''Anonymous'' leva a revolta à rede
O grupo ciberativista desafia as grandes corporações internacionais que começaram a fechar a torneira da ajuda financeira ao WikiLeaks.
A reportagem é de Joseba Elola, publicada no jornal El País, 19-12-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O encontro foi marcado via mensagem encriptada. No centro de um parque londrino, às 11h. Foi o dia em que Assange pensou que estava livre por algumas horas, momentos antes de que a promotoria britânica recorresse à decisão de extraditá-lo.
Enquanto o editor australiano passava pelo seu calvário particular em uma prisão vitoriana, a rede se movimentava por ele. Um exército que chega a cerca de 9 mil ciberativistas – segundo vários membros que o integram, mil segundo outros estudos – lançava uma espetacular ofensiva, a Operação "Payback", operação Vingança, contra todas as grandes empresas que cortaram o financiamento ao WikiLeaks: Amazon, Paypal, Visa, Mastercard. Também contra a página da promotoria sueca, que conseguiram derrubar sem grandes dificuldades.
Chamam-se "Anonymous". Lideram a ciber-revolta. Dois jovens foram detidos em Amsterdã. A polícia britânica abriu uma investigação no Reino Unido.
No centro do parque, Philter se aproxima. É uma estudante de 19 anos, alta, elegante, extremadamente educada. "Não sou porta-voz de ninguém, porque nós não temos porta-vozes", é o primeiro que ela esclarece.
Philter começou no Anonymous como muitas pessoas em Londres: no Chanology, um canal em que desenvolveram a sua luta contra a Igreja da Cientologia, um dos primeiros objetivos que uniu esses ativistas da rede em 2008.
Na quarta-feira, 7 de dezembro, horas depois de Julian Assange ter entrado na prisão de Wandsworth, Philter começou a se mobilizar. "Eu tinha que fazer, estava preocupada com Assange". Ela diz que não participou diretamente nos ataques às empresas, mas viu sim como são realizados. Não dormiu toda a noite. As mensagens viajavam entre os membros dessa rede, que se comunica utilizando fóruns como o 4chan e debatem que ações empreender. As pessoas se pronunciam, e as ações vão tomando forma de modo coletivo.
Nem todos os membros do Anonymous participam diretamente dos chamados DDos, os ataques distribuídos de denegação de serviço. Ataques que consistem em mandar simultaneamente milhares de pedidos a um servidor para que ele entre em colapso. Muitos participam da mobilização na Internet ou nas ruas. Ou buscam informação de práticas fraudulentas e a expõem na rede. Esse é o caso de Jill, chef de 26 anos, que está há dois anos no Anonymous. Sua tarefa é conseguir documentos de laboratórios que vendem aos idosos a idéia da conservação crônica. "São casos evidentes de má prática médica, casos de abuso de cadáver", diz. "Estão extorquindo idosos". Jill se dedica a enviar a informação que obtém dessas clínicas a políticos e meios de comunicação. "Não sou um hacker".
Igreja da Cientologia
Hamster tem 25 anos e é técnico em informática. Também se uniu ao Anonymous para lutar contra a Igreja da Cientologia. "Eu era membro dessa igreja", afirma. "Obtive informação de dentro. E continuo mantendo contatos". Na semana passada, apoiou as construções de sites-espelho, corredores que permitem acessar uma página como a do WikiLeaks apesar de terem sido fechadas. Já existem 2 mil páginas-espelho. "Movimentamo-nos por pequenas unidades de pessoas", diz.
Philter conta que existem duas facções agora no Anonymous. Uma que defende a continuidade dos ataques a sites como Mastercard e Visa; e outra que pensa que é melhor difundir os documentos que não receberam cobertura midiática suficiente: é a chamada Operação "Leakspin". "Sempre existem facções no Anonymous, ele se subdivide muito facilmente", explica. "Mas compartilhamos idéias e valores".
Embora evite situar esse movimento no espectro político, Philter diz que, basicamente, todos são firmes defensores da liberdade de expressão. Compartilham o que chamam de chancultura, isto é, a cultura que se gesta no fórum 4chan, um dos caminhos pelos quais trocam idéias. "Pensamos que é fundamental que as pessoas tenham a informação correta na qual basear as suas decisões: é algo fundamental para a democracia".
Gabriella Coleman, professora da Universidade de Nova York e estudiosa do fenômeno Anonymous, declarava ao The Guardian que o movimento está mais estruturado do que pensam seus próprios integrantes. São cerca de mil os membros que põem seus computadores ao serviço de ataques coordenados. Mas há uma dezena de membros muito qualificados que coordenam os ataques.
Para ler mais:
• A política depois do WikiLeaks
• Guerrilha virtual amadora abre nova era na rede
• ‘Esta é a 1ª guerra na web’, diz hacker pró-Assange
• WikiLeaks ou a vingança do mundo vigiado
• O Wikileaks, a mídia e o novo jornalismo
• (Inst. Humanitas Unisinos)
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