segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Volúpia

grupellos de volúpia p/ Bijari Eu queria todos eles juntos. Mas cautelosa, tinha que agir com o rabo da ponta dos dedos e precisava de uns milagres, em forma de calafrios – eram amigos do meu macho. E havia um caso de pacto entre homens de libido frouxa correndo solta: eram sócios na firma de publicidade, mas não no amor. Eu precisava de um caldeirão de oxigênio e minha tarefa era pegá-los todos juntos, mas teria primeiro que seduzí-los um a um e depois convencê-los a ficarem juntos comigo. Eu queria uma desagregação, uma experiência imersiva, uma destruição parcial da fortaleza que representavam. Nunca houver mulher que interrompeu-lhes o fluxo de amizade e negócios. Mas eu era a insandecida que sempre gostou de causar desordens e fugir em seguida. Eu a cópula excusa, eu a fuga. Era isso que estava em meus planos. Queria sumir. Antes disso, foder com os dez garanhões, uns por cima dos outros, uns por debaixo dos outros, mas definitivamente todos dentro de mim. Nem dúvida nem erro. Primeiro construí um projeto de vídeo, precisava de cada uma de suas especialidades. A filmagem, a edição, o som, a animação, o clip, a capa, o desenho, a mordida, a gravação, a esfregação. Todos tinham que ver o vídeo, suas especialidades delicadamente pensadas por cada veia do meu corpo. Sabia também, que não adiantaria eu posar de femme fatale ou de atriz pornô, pelo simples fato que trabalhavam com mulheres bonitas o tempo todo, modelos, cantoras, atrizes… O meu diferencial teria que ser algo que eles não tivessem tão acostumados, e que os pegassem pela ternura e pela intimidação. Queria que eles sentissem como menininhos intimidados pelo tamanho da bunda da tia quando ela arranca a saia e mostra o bikini branco que trazia para quando parassem na praia. Aqueles olhos de conquistador cossaco que tirava o óculos redondo para poder ver o terreno que gostaria de conquistar no dia seguinte. Queria a fragilidade de uma pica ereta na praia, uma pica que se sentisse para sempre pequena diante das minhas ancas. Era minha única chance, mostrar que minha bunda, meu rego, a curva da entrada da minha barriga eram muito mais fálicas do que os dez pintinhos juntos, os dez que passavam o dia em um galinheiro de telas brilhantes, ciscando, enredados na trama que tinham que forjar de desejo e consumo das marcas dos celulares, da coca cola, da grife da moda e muito mais. Eu era a anti-pop por excelência, a que estava deliciosamente excitada com aquele ativismo competente e publicitário, panfletário pra caralho e que fazia 36 cm de sentido. Senti que era má: maquiavélica, maligna, mal criada, maledicente, mal informada, masculina e maculada. Mas os queria mesmo assim, desde o mais baixinho até o mais grandão, todos com seu circuito particular, articulados, fazendo festas de bar, de boate, colocando imagens em dez projetores de uma só vez, bebendo champanhe enquanto mostravam polícia batendo povo pobre e sombras desconhecidas atirando granadas. Paradoxo me excitava, me deixava louca e perplexa com os movimentos do próprio desejo próprio. Destituindo, dissolvendo, fazendo derreter todo meu desejo , como se seus corpos fossem uma máquina de magia mais do que uma máquina sexual. Como se eles tocasse um lugar que eu não estivesse habituada a parar,. Isso é a love confession, voces eram o guarda de trânsito que pára o trânsito. Interrompe. Cada coisa que voces faziam poderia ser incluída no meu cotidiano. Homens que dissolvem o meu desejo e criam o desejo de fazer meu desejo se dissolver em torvelinhas. Eram completamente desejáveis, mas perto deles eu era arrebatado por uma outra instância que se eles partissem ficaria atônita, preciso de doses de voces, e cabe muita dose, mas muita dose me faz mal, fico sã e salva. Uma sanidade que me impede de gozar. Voces são um entrave para que eu goze. Isso não é suficiente, tenho que gozar em algum lugar, eles faziam