quinta-feira, 18 de abril de 2013

Arte

O que Edward Hopper, Merleau-Ponty e a Arte têm em comum?
em Arte por Carolina Rodrigues
É por meio dos sentidos, de uma forma indivisa, que o sujeito entra em contato com o mundo exterior. Merleau-Ponty, filósofo francês, diria que através do olhar questionamos primeiramente as coisas, mas que devemos ver o corpo como um sistema aberto.

Na Arte, por exemplo, os sentidos são trabalhados de modo integrado. O artista e o espectador experimentam de forma simples como se dá a compreensão destas manifestações sensíveis.

Mas como uma obra de arte nos permite este exercício perceptivo?

Se pensarmos nos órgãos sensitivos como parte indivisível de um sistema constituído de mente e corpo, veremos que o espectador, no momento de apreciação, incorpora-se à própria obra. Percebe-se que não se pode dissociar a forma de sua significação, como se esta fosse exteriorizada. Ela se complementa através dos outros sentidos, de como a percebo e me comporto diante dela. Dessa forma, perceber a arte é desvelar o segredo dos sentidos da própria realidade.

Esta conexão do espectador com o objeto artístico faz com que a arte, ainda que reproduza o mundo a sua semelhança, não seja a explicitação de um ser prévio, a concepção de uma pré-existência, mas sim, a fundamentação do ser.

Na pintura e fotografia, apesar da referência à coisa natural, o artista não cria o mundo tal como ele é. Ele transfigura a arte numa coisa em si. A partir do momento da criação, a obra se desrealiza, do contrário, seria apenas o retrato da vacuidade de um objeto qualquer. O artista delineia suas ideias antes mesmo do momento que antecede a criação, o que não significa que isso ocorra num plano abstrato e à parte do campo sensível.

.

Se deve haver sentido na arte, este deve ser explicitado e entendido tanto na obra como na intenção do artista, pois é pelo corpo que ele desenvolve os elementos criativos.

Ao observarmos os trabalhos do artista plástico estadunidense Edward Hopper, percebemos facilmente, sem que haja explicações para tal, as reticências da solidão, o silêncio quase ensurdecedor e a inércia de uma sociedade moderna que ele mesmo presenciou. O próprio artista dialoga com a sua obra. Dessa forma, ainda que houvesse uma intenção de assumir a arte como objeto que não reage às impressões físicas, não seria possível.

A interação do nosso corpo com o mundo é o ponto de partida para as percepções fenomenológicas na arte. Pois as manifestações precisam ser vistas e sentidas para que nós possamos apreendê-las tais como elas são.



Como diz Merleau-Ponty, a Arte, a Filosofia e a Fenomenologia não existem para explicar a realidade, mas para nos fazer compreender o mundo como ele é constituído e todas as suas manifestações.

Apreciar uma obra de arte nos reconduz à reflexão do olhar comum que se desenrola na vida cotidiana. Ela salta através dos sentidos sobre o invisível, desejando clarear a essência da própria vida.

Este é o grande desafio e angústia do artista, da arte e do espectador: saber-se que a subjetividade humana não pode permanecer numa alienação de si mesma.



carolinarodrigues
Artigo da autoria de Carolina Rodrigues.
Carolina Rodrigues estuda Filosofia, mas sabe que está no curso errado. Fala sobre Artes com a mesma autoridade de quem pintou o céu de Monet, pois o segredo é parecer convincente.
Saiba como fazer parte da obvious.

Nenhum comentário:

Postar um comentário