sexta-feira, 4 de março de 2011

Poesia

Poema

Isto é o meu grito de desespero,
que a voz rouca despede entre os lábios vacilantes,
quando o olhar não vê mais porque soçobrou nas lágrimas.

Isto é o meu grito de desespero
pelas palavras enganosas, pelos caminhos imperfeitos,
pelas inverídicas luzes
que antes de mim deixaram sobre a terra
multidões e multidões.

Isto é o meu grito de desespero,
porque não há passagem, pelas criaturas,
para o meu pensamento inconciliável.
Isto é o meu grito de desespero,
porque eu vim para convivas preclaros
trazendo tudo que em mim cultivei
como um jardim para descanso no meio do mundo.

Isto é o meu grito de desespero,
caído quase como de sol.

Aqui o sentido das bençãos falece.

O coração muda-se em águia ou montanha.

E o sonho é de indiferença ou de carnificina.

Cecília Meireles
(1901-1964)
(Poemblog)

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