quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Argentina

O Almirante Massera, sedutor, de sorriso cínico, do pior do machismo portenho, exibicionista, galã de faca no cinto. Uma máquina de assassinar dentro de outro aparelho de matar como foi a ditadura do Processo de Reorganização Nacional, que tomou o poder em 24 de março de 1976.

A política econômica era do imperialismo e de seus sócios locais. O plano sistemático de extermínio, com fins de impor a disciplina socialprecisava das Forças Armadas, abençoadas pela Igreja Católica e pela cumplicidade de dirigentes do peronismo, do radicalismo, do socialismo “democrático” e do comunismo. Assim se dividiram as tarefas.

ESMA, a mais cruel criação do Almirante, era um campo de concentração e extermínio por onde passaram cerca de cinco mil detentos. Foi onde Massera, aliás, Negro, Coara ou Zero, ensangüentou suas mãos dentro do modelo da mafiosa lei naval pela qual todos os oficiais deviam participar da repressão: “Aqui todos põem a mão, todos se comprometem. Assim ninguém fala” pregava. Os locais onde marinheiros ainda em atividade se formaram cometendo delitos de Lesa Humanidade por três gerações foram: as primeiras Mães da Praça de Maio, jogadas vivas no rio; a tortura e o desaparecimento dos filhos e o roubo dos netos bebes.

Uma parte das depravações da ESMA tinha a ver que ele havia imaginado ser o novo Perón. Então, com o terror, tentou a transformação de alguns montoneros [i] em quadros próprios e começou a criticar aspectos do “liberalismo” de José Martinez de Hoz e a resgatar partes do desenvolvimentismo. Além disto, reunia-se com dirigentes empresariais e sindicais, tramava com a Logia P-2[ii] efalava com social-democratas europeus para ganhar-se seu apoio. Por isso nomeou o seu partido, fundado em 83, Partido da Social Democracia.

Negro, empossado como membro acadêmico do Instituto de Ciências Sociais da UBA; Doutor Honoris Causa da Universidade Kennedy; Jornalista Honoris Causa do Instituto Latinoamericano de Intercâmbio Jornalístico e Professor Honorario em El Salvador, gostava que comentassem seus romances com modelitos como Graciela Alfano e escritoras como Marta Lynch.

Não hesitou em privatizar o aparelho repressivo estatal, em proveito próprio. Massera e seus seguidores não só roubaram os bens dos presos e desaparecidos como foram precursores em sequestrar empresários e se apropriar de seus bens: valiosos campos em Mendoza e cavalos de corrida que aumentaram seu patrimônio, têm essa origem.

Emilio Massera, um dos maiores assassinos de nossa história, morreu na segunda-feira 8 de novembro no Hospital Naval. Foi enterrado só e depreciado. Sucumbiu velho, babando, sem controlar os esfíncteres e com suas faculdades mentais alteradas. Os trabalhadores com suas lutas enterraram seus sonhos de chegar a ser presidente. As organizações de Direitos Humanos entraram com as ações que levaram ao seu julgamento e a perda da patente militar.

Emilio Massera, um sujeito que cometeu crimes horrendos e que, pela proteção que a burguesia e o imperialismo deram aos genocidas, não morreu na prisão. Proteção que lhe serviu para livrá-lo dos pedidos de extradição de países onde estava sendo julgado.

Além disso, ainda que em 31 de agosto deste ano, a corte Suprema tenha confirmado a anulação do indulto, este governo apesar de seus crimes, de estar condenado e de não ser mais militar, permitiu sua internação no Hospital Naval, desde abril.

Hoje, depois de sua morte muitos políticos, para esconder sua cumplicidade ou de seu partido, o condenam ao inferno, mas de nada vale desejar o inferno ao Almirante da morte, das negociatas e da corrupção. Deveria ter pago por seus crimes em vida, no cárcere comum.

Fonte: Luta Socialista nº 214, Novembro 2010


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[i] Montoneros: Guerrilheiros de uma organização de origem peronista.
[ii] Logia P2: Loja maçônica italiana, liagada à máfia na Itália.

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