domingo, 21 de abril de 2013

Jack Kerouac

Rimbaud - Jack Kerouac
em literatura por Guilherme Ziggy em 12 de mar de 2013 às 18:45 | 2 comentários

Se Jack Kerouac não tivesse literalmente "se matado de beber" em 1969, hoje ele completaria 91 anos. O líder da Beat Generation viveu os excessos e escreveu sobre eles como ninguém mais conseguiu desde então. Para celebrar sua memória, nada melhor que um de seus poemas mais célebres e profundos. "Rimbaud" de 1960.



Arthur!
On t’appela pas Jean!
Nascido em 1854 praguejando em Charle-
ville abrindo portanto caminho para
o abominável assassinato
de Ardennes –
Não se admira que seu pai tenha partido!
Então aos 8 anos você entrou pra escola
– Pequeno Grande Latinista, quem diria!
Em outubro de 1869
Rimbaud está escrevendo poesia
em greco-francês –
Sem passagem

foge de trem pra Paris,
o miraculoso guarda-freios mexicano
o joga pra fora do trem
veloz, pro Céu, onde
ele não mais viaja porque o
Céu está em todo lugar –
Apesar de tudo as bichas velhas
intervêm –
Rimbaud sem mais Rimbaud
treina na verdejante Guarda
Nacional, orgulhoso, marchando
na poeira com seus heróis –
desejando ardentemente ser violentado,
sonhando com a Garota definitiva.
– Cidades são bombardeadas enquanto
ele olha & olha & chupa
seu lábio degenerado & olha
com olhos cinzentos para a
França Sitiada –

André Gill foi o precursor
de André Gide –
Longas caminhadas lendo poemas
entre os Montes de Feno de Genet –
O Voyant nasceu,
o vidente enlouquecido faz seu
primeiro Manifesto
dá cores às vogais
& às consoantes curiosos cuidados,
fica sujeito à influência
de velhas Bichas Francesas
que o acusam de constipação
do cérebro e diarreia
da boca –
Verlaine o convoca pra Paris
com menos aprumo do que quando
expulsou garotas pra
Abissínia –
“Merde!”, grita Rimbaud
nos salões de Verlaine –
Fofocam em Paris – a mulher de Verlaine
está com ciúmes de um garoto
que não sossega o rabo em canto algum
– Amor manda dinheiro de Bruxelas
– Mamãe Rimbaud odeia
a impertinência de Madame
Verlaine – Por essa época já se suspeita que o
Degenerado Arthur seja
um poeta –
Uivando no porão
Rimbaud escreve Uma estação no inferno,
Sua mãe estremece –
Verlaine manda dinheiro & tiros
Pra Rimbaud –
Rimbaud vai à polícia
& apresenta sua inocência
como a inocência pálida
de seu divino e feminino Jesus
– Pobre Verlaine, 2 anos
no xadrez, mas poderia
ter levado uma faca no coração

– Iluminatións! Stuttgart!
Estudo de línguas!
A pé Rimbaud viaja
& olha através dos passos
alpinos para a Itália, procurando
trevos da sorte, coelhos
Reinos Encantados & a sua
frente nada menos que o velho
Canalleto e a morte do sol
sobre velhos casarões venezianos
– Rimbaud estuda línguas
– ouve a respeito dos Alleghanes,
do Brooklyn, das últimas
Pragas Americanas –
A irmã que mais amava morre –
Viena! Ele olha pras confeitarias
& acaricia velhos cachorros! Assim espero!
Esse gato muito louco se alista
no Exército Holandês
& viaja pra Java de navio
comandando moscas
à meia-noite
na proa, sozinho,
ninguém ouve seu Comando
a não ser o brilho dos peixes
no mar – Agosto não é
época de se ficar em Java –
Visando o Egito, ele é mais uma vez
preso na Itália por isso volta
pra casa pra poltrona profunda
mas em seguida vai
de novo pra Chipre pra
dirigir um bando de tra-
balhadores numa pedreira –
com o que se parece esse Último
Rimbaud? – Poeira de pedras
& costas negras & picaretas &
gente tossindo, o sonho surge
na mente africana do francês, –
Inválidos dos Trópicos são sempre
amados – O Mar Vermelho
em junho, os tremores na costa
da Arábia – Harar,
Harar, o mágico entreposto
de comércio – Aden, Aden,
Sul de Bedouin –
Ogaden, Ogaden, jamais
conhecido – (Nesse tempo
Verlaine está sentado em frente a cognacs
em Paris imaginando
com o que o Arthur se parece agora &
como estão desoladas suas sobrancelhas
porque eles acreditavam
na beleza juvenil das sobrancelhas –
Quem se interessa? Que espécie de
Franceses são esses? Rimbaud, bata em
minha cabeça com aquela pedra!
Um Rimbaud sério compõe
artigos elegantes & eruditos
para Sociedades Geográficas
Nacionais & depois das guerras
comanda Harari a Garota
(Ha Ha!) de volta
a Abissínia, & ela
era jovem, tinha olhos
negros, lábios grossos, cabelo
encaracolado, & seios de
um marrom polido com
bicos de bronze & pequenas
pulseiras em seus braços &
juntava suas mãos sobre o ventre &
tinha os ombros tão largos quanto
os de Arthur & orelhas pequenas
– Uma garota de alguma
casta, em Bronzeville –

Rimbaud também conheceu
Polinésias esguias
com longos cabelos revolvidos
& seios pequenos & pés grandes

Finalmente ele começa
a contrabandear armas
em Tajoura
viajando em caravanas, louco,
com um cinturão de ouro
amarrado na cintura –
Ludibriado pelo Rei Menelik!
O Xá de Shoa!
Os ruídos desses nomes
na mente ruidosa
de um francês!

Cairo para o verão,
vento amargo de limão
& beijos no parque empoeirado
onde garotas sentam de
pernas cruzadas
– ao entardecer pensando
em nada –

Harar! Harar!
Levado de maca para Zeyla
lamentando o dia
em que nasceu – o barco
retorna ao castelo de giz
Marseille mais triste que
o tempo, que o sonho,
mais triste que a água
– Carcinoma, Rimbaud
é devorado pela doença
de viver demais – Amputaram
sua linda perna –
Ele morre nos braços
de Isabelle
sua irmã
& antes de subir ao Céu
manda seus francos
para Djami, Djami
o garoto Harari
seu servo fiel
8 anos no Inferno
Africano do Francês
& tudo resulta
em nada, como

Dostoiévski, Beethoven
ou Da Vinci –
Portanto, poetas, descansem um pouco
& calem-se:
Nada jamais surgiu
do nada.

1960
Jack Kerouac

guilhermeziggy
Artigo da autoria de Guilherme Ziggy.
Guilherme, 19. Ariano, poeta, roteirista, beberrão, mal-humorado, intelectual de botequim & solteirão solitário. Faço dos males a diversão e do sofrimento a desculpa pra poder escrever poesia. .
Saiba como fazer parte da obvious.

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