quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Adolescência

A eterna adolescência de Daniel Filho Por José Geraldo Couto Universo jovem com problemas sociais contemporâneos, “Confissões de Adolescente” converte-se em entretenimento inteligente, algo raro na produção brasileira Por Jose Geraldo Couto, no blog do IMS A adolescência é uma época de descobertas, trapalhadas, crises de identidade e de autoconfiança, medos medonhos, euforias ferozes. No centro de tudo, claro, está o sexo, com seus mistérios e desafios: primeiro beijo, primeiro amor, primeira menstruação (ou primeira ejaculação), primeira transa e, não raro, primeira gravidez. Por tudo isso, é um período da vida altamente cinematográfico, podendo gerar desde dramas memoráveis como Houve uma vez no verão até um besteirol idiota como American pie. topo-posts-margem No Brasil não são muito frequentes os bons filmes destinados ao público adolescente. Nos últimos anos houve As melhores coisas do mundo (2010), de Laís Bodanzky, e Antes que o mundo acabe (2009), de Ana Luiza Azevedo, e uns poucos outros. É esse terreno relativamente pouco explorado que Confissões de adolescente vem ocupar, buscando reencontrar o êxito da peça de Maria Mariana encenada em 1992 e da série de TV exibida em 1994 sob direção de Daniel Filho. No longa-metragem, o acerto fundamental dos diretores Daniel Filho e Cris D’Amato foi adaptar a trama aos novos tempos, preservando, entretanto, os personagens, a estrutura dramática e o tom carinhoso do original. Classe média e internet Logo a primeira cena já dá o contexto social e geográfico em que os personagens se movem. O pai advogado (Cássio Gabus Mendes) convoca as quatro filhas e comunica que, para cortar despesas, eles terão de se mudar do espaçoso apartamento em que moram num condomínio da zona sul carioca. Os apertos da classe média agravados pelo encarecimento do Rio de Janeiro às vésperas da Copa e das Olimpíadas. Mais concreto impossível. Igualmente concretos são os problemas de cada uma das meninas, da mais jovem (Clara Tiezzi), de 14 anos, à mais velha (Sophia Abrahão), que já está na faculdade. Cobre-se assim todo o espectro da adolescência. Outra astúcia dos realizadores foi incorporar o mundo da internet e da comunicação virtual não apenas à trama, mas à própria textura do filme, com a inserção de janelas e links na tela – recurso que já havia sido usado, é verdade, em outros longas, como Meu tio matou um cara (2004), de Jorge Furtado, e o já citado Antes que o mundo acabe. Assim como nesses exemplos, o procedimento aqui não é novidadeiro ou fetichista, mas está integrado organicamente à narrativa. Humor visual Por fim, há que saudar a leveza da encenação e o caráter essencialmente cinematográfico de Confissões, algo que pode soar óbvio mas não é, nestes tempos de dramaturgia televisiva e cacoetes correlatos. O humor do filme é predominantemente visual, produzindo momentos memoráveis, como o da menstruação inesperada de uma das meninas na praia, ou o da primeira trepada de Alice (Malu Rodrigues) e Marcelo (Christian Monassa), povoada pelas imagens dos pais e amigos dos dois jovens amantes. Se há um ponto fraco em Confissões, a meu ver, é o personagem da gostosona Talita (Tammy Di Calafiori), “a garota mais popular da escola”: aqui o filme resvala para o maniqueísmo, pagando tributo às comedinhas e telesséries teen americanas que infestam nossas telas. No mais é o que se pode chamar de entretenimento honesto, coisa rara em nossa produção, cindida em geral entre filmes autorais que pouca gente vê e sucessos de bilheteria que não respeitam a inteligência e a sensibilidade do público. Em tempo: Deborah Secco, revelada ao encarnar uma das irmãs na série de TV, aparece aqui no divertido papel da mãe de um garoto da turma (João Fernandes, ele próprio um tremendo comediante), e Maria Mariana, autora da peça e atriz da série, faz uma ponta como a advogada que submete a mais velha das irmãs a uma entrevista de emprego. (Outras Palavras)

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