terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Felicidade

Essa tal felicidadeem 27 de jul de 2012 às 13:
em geral por Jaya Hari Das

Qual o objetivo da vida humana? Alguém sabe? A resposta pode variar bastante, segundo a crença de quem tentar responder, mas isso só significa que ninguém, mas "ninguém mesmo", sabe ao certo a resposta. No entanto, a mais improvável, porém a mais aceita, por ser a mais consoladora de todas, é de que nós estamos neste mundo para ser felizes! Uma falácia, obviamente, diante dos muitos que já partiram tão ou mais infelizes do que aqui chegaram, e dos que ainda sofrem nesse "mundo de meu Deus".



A teoria de que "o Universo conspira para realizar a felicidade do ser humano" é uma falácia. Apesar de extremamente "otimista", não passa de uma falácia. A Filosofia tem sua parcela de culpa nessa história – ela inculcou no homem (desde os antigos gregos) a ideia falaciosa de que ele "existe para ser feliz" (a mãe de todas as falácias). A Religião (coitadinha!), percebendo a dificuldade (leia-se: "impossibilidade") do homem ser feliz aqui na Terra, inventou extra-mundos, nos quais a tal "Felicidade" estaria de braços abertos (lembra o Cristo Redentor, não é?), esperando por seu ilustres convidados, onde haveria moradas para todos ("os escolhidos", é claro). Vemos, hoje em dia, a Ciência (olhem, vejam só quem!!!), que luta, há séculos, com a Filosofia e a Religião, pelo monopólio da "Verdade", prometendo viagens para outros planetas, outras galáxias, e sabe Deus lá para onde mais, lugares inóspitos, nos quais, incontestavelmente, a "Dona Felicidade" deve morar.

O que vem a ser isso – a Felicidade? (tão kantiano isso, não?). Alguma coisa que, como num jogo de "esconde-acha" criado por Deus, uns têm a sorte de encontrá-la, enquanto outros, a maioria (e põe maioria nisso!!!), jamais sequer passam por perto (sabem aquele negócio do "tá frio, muito muito frio, congelado", sabem?)?; seria mesmo uma mercadoria existencial que só o dinheiro pode comprar, mas que o comprador não pode levar consigo, só pode ir usando, usando, até morrer?; seria uma espécie de prêmio de consolação pelos esforços envidados numa existência que,  não importa quão virtuosa tenha sido, se extingue com uma bala perdida, na ponta de uma faca de um marginal, por uma doença fatal ou pela velhice inexorável? Alguém tem resposta? Ei, alguém aí tem uma só resposta qualquer?

Diz um ditado que "vida boa é a dos outros". Então, vamos perguntar aos outros: "Ei, meu amigo, diga lá, sua vida é mesmo boa? Você é feliz?". Só os grandes mentirosos responderão "SIM!" a estas perguntas (ah, só, não! tem ainda os "iludidos de carteirinha" e os "otimistas graças a Deus"). Sabem aquela coisa do dia-a-dia? Você pergunta: "E aí, Fulano, comé que tá?". Aí ele responde, sem nem pestanejar: "Tudo bem!". Podem crer que quem responde assim não faz nem ideia do que sejam essas duas palavrinhas que acabou de pronunciar: "tudo" e "bem" (como eu sei que muitos de vocês respondem assim, sigam meu conselho e, ao invés de "Tudo bem!", vão respondendo aí "Tá dando pra levar!"; vocês vão ver que não muda nada, mas faz toda a diferença, se é que dá pra me entender, pô!). O fato é que "Felicidade", felicidade mesmo, é que nem a "morte" – quem alcançou não veio dizer como é que é.

Agora, falando sério. O que a humanidade aprendeu até aqui que lhe possa ser útil para alcançar a tão sonhada "Felicidade"? Nós somos melhores que os homens das cavernas? Ou nossa barbárie tem apenas requintes de pós-modernidade? A Filosofia de Sócrates, Platão e, principalmente, Aristóteles (que impregnou boa parte do pensamento e do conhecimento ocidental todos esses séculos) nos ofereceu alguma via eficaz para a conquista da "filosófica e virtuosa felicidade" tematizada por eles? ou todo o nosso conhecimento e raciocínio lógico herdados só nos fornecem maneiras "inteligentíssimas" de nos desculparmos por nossa incompetência em melhorar a qualidade do ser humano e as condições de vida sobre este planeta?

As religiões, individualmente ou em seu conjunto, nos forneceram até agora alguma coisa efetiva, real e concreta, que possa dar testemunho de que o homem e a vida sobre a Terra são de fato "o projeto magnânimo de felicidade" de um Deus (ou deuses) perfeito, bom e justo? Ou só encontrou maneiras de empregar padres pedófilos, profetas de um fim-de-mundo que nunca chega, místicos prestidigitadores e pastores corretores de moradias celestiais, das quais não se tem sequer a planta?

A Ciência, além de clonar ovelhas, fertilizar casais estéreis, proporcionar a escolha do sexo dos filhos, produzir bombas de extermínio em massa, etc e etc, foi até o atual momento da humanidade capaz de destrinchar o "genoma da felicidade", para o bem dos homens em geral? Ou apenas vive "afirmando isto" e "desmentindo aquilo", para depois de alguns anos "desmentir isto" e "afirmar aquilo"? A despeito dessas verdades aqui elencadas, a busca pela "ultra-utópica felicidade" não tem fim. O "otimismo" se renova a cada dia, a cada nova infinitesimal possibilidade de alcançar o até aqui inalcançável.

Vivemos um momento em que livros rotulados de "auto-ajuda", que são uma mistura de Prozac, droga psicodélica e "injeção de ânimo", para os que não sabem como seguir a jornada "em busca da felicidade", se misturam nas prateleiras das livrarias, mundo afora, aos "bons livros", que não foram escritos para ajudar ninguém, mas são como boas sementes que, caindo em solo fértil, se tornam árvores frutíferas da melhor qualidade; mas quem há de comer seus frutos, se o primeiro e principal deles – a maçã do "Paraíso Perdido" (tão miltoniano isso, não?) causou todo esse estrago no mundo? (Eu, hein!!!).

"Enquanto a Dona Felicidade não vem", vivemos a era do espetáculo, da busca frenética pelos famosos "15 minutos de fama", do showbizz, do mundo da "espiadinha" e da baixaria dos BBBs, Casas dos Artistas e Fazendas. Vivemos o apogeu da nossa mediocridade e ignorância. Felicidade que seja "Felicidade" mesmo, isto é, felicidade que se preza, não ia nem dar as caras por aqui, não é mesmo?





Filosófo, professor de Filosofia, Inglês e Redação; músico, poeta e escritor.


jayadas
Artigo da autoria de Jaya Hari Das.
"Escrevo sobre coisas que me parecem interessantes, para que a leitura seja interessante. Escrevo exatamente como penso. Mas, se me perguntarem de onde vêm esses pensamentos, não saberei dizê-lo.".
Saiba como fazer parte da obvious.

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