sábado, 28 de abril de 2012

França

Marine Le Pen quer derrotar Sarkozy e liderar direita francesa O grande projeto da extrema-direita francesa é tornar-se o partido eixo de todas as direitas do país. O seu eleitorado é composto por camponeses, 29% de operários, 33% de pobres e jovens de origem popular. Em resumo, 70% dos eleitores frentistas são oriundos das classes populares, ou seja, o segmento mais golpeado pela crise e pela política de Sarkozy. Marine Le Pen vendeu a eles seu conto de se livrar dos estrangeiros e sair do euro. Agora, ela quer derrotar Sarkozy. Eduardo Febbro - De Paris Paris - Marine Le Pen está muito perto de realizar seu projeto: “fazer explodir o sistema político”. Ainda falta uma etapa, mas o que já tem muito próximo é a explosão da direita governante, o partido União por uma Maioria Popular (UMP), criado por Nicolas Sarkozy. Seu resultado no primeiro turno das eleições presidenciais do domingo, 17,90% dos votos, a colocaram como peça-chave no tabuleiro político francês. A guerra suja pela conquista de seus eleitores já começou. O presidente candidato Nicolas Sarkozy e François Hollande dependem hoje do que farão os 6.421.773 eleitores que optaram pela extrema-direita e os 3.275.349 que votaram no centrista François Bayrou. A quadratura do círculo são os eleitores da Frente Nacional. Marine Le Pen não deu nenhuma declaração de voto e o mais provável é que chame o voto em branco. A candidata frentista já está pensando nas eleições legislativas de junho com um enfoque baseado no mesmo objetivo adotado na disputa presidencial: contra os partidos majoritários, o Partido Socialista e a União por uma Maioria Popular de Nicolas Sarkozy. Ambos, diz essa advogada de 43 anos, são ramos da mesma enfermidade. O futuro político da França depende da versão mais obscena e indecente da ação política: xenófoba, negacionista, anti-semita, anti-muçulmana, anti-euro e uma longa lista de outros lamentáveis “anti”. Com os votos obtidos no primeiro turno a filha do fundador da ultradireitista Frente Nacional está também dando razão à estratégia do principal conselheiro de Nicolas Sarkozy, Patrick Buisson. Esse homem oriundo da extrema-direita luta pela união de todas as direitas para “regenerar a sociedade”. Marine Le Pen tem os meios de fazer voar em pedaços a plataforma da direita clássica, em cujo interior coabitam uma direita conservadora-liberal, uma direita “nacional” e uma direita social. Marine Le Pen instalou o que ela mesma chamou de “marinismo sem complexos”, ou seja, a aceitação da Frente Nacional como um partido a mais, sem a aura diabólica que acompanhou os anos em que seu pai fundou e dirigiu o partido. Os conservadores estão seguros de levar o segundo turno em maio. Juntos, o total dos votos da direita é majoritário: Sarkozy, mais Le Pen, mais Bayrou e Nicolas Dupont-Aignan somam 56%. Essa é a contabilidade otimista que faz a equipe do chefe de Estado. Os socialistas, com todas as forças de esquerda unidas com eles, chegam a 43,7%. No entanto, a transferência de votos entre os dois turnos não é automática em sua totalidade. 68% dos eleitores da Frente Nacional votariam em Sarkozy, 18% em Hollande e 22% se absteriam. Quanto aos centristas, um terço optaria por Hollande, outro terço por Sarkozy e um outro terço escolheria a abstenção. O problema está em que esses dados são variáveis: cada pesquisa oferece um cenário distinto da transferência de votos. As diferenças entre elas são abismais. Isso não muda o desafio: indiscutivelmente, é a extrema direita que administra o jogo. Sarkozy e Hollande tem dificuldades quase semelhantes: para ganhar, Sarkozy necessita conquistar duas categorias de eleitores opostas: os centristas e os ultra-direitistas. Em cinco anos de mandato, nunca conseguiu realizar essa síntese. Hollande precisa fazer o mesmo, ainda que com duas diferenças: em primeiro lugar, ele ganhou o