sexta-feira, 29 de julho de 2011

OTAN

Testemunho: Thierry Meyssan e o massacre de Sorman na Líbia
Desta vez, Thierry Meyssan não nos fornece uma análise fria das evoluções geopolíticas. Em vez disso, relata-nos fatos e acontecimentos que ele próprio testemunhou: a história do seu amigo, o engenheiro Khaled K. al-Hamedi. Uma história de horror e sangue onde a Otan encarna o retorno á barbárie.
Era uma festa de família líbia. Todos tinham vindo celebrar o terceiro aniversário do pequeno Al-Khweldy. Os avós, os irmãos e irmãs, primos e primas se apertavam para caber na propriedade familiar de Sorman, a 70 quilômetros a oeste da capital: um vasto parque no qual foram construídas pequenas casas de uns e de outros, casas sóbrias de estilo bangalô.

Nenhum luxo extravagante, mas a simplicidade das pessoas do deserto. Um ambiente agradável e de união. O avô, o marechal Al-Khweldy al-Hamedi, tinha em tempos uma criação de pássaros. Era um herói da Revolução e participara da queda da monarquia e da liberação do país da exploração colonial. Todos orgulham-se dele. O filho, Khaled al-Hamedi, presidente da IOPCR, uma das mais importantes associações humanitárias árabes, tinha ele próprio uma criação de veados. Cerca de três dezenas de crianças corriam de um lado para o outro no meio dos animais.

Preparava-se igualmente o casamento do seu irmão Mohammed, que tinha partido para a frente de batalha combater os mercenários estrangeiros contratados pela Otan. A cerimônia deveria ter-se passado aqui dentro de alguns dias. A sua noiva estava já radiante.

Ninguém tinha reparado que, no meio dos convidados, encontrava-se um espião infiltrado. Parecia estar a mandar twitters aos seus amigos. Na realidade, acabara de colocar marcadores pela propriedade e estava utilizando a rede social para conectá-los ao quartel general da Otan.

Na manhã seguinte, na noite de 19 para 20 de junho 2011, por volta das 2h30 da manhã, Khaled está de volta para casa depois de ter visitado e socorrido os seus compatriotas que fugiram dos bombardeamentos da Aliança. Está próximo de sua casa e consegue ouvir o sibilar dos mísseis bem como a sua posterior explosão.

A Otan atira oito deles, de 900 quilos cada um. O espião tinha colocado marcadores nas diferentes casas. Nos quartos das crianças. Os mísseis caíram com alguns segundos de intervalos. Os avós tiveram tempo de sair de sua casa antes de ser destruída. Já era tarde demais para salvar as crianças. Quando o último míssil caiu na casa deles, o marechal teve o reflexo de proteger sua esposa com o seu próprio corpo. Tinha acabado de sair pela porta quando foram projetados pela explosão por cerca de 15 metros. Sobreviveram.

Quando Khaled chegou, era tudo desolação. A sua esposa, que amava tanto, e o bebê por nascer desapareceram. Os seus filhos, pelos quais teria dado tudo, foram despedaçados pelas explosões e queda dos tetos.

As casas são agora só ruínas. Doze corpos destroçados jazem debaixo dos escombros. Veados foram atingidos pelos destroços e agora agonizam dentro das cercas.

Os vizinhos, que vieram em auxílio, procuram silenciosamente provas de vida nos escombros. No entanto não existe nenhuma esperança. As crianças não tinham qualquer hipótese de escapar dos mísseis. Extrai-se o cadáver de um bebê decapitado. O avô recita alguns versos do Corão. A sua voz é firme. Não chora, a dor é demasiado forte.

Em Bruxelas, os porta-vozes da Otan declararam ter sido bombardeado a sede de uma milícia pró-Kadafi com o objetivo de proteger a população civil do tirano que a reprime.

Ninguém sabe como a coisa fora planejada pela Comissão de alvos, nem como o Estado-Maior seguiu o desenrolar da operação. O Pacto Militar, os seus generais elegantes e os seus diplomatas pensadores decidiram assassinar crianças das famílias dos líderes líbios para desencorajar a sua resistência psicologicamente.

Desde o século 13, os teólogos e juristas europeus proíbem o assassinato de famílias. É um dos fundamentos da civilização cristã. Só a máfia poderia ultrapassar tal tabu absoluto. A máfia agora é a Otan.

No dia 1º de julho, quando 1,7 milhão de pessoas se manifestavam em Trípoli para defender o seu país contra a agressão estrangeira, Khaled foi para a frente de batalha socorrer refugiados e feridos. Franco-atiradores o esperavam. Tentaram abatê-lo. Foi atingido com gravidade, mas segundo os médicos ele não está em perigo de vida.

A Otan ainda não terminou o seu trabalho sujo.


Fonte: Rede Voltaire

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