sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Venezuela

Mídia em campanha contra Hugo Chávez
Mauricio Rodríguez (*)
As reportagens que chegam desde Caracas e outras cidades do país revelam que o trabalho desinformativo e manipulador empreendido pelas grandes corporações mediáticas (Globovisión, Venevisión) causou os efeitos desejados: a construção de uma mentalidade fascista nos setores que por sua origem social são adversários do processo de transformações sociais que lidera o presidente Hugo Chávez.
É preocupante, por exemplo, que as crianças "bem nascidas" estejam desatando violência, por agora, contra o comércio que não obedece o chamado de golpe – eufemisticamente denominado "greve cívica nacional" – e que se nega a fechar suas portas. Estes "camisas negras" estão atuando impulsionados e apoiados pelo delírio enlouquecedor que transmitem os meios de propaganda e agitação fascistas (os meios de comunicação comerciais venezuelanos). A ultraderecha condutora deste roteiro – falamos da direita americana e dos organismos de inteligência desse país – não têm nenhum limite em suas ações. Hoje na Venezuela inclusive as crianças são usadas para pedir a morte do mono (macaco) Chávez; seus pais e irmãos mais velhos golpeiam e assassinam nas ruas aqueles que se negam a seus desígnios.
Enquanto isso, as grandes manchetes no mundo acusam o governo mais democrático do continente, incluindo o dos Estados Unidos, de assassino, autoritário e inimigo das liberdades. A imprensa internacional – como El País (e praticamente todos jornais da Espanha, com poucas exceções), The Washington Post, The New York Times, Veja etc. – já sentenciou, Chávez tem a culpa de tudo, como antes a tiveram Allende ou os sandinistas. A imprensa converte a vítima em vitimador. Chegam a dizer coisas tão absurdas como que a política petroleira soberana tentada por este governo não tem outro objetivo que o de desafiar os Estados Unidos. Em outras palavras, se os Estados Unidos lhe ameaçam a culpa é sua por não ajoelhar-se. E a isso querem chamar liberdade.
Militares e gerentes golpistas
Na Venezuela, pela primeira vez na história, todos os cidadãos participaram de maneira pública na discussão de uma nova Constituição da República submetida a referendo, e aprovada pela maioria dos venezuelanos. No entanto, para os paladinos internacionais da liberdade de expressão e da democracia – a imprensa internacional – é a Constituição de Chávez escrita a sua medida. Neste país, houve um golpe de Estado com a participação fundamentalmente de generais e coronéis. Para a imprensa internacional, entretanto, isso não foi um golpe de Estado, mas um ato de justiça, já que Chávez ameaçava a democracia – apesar do respaldo popular comprovado ao vencer sete processos eleitorais.
Nunca se mencionam nas notícias as conquistas obtidas até agora em três anos de governo:
** 1 milhão e 400 mil crianças com acesso pela primeira vez ao sistema de ensino;
** O orçamento para a educação passou de menos de 3% do PIB em 98 para 6% em 2002;
** Para a saúde o orçamento passou de 2,8% para 5,8%, em igual período;
** Incrementou-se em mais de 10% o acesso da população a água potável e esgoto;
** Pela primeira vez em mais de 40 anos se entregam terras aos trabalhadores rurais;
** Em três anos a Venezuela não recorreu ao FMI;
** Pela primeira vez os povos indígenas tiveram seus direitos reconhecidos;
** Não se privatizou a PDVSA (empresa estatal de petróleo), entre outros pontos.
Os grandes meios desejaram a queda de Chávez por via da força desde que este chegou à presidência; no entanto, quando escrevem dizem "o exército de Chávez". Sim, segundo a imprensa é dele, não da República. Isso não importa, também ajuda a reforçar a idéia de malvado que lhe fabricaram, assim como de violentos os círculos bolivarianos – organizações de participação social e econômica dos cidadãos. Se o governo não atua é porque os militares não permitem, porque, segundo a imprensa internacional, é evidente que se fosse por Chávez faz tempo a democracia teria acabado.
Quando, numa situação como a atual, em que os mesmos militares golpistas de 11 de abril tomaram uma praça de onde enchem de ódio os venezuelanos e os mesmos gerentes de PDVSA – que participaram do golpe –, destroem equipamentos e seqüestram embarcações – então, se o governo toma medidas, cumpre-se a profecia: Chávez é um ditador e um autoritário. Se não as toma, é um sinal de que Chávez perdeu força. Faça o que faça, sempre servirá como argumento para demonstrar a idéia central: "Chávez e seus círculos bolivarianos violentos têm a culpa... até de que chova."
(*) Jornalista venezuelano
(Observ. De Imprensa)

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