quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Iraque

As atrocidades da Guerra na Web
Escrito por Enrica Franco - Itália
Seg, 06 de Dezembro de 2010 15:17
As revelações dos documentos secretos publicados no Wikileaks sobre a guerra no Afeganistão e no Iraque. No mês de outubro o Wikileaks suscitou o enésimo escândalo tornando público as atrocidades da guerra através de quase 400.000 documentos secretos.
Wikileaks é uma organização famosa que publica documentos com segredos de Estado. A administração da prisão de Guantánamo foi um dos casos mais célebres publicado no site da organização. Em 2008 o site foi fechado sendo acusado por um banco Suíço, Julius Bär, por publicar documentos que acusavam de processos de evasão fiscal e lavagem de dinheiro. Pouco depois o mesmo tribunal de justiça californiana que mandou fechar o site, viu-se obrigado a autorizar a reabertura do mesmo.
Neste verão (de Junho a meados de Setembro) o Wikileaks publicou 77.000 documentos secretos, alguns dos quais revelavam aspectos confidenciais da Guerra no Afeganistão e anunciou ter outros 15.000. Os documentos reportavam mortes de civis e ocultamento de cadáveres e também a existência de uma unidade secreta americana responsável em “prender ou matar” talibãs; relações de colaborações entre os serviços secretos paquistanês e chefes do Talibã e a intolerância com as atividade de ONGs como Emergency.
O chefe do Estado Maior dos EUA, Mike Mullen protestou contra a publicação dos documentos afirmando: “Julian Assange pode dizer tudo que quiser sobre suas fontes e sobre seu direito de publicar documentos secretos, mas a verdade é que sobre suas mãos existe o sangue dos nossos soldados”. Assange que é o fundador de Wikileaks, recentemente anunciou ter intenção de pedir asilo político na Suíça. O Staff do site durante uma entrevista disse: “O Wikileaks está constantemente em ameaça e isso obriga a organização a gastar 70% do orçamento na segurança”. Os únicos países em que Assange e sócios viajam com tranqüilidade são: Suíça, Islândia e Cuba.
Bradley Manning analista da Décima divisão de Montanha, está recluso na base militar de Quântico em Virgínia após a prisão no final de Maio no Iraque. Ele é acusado de violação do código militar após repassar documentos confidenciais em vídeo para o Wikileaks, no qual um helicóptero do exército americano massacrava com tiros vários civis.
Os “segredos” da Guerra no Iraque
Os segredos da guerra no Iraque publicados recentemente revelam como desde 2003 foram mortos mais de 109.000 pessoas: entre estas, outros 66 mil civis, ou mais da metade do total das vítimas. Entre os mortos civis, outros 15 mil perderam a vida em incidentes desconhecidos, segundo os dados do grupo londrino Iraq Body Count. Os principais responsáveis dos massacres também seriam os soldados iraquianos acusados de violência contra os presos sob custódia. Cerca de meia dúzia de presos foram mortos devido a espancamentos que receberam dos soldados: os prisioneiros foram continuamente chicoteados, espancados e maltratados. Relata-se um caso em que os soldados norte-americanos foram suspeitos de terem amputado os dedos de um iraquiano e depois dissolvido os mesmos em ácido.
As documentações revelam claramente que os Estados Unidos estavam cientes do uso da tortura.
Os números são assustadores: os soldados americanos mataram 681 civis em postos de controle entre os quais muitas mulheres e crianças. Além disso, militares dos EUA descobriram “milhares de cadáveres de homens e mulheres vítimas de execuções sumárias”. Os documentos revelam ainda o hábito de obrigar centenas de iraquianos andarem por estradas minadas com a desculpa de que eles deveriam recolher pedregulhos e os lixos das vias, porém sabe-se que eram apenas um pretexto para se testar as armas de fogo do exército.
Ainda histórias de Guerra
Ganhou destaque no Reino Unido o relato de um soldado britânico que matou uma menina de apenas oito anos enquanto a mesma brincava com seus amigos na rua. “Por razões inexplicáveis o tanque parou no final da rua onde ela jogava, um soldado desceu e a matou” revelou o advogado de direitos humanos Phil Shiner. Shiner, que também é um dos fundadores do Wikileaks contou que a garotinha jogava com os amiguinhos na estada de Basra, onde os militares britânicos normalmente distribuíam bombons. Neste dia ao invés de bombons distribuíram tiros nas mesmas crianças. “Por alguma razão – continua o advogado – o carro blindado parou no final da rua e ela estava ali, vestida de amarelo, um militar armado de fuzil surge de dentro do tanque e dispara”. Shiner pediu, sem sucesso, explicações ao Ministério da Defesa Britânico.
Nos documentos existem também revelações secretas sobre a Itália. Uma delas se refere a “Batalha das Lagoas” em agosto de 2004 sobre as pontes de Nassirya . A ambulância atingida por soldados italianos transportava uma mulher grávida, a mãe, a irmã e o marido. O veículo não disparou nehum tiro, enquanto os soldados italianos afirmaram terem apenas respondido aos tiros proveniente do veículo iraquiano.
Nehuma novidade: esta é a guerra
O alto comissariado das nações unidas pelos direitos humanos Navi Pillay, disse que Washington deveria indagar sobre uma série de documentos divulgados no site do Wikileaks enquanto que os documentos indicam claramente que as autoridades dos EUA sabiam das torturas e dos maltratos por parte das forças iraquianas sobre prisioneiros, mas ainda assim transferiram milhares de pessoas à custódia dos iraquianos entre os meses de 2009 e julho deste ano. “Todas as coisas já conhecidas” é a resposta que chega do Pentágono. “Estes documentos colocam em risco a vida de soldados americanos no mundo” falou também a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton.
Nós concordamos uma vez com o Pentágono: “trata-se de um documento já conhecido”. Os documentos não acrescentam nada aos horrores que cada guerra traz consigo. Aqueles que como nós não têm a intenção de fechar os olhos diante destas atrocidades estão bem conscientes do que acontece nestes conflitos muito antes de ler estes documentos secretos divulgados. De toda forma, é importante o trabalho que os membros do Wikileaks estão fazendo, ao custo de suas vidas, porque o fazem de maneira “oficial”, visto que antes eram apenas “suposições de extremistas” e agora, graças à rede, é possível difundir as notícias de maneira capilar.

Tradução: Rogério Freitas
(LIT-QI)

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