segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Millôr, o gênio de direita

O telefone
"O telefone é um aparelho preto que quando a gente erra o número outra pessoa atende. Isso do outro lado. Deste, o número nunca é errado porque a gente é quem liga. Quando não tem ninguém no outro lado pra atender então tem uma pessoa que fica fazendo tã-tã-tã o tempo todo e não adianta a gente gritar que ela não sai disso. O telefone serve para muitas coisas mas eu não sei quais são, isso é coisa que ouvi dizer. Lá em casa papai não gosta do telefone, mamãe não gosta e minha irmã não gosta, mas quando toca saem todos correndo. O melhor do telefone é a linha cruzada e é nessa ocasião que a gente ouve o que não deve."

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A criança é uma coisa assim bem depressa, assim bem macia, cheia de muitas palavras erradas que todo mundo ri. Elas gostam bastante só de brincar e têm medo de apanhar porque estão sempre fazendo aquilo que não devem. Elas querem tudo que vêem e pedem com a mão e com o olho. É muito difícil obrigar uma criança a se lavar, agora a se sujar não é não. Criança é muito teimosa e nunca faz o que os mais velhos mandam de modo que tem muita que ninguém quer. É por isso que eu nunca vi pai e mãe sem filho mas tem muito filho sem pai nem mãe."





Uma bola é o que rola.


Branco é o sem cor nenhuma nele.


Colo é o que a gente quer de noite,
mas de dia o quintal é melhor.


Galinha é pra gente correr atrás
a não ser as que estão no choco.

Comida tem sempre demais no prato
mas sobremesa nunca tem bastante.


Crescido é o que se fica ao deixar de ser pequeno.


Lagartixa é pra gente arrancar o rabo
e ver ele mexendo sozinho.


Cachorro é onde a gente bota a culpa
duma porção de coisas que foi a gente que fez.


Machucado é quando não se presta
atenção nenhuma no que a mamãe diz.


Sonho é o que dá um medo danado, mas quando a gente acorda a mãezinha está bem quentinha ali junto.


Irmão é pra gente ter muita raiva
e depois fazer as pazes.


Buraco é o que sobra quando
se tira terra de dentro dele.


Quente é o que a gente procura quando está frio, frio.


Resfriado é o que escorre do nariz.


Pai é com quem a gente tem conversas
de homem pra homem.


Mosca é pra se matar com o jornal dobrado.


Botão é pra gente andar sempre desabotoado.


Cachorro é pra gente chatear ele,
a não ser os que avançam.






O Sexo

"O sexo é uma coisa que todo mundo tem, só com a diferença que nas mulheres é feminino e nos homens é masculino. É uma coisa que quando a gente quer saber mais sobre, a mamãe manda perguntar ao papai e o papai diz que depois explica. Eu já sei também que o sexo é uma forma de energia para fazer funcionar a telefônica, porque noutro dia minha tia disse que se não existisse ele (sexo) os telefones do mundo não funcionavam nem a metade."

Os adultos são gente crescida que vive sempre dizendo pra gente fazer isso e não fazer aquilo. Interrompem sempre o que a gente está fazendo pra mandar fazer outra coisa que a gente não quer, mas quando a gente interrompe eles por qualquer motivinho o menos que apanha é uma espinafração na frente dos de fora. Adulto promete muita coisa, agora fazer mesmo que é bom eu nunca vi. Quando a gente cobra, eles dizem que menino chato ou então falam esqueceram e vão fazer no domingo que vem. Eles sempre dizem que no seu tempo não era assim mas nunca fazem o que obrigam a gente a fazer, como apanhar tudo o que caiu no chão, andar sempre limpo e dizer somente a verdade. Os adultos também obrigam a gente a vestir muito limpinho pra ir nas festas mas eles mesmos vão de qualquer maneira que às vezes, até dá vergonha, como aquela calça toda apertadinha da mamãe e aquela toda largona do papai. Eu quando crescer vou ser adulto só porque sou obrigado senão eu ia ser sempre pequenininho."














(Do saite do Millôr, o gênio de direita)

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