quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Preconceito


Adolescente Roberta Baêta, militante política e ateía, se suicidou por ser vítima de ódio religioso contra ateus
em artes e ideias por Marcelo Vinicius
Roberta Baeta, 17 anos, cometeu suicídio dia 28 de dezembro de 2012. A fonte da noticia foi uma nota em site e página da TV Lafaiete, que gerou muita polêmica entre alguns amigos e conhecidos da jovem, na rede social, o Facebook, mas, apesar de algumas manifestações, até agora a notícia foi ignorada pela mídia.No dia 28 de dezembro 2012, por volta das 19h30, uma jovem morena colocou uma corda no pescoço e se matou. Órfã de pai, Roberta Baêta tinha 17 anos. Segundo informações, supostamente ela era tida como bipolar, entretanto não se tem até agora nenhuma notícia ou fato que permita concluir isso com toda certeza. Morava em Conselheiro Lafaiete - Minas Gerais.

De acordo com A Liga Humanista Secular do Brasil, Roberta Baêta era uma garota que se matou depois de fazer inúmeras reclamações pelo fato de sofrer preconceito, especialmente dentro de casa, por ser ateia. Essa notícia demorou tempo para ficar conhecida no Facebook e até agora foi ignorada pela mídia, salvas algumas exceções como os sites de notícias e organizações sobre ateísmo e alguns blogs.

Alguns meses antes do incidente, Roberta reportava que tinha brigas constantes com a mãe pelo fato dela ser ateia e até que foi ameaçada de ser expulsa de casa. Mas a pressão que ela sentia não era só dentro de casa, pois a mesma relatava ter sofrido preconceito fora dela também. Juntando tudo isso, percebemos que a frase do Padre, supostamente com o qual a mãe da Roberta se orientava, apesar de brutalmente hipócrita, é pura verdade: “a tragédia já estava anunciada”.

O preconceito contra o ateísmo entra em pauta na discussão pública por causa disso? Sim. Por mais que uma pessoa acredite que o ateísmo seja errado, o comportamento da mãe narrado nas imagens abaixo não era justificável. Mesmo que a garota não tivesse morrido, isso é um absurdo. Este caso mostra o quanto o ódio e a intolerância contidos no coração de muitas pessoas pode deixá-las cegas.

Não estou dizendo que tudo aconteceu por causa das brigas com a mãe. Longe disso. Acredito que tais brigas sejam reprováveis por si só, independente das consequências. Afinal de contas, quem gostaria de ter que passar pelo que ela passou? Será que a tortura é o castigo que todo ateu deve sofrer em vida? Onde ficam o respeito à dignidade humana, a compreensão e a sabedoria, virtudes que o cristianismo reivindica com tanta exclusividade? Cristãos adoram dizer que são vítimas de preconceito por aí, até cunharam o termo "cristianofobia", mas são capazes de dispensar um tratamento desse aos próprios filhos e até mesmo de apoiar uma mãe que age assim.

Outro exemplo é dado pela TV Lafaiete, da cidade onde ela morava, que publicou uma nota dizendo que a garota passava por uma fase. Ora quanta cegueira e quanta ignorância! Não era uma fase, mas (ao que tudo indica) uma doença. Uma hora a tratava como uma débil mental que só era ateia porque estava na puberdade e que eventualmente superaria isso, mas na outra hora já estava fazendo declarações no Facebook nem um pouco condizentes com tal postura.

A Liga Humanista Secular do Brasil coloca uma nota dizendo: "mas sejamos justos: nota-se como a mãe parecia estar em um conflito terrível também. Não quero colocá-la como vilã aqui, inclusive tive a séria impressão de que ela era só mais uma vítima. Cuidava de duas filhas sozinha e a julgar pelas constantes orações pedindo ajuda, tinha uma vida muito difícil. Sua fidelidade a Deus chegou a fazê-la considerar muito seriamente a hipótese de expulsar a filha de casa e até mesmo a preferir que a filha se prostituísse. Pobre alma, com a cabeça entre a cruz e a espada, sendo torturada por um dilema tão cruel quanto desnecessário. Imaginem o que não deve ter se passado na cabeça desta mulher nos últimos meses? A dúvida atordoante entre quem merece mais amor a consumindo por dentro, salpicada com uma vida de dificuldades. Sobre a expulsão de casa, prevaleceu o amor que tinha pela família. Mas infelizmente parece ter sido pouco".

