSO CINEASTA:O problema então é o financiamento da repressão como está no roteiro ?:
EMPRESÁRIO :Também.
PRETENSO CINEASTA :Para o senhor isso existiu ou não ?
Nada como um Johnnie Walker garrafa azul pra aproximar as classes. O EMPRESÁRIO sai da sua cadeira dele para o sofá onde estou.
EMPRESÁRIO: Sabe,cineasta: tive muitos pesadelos com a foice e o martelo girando sem parar. Parecia que a foice vinha cortar a minha cab eça. Bem, fica claro : ou a cabeça dos guerrilheiros, ou a nossa.
PRETENSO CINEASTA : Como nós estamos conversando agora , fica claro e evidente que as cabeças dos empresários ficaram nos seus devidos pescoços.
O EMPRESÁRIO nem riu nem ficou sério. Preferiu entornar mais uísque no copo dele e no meu.
EMPRESÁRIO : Vocês não entendem que nós,empresários, não agimos como seres individuais. Só nas licitações,concorrências e competição entre empresas. Na verdade somos um coletivo : representamos a massa que detém os meios financeiros da nação.O que construimos com tanto trabalho ia sustentar quem não gosta de trabalhar.
PRETENSO CINEASTA : o senhor sabe que acabou de citar um conceito de Marx no volume 1 de “O Capital”? Os capitalistas são suportes do capital. Eventualmente, se dividem na concorrência.O senhor leu o Capital de Marx ?
EMPRESÁRIO : Nunca li. Só leio Carta Capital.
E baixou a voz e a cabeça como se fosse contar um segredo pornográfico.Mas só saiu mesmo a velha e infame piadinha.
EMPRESÁRIO : Prefiro as velhas comédias com Groucho Marx.
Tentou rir e beber em um só lance e se engasgou. Engasgo complicado. E eu tive que meter a mão nas costas dele para não sair preso como o homem que matou o empresário. Mas me arrependi de não ter um punhal ou até mesmo a nordestina peixeira para acabar DE VEZ com o sofrimento do homem que se engasgou com Johnnie Walker azul.
PRETENSO CINEASTA : E financiamento pro filme tá difícil ?
EMPRESÁRIO : Vou consultar o pessoal do clube. Mas tem também o problema do Delegado paulista. Meu amigo, você exagera : peruca loura, beijando mão de travesti, dançando ciranda com guerrilheiros.
PRETENSO CINEASTA : isso tudo aconteceu. Eu era reporter de jornal e apurei tudo isso.
EMPRESÁRIO : E foi publicado?
PRETENSO CINEASTA : Não.A censura não deixou.
EMPREESÁRIO : Você que é hoje um homem de cinema assistiu o caubói”O Homem ue Matou o Facínora”?
PRETENSO CINEASTA : Grande filme.Um classico de Johnn Ford.
EMPRESÁRIO : Pois acho que é esse John Ford que diz :entre a verdade e a lenda,imprima-se a lenda. Você nem a lenda conseguiu imprimir.
Me lembrei de uma amiga : “que con versa indigesta! Mete logo uma tijnolada na testa!” E não era John Ford ,o director, que dizia a frase. Era o ator que fazia o papel do dono de um jornal.
EMPRESÁRIO: O delegado paulista não agiu de forma tão violenta assim como está no seu roteiro.
PRETENSO CINEASTA : O senhor sabe que é a primeira pessoa que diz que o delegado Fleury não era violento ? O homem que matou tanta gente e foi responsável pelo suicídio do Frei Tito, por ele torturado e humilhado?
EMPRESÁRIO : Ninguém induz outro a suicídio.
PRETENSO CINEASTA: Fleury era ou não violento9?
EMPRESÁRIO : Digamos que ele usava a violência de forma adequada, justa e pertinente.
Agora , com licença, vou ter que sair : tenho um compromisso. Lembre-se : isso tudo foi em off. E uma coisa : por que você usa tanto off em seu filme ?
PRETENSO CINEASTA : O senhor leu o meu roteiro ? Leu aqui,leu em casa?
EMPRESÁRIO : Conmfesso que não li.Não tenho tempo. Mandei um assessor fazer isso. Ele me deu um resumo com os pontos destacados na nossa conversa.
Um almofadinha entrou e chamou o empresário,lembrando o compromisso. Ao mesmo tempo, me convidou a sair: a entrevista tinha terminado,a sala ia ser fechada O empresário desceu pelo elevador privativo. O assessor desceu comigo no outro. Ao se despedir , pôs, delicadamente, a mão sobre o meu ombro.
ASSESSOR : Seu roteiro é muito bom. É forte. Só precisa de uns ajustes.
PRETENSO CINEASTA: Off demais não é ?
ASSESSOR : Saquei certo ?
Sacoiu bem a sua arma, canalha. Eu não estava diante do Homem Que matou o Facínora. Mas do facínora que matou o homem.
E ele se afastou para entrar no carro onde já estava o EMPRESÁRIO. O carro passou por mim e ele, O ASSESSSOR, fez um cháu simpatico. Eis aí um colega de future nesta invcenção sem futuro que é o cinema: : aprendendo a fazer roteiro lendo os que chegavam nas mãos do seu patrão. Breve,breve teríamos um novo roteirista e cineasta. Concorrente forte, com seus quase 30 anos e amizades influentes. Faria um filme com a rapidez do Goidard dos anos 60.E eu há um ano tentando viabilizar um filme. Por que fui me envolver com uim tema que causa engasgos e pesadelos de foices cortando cabeças ?Abestelhado.

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