quinta-feira, 17 de março de 2011

Humor

O SITE ESTÁ DE VOLTA!
E não está feliz... quer dizer, mais ou menos...
Diz aí: ainda há razão para se fazer um site? Um blog? Um Tumbrl? Um Fckr? Um freak? Alguém lê? Alguém liga? Dá liga? Dá pé? Não, não dá. Eu sei. Mas escrever é acreditar com fervor que alguém liga um cazzo pro que você diz e pensa. Ou pro que diz sem pensar. Ou pro que pensa e não diz. Tanto faz, ninguém lê mesmo. Mas ainda assim eu resisto e insisto. Então vamos lá pro ano 9 (Ano nove! Dá pra acreditar?) do espetacular Site do Aran. Veja o que você perdeu enquanto o site estava de férias.

• Janeiro deslizou por nós, arrastado pela enxurrada de lama. As autoridades ergueram o punho aos céus e amaldiçoaram o destino cruel e insano. Depois foram pra casa tomar uma caipirinha e esquecer a desgraceira. A televisão, doidinha por uma boa calamidade, se dedicou a fazer o público chorar. “Dona Emengarda, a senhora perdeu a casa, quatro filhos, três sobrinhos, o marido, a mãe, a avó, o avô e o cachorro. E aí, muita emoção?” Explicar porque cazzo existe casa em lugar que desliza, que é bom, ninguém explica. A imprensa foi atrás. Fez 3.217 títulos “A Tragédia das Chuvas”. Depois todo mundo reclama que ninguém mais lê jornal.

• Mas aí chegou fevereiro e a gente mudou de assunto. Chuva é chato. Melhor deixar os barracões pendurados no morro e pedindo socorro à cidade a seus pés. Ano que vem, se sobrar barracão e cidade a seus pés, a gente volta ao tema.

• Enquanto isso, a gloriosa ilustríssima dona Dilma Rousseff tomava posse num momento histórico lindo, cheio de charme e beleza. Dilmão não é o Lula-lá, mas dá pro gasto. A petalhada populista insiste em chamá-la de “presidenta”, como se isso fosse “suficienta” para torná-la “simpatiquenta”. Não funciona, “evidentementa”. Lula só tem um (toc! toc! toc!) e vai fazer falta. Nunca mais churrasco e cachaça na Casa da Dinda. Nunca mais torneio de flatulência depois da feijoada do sábado. Nunca mais festa caipira com ministros manguaçados. Nunca mais metáforas pitorescas e cheias de sabedoria (“Governar é que nem namorar mulher boa: todo mundo quer enfiar o pau!”). O Brasil pós-Lula não será o mesmo e este site lamenta a ausência do seu muso inspirador.

• Veio março e o baticum carnavalesco tomou conta das ruas e cidades. A Desunião da Ilha Neo-Liberal saiu com o enredo “Um é pouco, dois é bom, três é demais: as fissuras políticas internas e o declínio da oposição”. Mas quebrou o carro abre-alas logo na entrada do Sambódromo, a comissão de frente saiu no braço e a escola está esperando até hoje para desfilar. Olha, fica de fora que é melhor.

• E aí, quando o mundo se preparava para entrar nos eixos e começar a trabalhar, teve terremoto no Japão. Logo o Japão que é pisoteado dia sim e outro também pelo Godzilla E todos os humoristas ruins do Brasil fizeram piada com Godzilla, piorando ainda mais uma situação já horrorosa pela própria natureza.

• Bem vindo a 2011, eventual leitor internauta. É o ano do coelho no horóscopo chinês e ele já está atrasado, está atrasado. Entre no buraco por sua conta e risco. (Falar a verdade, não tem outro jeito de entrar em buraco mesmo...)

GUIMARÃES ROSA E O "VIM"
Escritor fez crítica de vinho no sertão
Antes de ficar famoso como um esteta da linguagem, João Guimarães Rosa aventurou-se pela enologia, assinando a coluna “Vim” no jornal “A Tocha de Codisburgo”, sua terra natal. As opiniões polêmicas de Rosa sobre os vinhos produzidos na região sempre geraram réplicas e tréplicas furiosas. Agora a editora Zora & Yonara reúne os escritos enológicos de Guimarães Rosa no livro “Vim”, lançado este mês. O Site do Aran publica uma das colunas, assim como a réplica de um produtor local e a resposta do escritor.


NONADA DE TERROIR
Por João Guimarães Rosa

Nonada. Sabor desse cabernet sauvignon Conde de Curvelo nonada não. O senhor ri certas risadas. Causa que o senhor não entende que vinho precisa ter terroir. É diferente. Mire, veja: sertão não é Toleima, Terras Altas. Sertão é onde os pastos carecem de fecho. Vinho daqui é diferente do vinho dos Campos Gerais. Diferente. Terroir influencia gosto do vinho, sim senhor. Terra agreste, vinho seco, adstringente, que pega na língua. Tanino fica bem marcado. O cabernet sauvignon Conde de Curvelo devia de ser isso. Mas é? Não é. O vinho devia combinar bem com carne de caça, coelho ou cabrito. Com carne branca de galinha, carece não. Mas não combina, filho. Combina não. Nesse sol do sertão, sabor fica amargo, parece vinagre. Pior é que temperatura mais fresca não abranda o sabor, não senhor. Compadre meu Quelemém tomou e reprovou. Falta corpo. Falta sabor. A gente sabe, espia, fica gasturado. Bem, mas o senhor dirá, vale a pena comprar? Vale não, vale não. Vinho ruim. Serve nem pra cozinhar galinha d’angola na panela de pressão. Que bosta, credencruz.


A RÉPLICA
Senhor Guimarães,
Eu faço vinho. Planto uva, amasso, envelheço, engarrafo. Cabernet sauvignon Conde de Curvelo é o nome do vinho. E vem o senhor querer consertar o concertado. Não tem tanino? O senhor é que não tem tutano! Senhor entende nada de vinho não! O senhor muda essa crítica de vinho agora ou pego hoje mesmo o trem em Sete-Lagoas e vou aí resolver a desavença com senhor e seu compadre Quelemém. Sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Vamos relar faca com faca. O senhor sabe o perigo que é viver. Não diga que não avisei.
Coronel Adalvino, Curvelo, Sertão das Gerais
A TRÉPLICA
Senhor coronel Adalvino,
Dessareia da braveza, homem de deus! O senhor pronunceia essas coisas, mas é da boca pra fora. Não tem terroir e não tem tanino, o vinho do senhor. Digo e repito. E me desgosta. Compadre meu Quelemém fez jantar pros amigos. Assou capivara. Abriu seu cabernet sauvignon. Todo mundo reclamou. Se vier com guerra em mim, saiba o senhor é que é na boca no trabuco. Compadre meu Quelemém e eu estamos todos ajagunçados pra defender nosso ponto de vista. Mas seu vinho é novo. Quem sabe melhore na safra do ano que vem.
Guimarães Rosa




• (O Site do Aran)

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