O perfil no Facebook de Roberta continuava disponível, mas alguém deletou as postagens e as fotos. Até agora não se tem mais nenhum notícia consistente sobre, porém amigos de rede social de Roberta conseguiram tirar cópia de alguns textos e fotos um pouco antes de serem deletados e com eles criaram uma página a homenagem à jovem.

Em um dos textos, Roberta reclamava da rejeição que vinha sofrendo por ser ateia. “Estou cansada de gente que simplesmente me exclui de suas vidas ao saber que sou ateia, sem conhecer o meu caráter”, escreveu. Um dos amigos, no Facebook, disse que adolescente ateia se suicidou por ser vítima de ódio religioso contra ateus.

A página da OAB - Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos no Facebook está dando destaque à mensagem e prestando suas condolências: “Prestamos nossas condolências a Roberta Baêta, adolescente de 17 anos que cometeu suicídio no dia 28 de Dezembro. Ela era Atéia e teve problemas familiares com relação a suas ideologias. Esse é um problema da sociedade e não pode ser tolerado. Intolerância destrói famílias, não suas ideologias. Esperamos que seus pensamentos sempre continuem vivos entre todos e seu desejo de um país melhor".

Relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), mostra que um milhão de pessoas por ano se suicidam, uma quantidade maior que o total de vítimas de guerras e homicídios. A OMS destacou que as taxas de suicídio mais elevadas são a dos países do leste da Europa, como Lituânia ou Rússia, enquanto as mais baixas se situam na América Central e do Sul, em países como Peru, México, Brasil ou Colômbia.

"O suicídio é uma das grandes causas de morte no mundo e durante os últimos anos, sua taxa aumentou em 60% em alguns países", acrescentou OMS. O suicídio é a segunda causa de morte no mundo entre os adolescentes de 15 a 19 anos, mas também alcança taxas elevadas entre pessoas mais velhas.

Os suicidas geralmente dão “avisos” de que pretendem se matar, o que pode ser entendido como pedidos de ajuda, de socorro. No caso de Roberta, além de postagens no Facebook, ela deu avisos explícitos nas vezes em que teria tentado pôr fim a sua vida, embora agora, a posteriori, fique fácil dizer isso.

Outra nota curiosa, mas que também não se sabe a consistência da informação, é de que num texto transcrito por Roberta, diz sobre a americana Elizabeth Murad que conta como uma menina idealista de uma família religiosa decidiu se tornar freira e, anos depois, assumiu a descrença.

Elizabeth ressaltou um episódio que a marcou na adolescência, quando sua mãe, embora frequentadora das missas dominicais, elogiou os ateus pela possibilidade de serem bons sem contar com uma recompensa dos céus. Talvez Roberta tivesse a expectativa de obter esse tipo de compreensão.

Nota complementar:

Segue o endereço da página no Facebook que os amigos de Roberta fizeram para ela: http://www.facebook.com/robertabaetahomenagem

Na tal página, os amigos descrevem:

Garota de 17 anos, militante ateia e política assumida publicamente, que cometeu suicídio em 28 de Dezembro de 2012. Estamos mostrando aqui que ela sofria perseguições, pressões e ameaças de expulsão de casa etc.

Na página tem um print de um parente que diz que ela sofria de transtorno bipolar e já havia tentado suicídio antes com remédios. Se enforcou, mais ou menos, às 19:30h, com uma corda no pescoço. Temos as postagens/conversas dela no Facebook até as 17h.

Temos as postagens onde ela relata as expulsões de casa e diz que o motivo era por conta de suas atitudes de desrespeito a "Deus". Temos a notícia que a Tv Lafayete publicou sobre a morte dela e temos o mais importante: as idéias dela “printadas” e salvas aqui. Vamos postar aos poucos.
 Artigo da autoria de Marcelo Vinicius.
Escritor e agitador cultural. Estudante de Psicologia. Faz parte do projeto de pesquisa e extensão sobre cinema e produção de subjetividade (Sala de Cinema) e do projeto de pesquisa em Psicologia Social na Universidade Estadual de Feira de Santana - UEFS..
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