domingo, 27 de janeiro de 2013

Futebol e política

Apóllo Nátali – Política no futebol – Operação Salva-Palmeiras!
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O ex-presidente Mustafá Contursi se mostrou contrário ao projeto de eleições diretas no clube.

Por Apóllo Nátali, especial para sua coluna no QTMD?

Time indefinido e em crise, o Palmeiras corre o risco de sofrer sérias humilhações diante de fortes adversários nas disputas do campeonato paulista, brasileiro da 2.a divisão, Copa Libertadores e Copa do Brasil. Uma punhado de preocupados torcedores do site Palmeiras Todo Dia montou o dossiê Operação Salva-Palmeiras, uma enxurrada de notícias sobre o clube colhidas na imprensa desde o final da década de 1990 até agora. O dossiê expõe uma seqüência de trapalhadas dos dirigentes e sinais de corrupção no decorrer das várias administrações.”O Palmeiras é um barco à deriva”, disse o novo presidente do clube, Paulo Nobre.

Dizem os palmeirenses preocupados: “O que se deseja é que, independente de quem ou qual grupo venha a vencer as próximas eleições, que se restaure a moralidade nas ações inerentes ao futebol da Sociedade Esportiva Palmeiras e que essa nova direção consiga resgatar a dignidade, devolvendo o Palmeiras ao lugar de onde nunca deveria ter saído, que é o caminho e a conquista de títulos”.

Uma casa italiana com certeza é onde ninguém se entende, todos brigam, ninguém tem razão e nem é por falta de pão. Assim parece o Palmeiras. De família italiana e torcedor do Palmeiras imponente há 77 anos, entendo do assunto. A uma semana de entregar o cargo de presidente dessa casa, seu então titular, Arnaldo Tirone, disse no programa Mesa Redonda da TV Gazeta que o Palmeiras precisava criar um departamento de psiquiatria. O que será que ele quis dizer com isso? Durante sua gestão ele se envolveu em episódio de troca de tapas com um conselheiro. Nesse dia, dizem, voaram cadeiras naquela turbulenta casa italiana.



 A moçada palmeirense do Fórum Palmeiras Todo Dia mostra-se saudosa do brilho do time em gramados espanhóis ao conquistar por três vezes o famoso troféu Ramon de Carranza. Primeiro clube brasileiro a conquistar esse torneio em 1969, venceu o Real Madrid na ocasião. Nas duas outras venceu mais uma vez o Real Madrid e o Barcelona de Cruyff, em 1974. Comemoram ainda os torcedores a homenagem de “Time do Século” conferida pela Fifa ao Palmeiras, tal a quantidade de titulos conquistados. O Palmeiras foi o único no mundo a enfrentar de igual para igual, e com memoráveis vitórias, o invencível time do Santos de Pelé e companhia. Ganhou uma Libertadores e foi vice-mundial porque o técnico Luis Felipe Scolari insistiu em manter Evair no banco, escalando um Asprila desmotivado. Há meio século, o Palmeiras conquistava o primeiro verdadeiro mundial de clubes, com a participação das seis mais poderosas equipes do planeta..



 Este pouco espaço permite a citação apenas em forma de pílulas do espólio de desatinos legado por sucessivas diretorias palmeirenses, narrados em pormenores, com nomes e sobrenomes dos atores e as datas dos imbróglios, nas 56 páginas do Operação Salva-Palmeiras. Vamos às pílulas.

Privatização do Palmeiras – criação sigilosa, em 1988, sem aval do Conselho Deliberativo, da empresa Palmeiras Ltda. Algumas publicações dizem Palmeiras S/A. Como gerente-delegado da empresa, Mustafá Contursi, assumia poder pessoal de representar a sociedade ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente, transigir, renunciar, desistir, firmar compromissos, confessar dívidas, fazer acordos, contrair obrigações, celebrar contratos, outorgar mandatos, adquirir, alienar e onerar bens, decidir quais torneios o time disputaria, bem como aumentar seu salário. Um ditador? Uma CPI vasculhou seus bens. Em seu quarto mandato, Contursi dizia não ao sistema de clube-empresa.



 A premiação de 1978 – no meio das brigas e desentendimentos por questão de premiação no campeonato brasileiro, a sentença salomônica de Contursi aos jogadores: se não quiserem jogar, não entrem em campo.

O maior drible sofrido – há 10 anos a direção do clube desprezou a disputa do primeiro mundial de clubes na Espanha, cedendo a vaga ao Vasco. O torneio acabou sendo cancelado.



