terça-feira, 24 de abril de 2012

Pensamentando

Borges, Camões, Drummond e o Universo em Crônicas por Rodrigo Della Santina em 23 de abr de 2012 às 20:15 Grandes autores da literatura mundial mais uma vez, por meio de suas obras, se encontram. jorge-luis-borges[1].jpg “Então ocorreu o que não posso esquecer nem comunicar. Ocorreu a união com a divindade, com o universo (não sei se estas palavras diferem). O êxtase não repete seus símbolos; há quem tenha visto Deus num resplendor, há que o tenha percebido numa espada ou nos círculos duma rosa. Eu vi uma Roda altíssima, que não estava diante de meus olhos, nem atrás, nem nos lados, mas em todas as partes, a um só tempo. Essa Roda estava feita de água, mas também de fogo, e era (embora se visse a borda) infinita. (...) Ali estavam as causas e os efeitos e me bastava ver essa Roda para entender tudo, interminavelmente. Oh, felicidade de entender, maior que a de imaginar ou que a de sentir! Vi o universo e vi os íntimos desígnios do universo. Vi as origens narradas pelo Livro do Comum. Vi as montanhas que surgiram da água, vi os primeiros homens com seu bordão, vi as tinalhas que se voltaram contra os homens, vi os cães que lhes desfizeram os rostos. Vi o deus sem face que há por trás dos deuses. Vi infinitos processos que formavam uma só felicidade e, entendendo tudo, consegui também entender a escrita do tigre”. (Fragmento do conto “A escrita do Deus”, de Jorge Luis Borges, que integra o volume “O Aleph”) 250px-Camões,_por_Fernão_Gomes[1].jpg “Não andam muito que no erguido cume Se acharam, onde um campo se esmaltava De esmeraldas, rubis, tais que presume A vista que divino chão pisava. Aqui um globo vêem no ar, que o lume Claríssimo por ele penetrava, De modo que o seu centro está evidente, Como a sua superfície, claramente. Qual a matéria seja não se enxerga, Mas enxerga-se bem que está composto De vários orbes, que a divina verga Compôs, e um centro a todos só tem posto. Volvendo, ora se abaxe, agora se erga, Nunca se ergue ou se abaxa, e um mesmo rosto Por toda a parte tem, e em toda a parte Começa e acaba, enfim, por divina arte, Uniforme, perfeito, em si sustido, Qual enfim o arquétipo que o criou. Vendo o Gama este globo, comovido De espanto e de desejo, ali ficou. Diz-lhe a Deusa: 'O transunto, reduzido Em pequeno volume, aqui te dou Do Mundo aos olhos teus, pera que vejas Por onde vás e irás e o que desejas. 'Vês aqui a grande Máquina do Mundo, Etérea e elemental, que fabricada Assi foi do Saber alto e profundo, Que é sem princípio e meta limitada. Quem cerca em derredor este rotundo Globo e sua superfície tão limada, É Deus; mas o que é Deus, ninguém o entende, Que a tanto o engenho humano não se estende'". (Estrofes 77, 78, 79 e 80 respectivamente do Canto X de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões) Drummond4[1].jpg “E como eu palmilhasse vagamente Uma estrada de Minas, pedregosa, E no fecho da tarde um sino rouco Se misturasse ao som de meus sapatos Que era pausado e seco; (...) A máquina do mundo se entreabriu Para quem de a romper já se esquivava (...) Abriu-se majestosa e circunspecta, Sem emitir um som que fosse impuro Nem um clarão maior que o tolerável Pelas pupilas gastas na inspeção Contínua e dolorosa do deserto, (...) As mais soberbas pontes e edifícios, O que nas oficinas se elabora, O que pensado foi e logo atinge Distância superior ao pensamento, Os recursos da terra dominados, E as paixões e s impulsos e os tormentos E tudo o que define o ser terrestre Ou se prolonga até nos animais E chega às plantas para se embeber No sono rancoroso dos minérios, Dá volta ao mundo e torna a se engolfar Na estranha ordem geométrica de tudo, E o absurdo original e seus enigmas, Suas verdades altas mais que tantos Monumentos erguidos à verdade; E a memória dos deuses, e o solene Sentimento de morte, que floresce No caule da existência mais gloriosa, Tudo se apresentou nesse relance E me chamou para seu reino augusto, Afinal submetido à vista humana”. (Fragmento de “A máquina do mundo”, de Carlos Drummond De Andrade) Universo[2].jpg rodrigosantina Artigo da autoria de Rodrigo Della Santina. Poeta, cronista e contista formado em Letras pela UNIMESP. Tem dois livros de poesia publicados sob os títulos “Intertrigem” e “O Limiar do Surto”.. Saiba como fazer parte da obvious. Leia mais: http://lounge.obviousmag.org/o_limiar_da_lucidez/2012/04/borges-camoes-drummond-e-o-universo.html#ixzz1sugzd1qW

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