primeiro turno no último domingo, o que constitui tanto um efeito positivo como uma vantagem; em segundo, os votos da Frente de Esquerda, de Jean-Luc Mélenchon, e da ecologista Eva Joly, estão em seu campo. Ambos os candidatos já abriram o voto para ele. Consciente dessa desvantagem, Sarkozy saiu para o ataque. Acusou os socialistas de ter pretendido “instalar” na presidência o ex-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional, Dominique Strauss-Kahn. Esse brilhante economista francês era o ultra-favorito das pesquisas, mas despencou no abismo por causa de dois escândalos sexuais consecutivos, um em Nova York, com uma empregada do hotel Sofitel, e outro na França, com uma história envolvendo prostitutas. O presidente candidato se dirigiu aos eleitores da Frente Nacional, “a França que sofre”. “Eu os escutei”, disse o mandatário. Não há dúvidas disso. Passou cinco anos na chefia do Estado flertando com os vapores da extrema-direita, atacando a Europa, os imigrantes, os muçulmanos, fazendo o papel de policial enojado, modificando de maneira perversa as leis sobre imigração, expulsando do país muitos estudantes de elite. Sarkozy fez o monstro crescer e agora precisa dele. A extrema-direita, cujo eleitorado é cambiante, esfrega as mãos. Loira e radiante, Marine Le Pen passeia com o troféu por todos os canais de televisão. A filha do negacionista Jean Marie Le Pen, aos 43 anos, superou o modelo paterno e se alçou ao patamar do inelutável. O eleitorado da extrema-direita é composto por camponeses iletrados, por 29% de operários, 33% de pobres e jovens de origem popular. Em resumo, 70% dos eleitores frentistas são oriundos das classes populares, ou seja, o segmento mais golpeado pela crise e, por conseguinte, pela política de Sarkozy. Marine Le Pen vendeu a eles seu conto de se livrar de 95% dos estrangeiros e sair do euro. Cerca de 25% da juventude acredita nela por suas propostas sobre a segurança, a expulsão dos imigrantes e a “preferência nacional”, ou seja, o trabalho, o seguro social e os demais benefícios são para os franceses. Laurent Bouvé, professor de Ciências Políticas e especialista nos temas relacionados à extrema-direita, assinalou ao jornal Libération o essencial das propostas de Marie Le Pen: “ela propõe soluções para a insegurança econômica e social, ataca a Europa e a globalização, defende que as mercadorias não passem as fronteiras e apresenta soluções para a insegurança cultural denunciando a imigração”. O grande projeto da extrema-direita é tornar-se o partido eixo de todas as direitas. “Esta vitória prova que os franceses aderem cada vez mais à Frente Nacional, em todos os temas”, disse Jean-Michel Dubois, tesoureiro da campanha da FN. Marine Le Pen reivindicou muito mais e não lhe falta razão. Em um dado momento, a FN impôs a Sarkozy os temas da campanha. Marine Le Pen se define como “o centro de gravidade”, a mulher que, segundo ela, obrigou Sarkozy a “falar dos esquecidos”, da carne halal (carne tratada segundo o rito muçulmano) e do perigo que representava para a França a visita de vários pregadores muçulmanos. Estes temas nada têm a ver com a economia, o desemprego, a crise, a educação ou a justiça, mas são os temas centrais da agenda da Frente Nacional. Desde que “Marine” assumiu as rédeas do partido de seu pai em janeiro de 2011, a líder frentista caminha com uma obsessão: acabar com a UMP de Sarkozy aproveitando sua derrota nas eleições presidenciais. “Nicolas Sarkozy não tem nenhuma possibilidade de ganhar. Ele sairá deixando um campo em ruínas”, disse a filha de Le Pen. De fato, a vitória de Hollande é uma peça dessa reconstrução da direita pela qual trabalha a extrema-direita. Os analistas convergem em um ponto: Marine Le Pen fará tudo o que está ao seu alcance para que Sarkozy saia derrotado. Tradução: Katarina Peixoto (Carta Maior) .

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