segunda-feira, 16 de abril de 2012

Palestina

Ahmed Ben Bella (1918 – 2012)
Ahmed Ben Bella, um dos mais proeminentes líderes do processo de independência da Argélia e seu primeiro presidente eleito, era considerado, depois do assassinato de Muammar Kaddafi na Líbia, como o último líder de projeção internacional remanescente da “geração nasserista”, de militares e líderes civis nacionalistas no mundo árabe e muçulmano que lutaram pela independência e modernização de seus países logo antes, durante a depois da Segunda Guerra, e também durante a Guerra Fria. O artigo é de Flávio Aguiar.

Flávio Aguiar - De Berlim

Faleceu no dia 11 de abril Ahmed Ben Bella, um dos mais proeminentes líderes do processo de independência da Argélia e seu primeiro presidente eleito.
Ben Bella nasceu em 1918, na Argélia, filho de uma família muçulmana de ascendência marroquina. Na juventude foi um proeminente jogador de futebol. Alistou-se no exército francês e teve destacada atuação na luta contra o nazismo, tanto na França, como na África e na Itália, depois da capitulação daquela em 1940. Foi condecorado pelo presidente Charles De Gaulle ao fim da guerra.

Entretanto, no mesmo dia em que se comemorava a capitulação nazista (8 de maio de 1945) houve um levante da população da cidade argelina de Sétif. Os distúrbios começaram quando tropas francesas tentaram impedir que, na multidão que festejava o fim da guerra, se erguessem cartazes contra a dominação colonial, e atiraram sobre ela. Na seqüência revoltosos começaram a atacar propriedades francesas na região, o que resultou em 103 mortos entre os europeus ou seus colaboradores. A retaliação pelas tropas francesas, usando forças da Legião Estrangeira e senegalesas, foi brutal. Dados oficiais falam em 1.500 mortos, com execuções sumárias, mas outras fontes se referem a mais de 10 mil.

De todo modo, isso marcou o afastamento de Ben Bella não só do exército francês, como da política francesa como um todo, e sua adesão à luta pela independência de seu país. Na década de 50 tornou-se uma das figuras mais proeminentes da Frente de Libertação Nacional. Foi preso, mas escapando da prisão atuou sobretudo no exterior, a partir do Cairo. Escapou de vários atentados contra ele, organizados pelo serviço secreto ou pelo exército da França. Acabou sendo novamente preso pelos franceses, mas foi levado para a França, onde ficou “guardado”, como possível “moeda de troca” numa negociação com os movimentos de libertação. Acabiu retornando a seu país, foi indicado como primeiro-ministro e elegeu-se presidente em 1963, ano da independência e do reconhecimento internacional da Argélia.

A partir daí tornou-se conhecido por sua inclinação à esquerda, tendo promovido a reforma agrária em seu país e instituído formas de auto-gestão nas fazendas expropriadas aos franceses. Dizia que o líder egípcio Gamal Abdel Nasser era seu “mestre”, e aproximou-se de líderes como Fidel Castro (a quem chamava de “irmão) e Josef Broz Tito.

Entretanto as disputas internas com antigos aliados, como o general Houari Boumedienne, desgastaram sua base de apoio, e ele acabou derrubado num golpe de estado liderado pelo último, em 1965. Foi colocado em prisão domiciliar até 1980, quando asilou-se na Suíça. Dez anos depois, em 1990, obteve permissão para voltar a seu país.

Permaneceu uma figura atuante no plano internacional, conhecido por sua militância anti-imperialista e pan-africana, tendo participado de organizações que buscavam promover a democracia e a paz. Notabilizou-se também por sua atuação contra a invasão Iraque em 2003, quando da derrubada de Saddam Hussein. Em 2004 compareceu à 4ª. edição do Fórum Social Mundial em Mumbai, na Índia, tornando-se daí por diante uma referência do movimento alter-mundista.

Ahmed Ben Bella era considerado, depois do assassinato de Muammar Kaddafi na Líbia, como o último líder de projeção internacional remanescente da “geração nasserista”, de militares e líderes civis nacionalistas no mundo árabe e muçulmano que lutaram pela independência e modernização de seus países logo antes, durante a depois da Segunda Guerra, e também durante a Guerra Fria. Foi condecorado e considerado “herói da União Soviética”.
Sua morte é, sem dúvida, uma perda para a luta anti-imperialista no mundo inteiro.
(Carta Maior)

Nenhum comentário:

Postar um comentário