meu desejo entrar nas minhas entranhas, como uma gastrite, como uma úlcera. É quase como se uma espécie de anátema. Eram heteros meio anti-heteros. Quero ser lésbica com voces, mas nem começar a lhes tocar eu poderia. Só uma dose de voces, mais me mataria,. Voces me sufocam e mobilizam minhas reações políticas,. Fico ativo, interventora, tenho ganas de encarar o cárcere para libertar os presos e berrar com elas as quatro da manhã na saída da colméia – soltas, soltas, potras sem dono, cavalas, um pasto sem brete. Minha prisão de ventre, minha atrofia intestinal, tua diarréia. Voces são o que considero um anti corpo sexual, porque lhes tocar seria perder a magia de uma promessa que fica na arcada superior dos meus dentes tortos, horizontes tímidos e mal-educados. No teu lugar para todas as coisas, o que você faz com a volúpia? Pensei lisérgica, pensei na arte picante do mar com salitre, invoquei aquelas bruxas queimadas – me ajudem, vassourinhas, me ajudem a dar pros dez, me ajudem que é isso que meus pentelhos negões querem. Elas me ouviram do centro das fogueiras torpes e fizeram meu umbigo ter cheiro de condão. Eu consegui a simultaneidade que eu queria, dez maurícios, dez belos geandres e cabelos Araújos misturados com Eduzais, dez bate-estacas fincadas na minha finca. Obrigada meu santo augostinho. Quer saber como foi tudo? Pão, champagne Tenutta Santa. Um gordo que nem queria o poder de nossas máquinas enchendo o saco para que acabasse o noise no bar. Aquele bobão, nem soube que provocou nossa saída para o bar mais baixo e próximo da Avenida Augusta, o desfile das putas. De saída falei: faço uma concessão: sou a curadora. Eles todos estavam escalados, mas as mulheres eu elegeria por puro poder de cura. Queria a franzina, a maluca que faz cinema e gosta de inventar moda, a bonitinha das artes plásticas, alguma medusa, algum ouriço. Sonho? Dos dez sobrou 16 e fomos para um motel levando mais duas putas que desfilaram na Glória no desfile da DASPU, o Mauricio Lazzaratto, o gordo do bar de Llançà, a Pascale que faz performance e uma toda bonitinha que pinta, esculpe, escapa e tem nome de fada. Todos os dezesseis de pele branca, com mãos de pelica feitas para se dar, de ventre solto. O filme tinha ativado: tinha pré-filmado seis picas de tamanhos diferentes e meu dildo negro, retinto, todas em pequenos movimentos de fluxo e contenção. Película e cutícula, as glandes hirtas em minha língua, é que eu era a rainha do encontro – haviam as outras mulheres, mas eu centrava, sentava, arrebitava, arfava, torcia a roupa ensaboada. Eu era discreta, um diadema na cabeça, ancas pequenas, troncuda, cheia de desabafos na hora do coito. Eu tinha os dez e mais seis e só não veio o garçon junto porque era tímido demais para adentrar o clima da revolução instaurado nas beiradas de cada esquina da cama, da piscina de água quente e da cachoeira artificial, das beiras das conas e dos cús e das beiras dos paus eretos mais abertos do que nunca. Tive vontade de dizer-lhes que tudo era um sonho, que nada importunaria a sinapse do próximo dia, mas calei minha volúpia visionária com a boca enfiada no pau do cabelo. Mas não era sonho, era só uma frieira de excessos, os termômetros requentados; era só meu desejo agachado de achatar o que está redondo – perfurar. No meio daquela noite ereta, elétrica e etérea eu perdi a conta de quantos bijarildos balançavam em meus quadris. Ela sempre fora desexaminada, leoa de chácara, vira-lata, taquílala e secreta debaixo de longas saias coloridas que arrastavam até o chão. Mordi os dentes a noite toda que eu era uma velha brasileira. Minhas unhas não tem forma de pelicano, bebo champagne, balanço os pés. No dia seguinte, como se tivéssemos ribossomos em forma de 4 mil famílias, ocupamos em volúpia incandescente uma fábrica de tecelagem abandonada na rua Prestes Maia. por fabi borges e hilan bensusan (Esquizotrans)

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