 Mas que futebol!!! – após a primeira queda para a 2ª.divisão do campeonato brasileiro, em 2002, Contursi declarou que o futebol seria a terceira prioridade do clube no ano seguinte. Primeiro, as finanças, depois o patrimônio.

Caso Ruhmel – o Palmeiras não ganhava nada no contrato de 10 anos com a Rhumel para fornecimento de material. Contursi teria ligações com a empresa, que só existia no exterior, não tinha endereço no Brasil. Reeleito, Contursi usou a marca Reebok, cujos produtos são feitos pela Rhumell, que teve sigilo quebrado pela Justiça. Veio a Diadora na disputa da 2ª. Divisão. Depois, a relação do presidente Luiz Gonzaga Beluzzo com a Adidas precisou ser apurada.



 A farra dos empresários – influência de empresários nas negociações de atletas relacionados às categorias de base. Denúncias de pagamento de comissões, interferência direta em escalações. Empresários dominam divisões de base do Palmeiras.

O esquema São Caetano – vários jogadores do São Caetano, do ABC paulista, caiam de paraquedas no Parque Antártica. Outros que vieram de locais diferentes tinha direitos econômicos no Azulão, como é chamado o São Caetano. Gordas comissões para empresários. Arnaldo Tirone não quis revelar o valor da comissão paga ao empresário na contratação do atacante Luan.



 Censura no Palestra – Estatuto do Palmeiras, bloqueado pela Justiça, oficializa a censura no clube e dá à diretoria poderes para expulsar os sócios que fizerem críticas à administração. Uma moça corintiana, sócia do Palmeiras, vendo TV, comemorou em pleno glorioso Parque Antártica um gol do arqui-rival SCCP (palmeirense que se preze não escreve o nome do Corintians por extenso, segundo alguns da cúpula palmeirense que chamam esse time com uma expressão meio mafiosa: maledeto). A sócia corintiana foi expulsa. O então presidente Mustafá Contursi também suspendeu dois sócios ligados à facção Muda Palmeiras, que trajavam camisa da oposição. Naquela casa não se admite “falta de palestrinidade”, como disseram.



 Denuncias de fraudes – Ministério Público investiga suspeita de esquema de notas frias.Testemunhas falam em compra de dólares e árbitros.Aberto procedimentos criminal e cível para apurar suposta prática de enriquecimento ilícito e superfaturamento por parte de dirigentes. Eram 16 os suspeitos de enriquecer ilegalmente. O primeiro caso de enriquecimento ilícito envolvendo notas fiscais aconteceu no SCCP, arqui-rival palmeirense.

Suborno a fiscais da Receita – relatório do Palmeiras aponta que verba de 300 mil reais desviada pode ter virado suborno a fiscais da Receita Federal. Os fiscais foram pessoalmente no clube cobrar impostos atrasados, época em que Luiz Gonzaga Beluzzo era presidente mas estava internado em hospital.



 A devassa no clube – Inquérito na 23ª delegacia de policia de São Paulo promove devassa na vida do Palmeiras entre o inicio dos anos 2000 e 2010. Os investigadores farejam desvio de dinheiro, envolvimento de cartolas com empresários e sonegação fiscal, além de outras suspeitas. Um contrato de seguro teria sido pago a uma empresa que trabalha com eletrodomésticos, indicio de uso de notas frias.

Arena Palestra – Contursi reprova a construção do novo estádio e pragueja: “tomara que a obra pare”. Uma arena moderna caiu dos céus no colo do Palmeiras, pois a construtora WTorre entrega o novo paraíso de graça ao clube, que terá participação nos lucros durante os 30 anos em que a construtora vai explorar os negócios lá. E não é que as obras foram paralisadas? Foi por indefinição do presidente Arnaldo Tirone em assinar o contrato por questões de aprovação do seguro da empreitada. As obras do estádio inteiro também atrasaram por indefinição do local da construção da sauna.



 Corte de gastos – em sua política de contenção de gastos, Arnaldo Tirone faz economia de uma diária em hotel ao proibir a nutricionista Alessandra Favano de se concentrar com o elenco nas vésperas dos jogos.

Amistosos na Espanha – a diretoria bloqueia o retorno do Palmeiras aos gramados do futebol europeu ao cancelar amistosos que o time faria na Espanha no fim de março. Segundo os dirigentes o cancelamento não foi por motivos financeiros e sim por falta de “congruência”. Segundo J.F.Caldas Aulete, dicionário português editado há mais de 100 anos em Lisboa, congruência é o mesmo que conveniência.

Programa Avanti – o presidente Arnaldo Tirone interrompeu e demorou um ano para relançar o programa Avanti, lançado por Beluzzo em 2009, com o objetivo de angariar sócios. A “modificação profunda” exigida pelo presidente Tirone era verificar o direito de voto dos sócios.



 O Centro de Treinamento – o Palmeiras desperdiçou 27 milhões de reais ao engavetar projeto de construir um centro de treinamento para categorias de base em São Roque, em terreno de 65 mil metros quadrados doado pela prefeitura, financiado exclusivamente com dinheiro público. O clube não se animou a levantar o dinheiro com empresas públicas interessadas.

Valdívia – para ter esse jogador problemático de volta, o Palmeiras fez um crediário e paga 157% de juros até 2015. O investimento, que era de 14 milhões de reais, deve atingir 36 milhões de reais por conta de juros e correção.

Bagunça administrativa – o sócio que consumir algo nas dependências do clube não vai identificar a Sociedade Esportiva Palmeiras no recibo do produto emitido por máquinas da Redecard. Um provável erro administrativo no Palmeiras faz com que tais máquinas emitam recibo com o nome do gerente financeiro do clube, Marcos Bagatella.

Briguinhas, briguinhas- uma crise que vinha se arrastando entre o vice de futebol Roberto Frizzo explodiu quando o técnico Luis Felipe Scolari se irritou ao saber que problemas trabalhistas emperravam a troca de Ricardo Bueno por Pierre e que o Atlético Mineiro não pagaria pelo empréstimo do volante. Descobriu pelo lado mineiro que o acordo costurado por ele havia sido ignorado pela diretoria alviverde, que aceitara a transferência gratuita. “Se o senhor fez isso mesmo, eu vou pedir demissão”, disse o treinador para o presidente, de acordo com seus aliados. Scolari explodiu quando Frizzo assumiu a autoria da negociação.

Piadinhas, piadinhas – Felipão criticara supostas piadinhas sobre contratações por parte dos cartolas, dizendo que isso afastava reforços para o time. Ele queria bons jogadores no “episódio dos camarões”, e Frizzo disse que “é uma bobeira. Não tem nada a ver”. Em entrevista coletiva, o técnico disse que é papel dos dirigentes virem a público para avisar a torcida que falta dinheiro nos cofres do clube.



 Piadinhas japonesas: – Um erro no sistema do Avanti, o programa de sócio-torcedor relançado pelo Palmeiras, selecionou o Japão como país no preenchimento do cadastro para o programa. O torcedor vê abrir como opções de estados para escolha, os arquivos “Alex Muntaronakombi” e “Carlos Takacaranomuro”, ironizando irresponsavelmente a colônia japonesa.

Picaretagem – para os confrontos das finais da Copa Brasil a diretoria de Arnaldo Tirone praticou a venda casada de ingressos, isto é, quem não fosse da Avanti, programa de sócio-torcedor, não conseguiria ingressos. O Palmeiras esperava cerca de 10 mil associações para

Mostrou que apenas 12.240 ingressos foram vendidos antecipadamente pelo Avanti, o que significa que 16.317 ingressos foram vendidos de outra forma, não pelas bilheterias. Disse a diretoria: “Vendemos os ingressos para conselheiros, diretores, patrocinadores. Também aproveitamos a oportunidade para fazer relacionamento, vendendo para possíveis futuros parceiros”.liberar a venda de 3 ingressos por associado. O borderô da CBF.

A praia de Tirone – o presidente do Palmeiras vai à praia no Rio de Janeiro um dia depois da queda do time pela segunda vez para a 2ª. divisão. Disse que era para “tirar o estresse”.

Homenagem cancelada – o presidente do Palmeiras se atrasou para a festa do brasileirão em que o time seria homenageado e nem enviou representante, numa cerimônia em que todas as divisões do campeonato nacional receberam suas taças. Tirone disse que não foi avisado da homenagem.

Golpe contra as diretas – o ex-presidente Mustafá Contursi se mostrou contrário ao projeto de eleições diretas com a participação dos sócios, aprovadas finalmente para funcionarem a partir de 2014. Para ele, a discussão foi usada por alguns para retomarem o poder político no Verdão. A intenção de Contursi era deixar o presidente do clube apenas na parte social, sem poder de decisão num setor que reúne 16 milhões de torcedores.

*Apollo Natali é jornalista, formado aos 71 anos, depois de 4 décadas atuando na imprensa. É colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Desabafos de um ancião”.





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