sábado, 30 de abril de 2011

Primeiro de Maio

História do 1º de maio




História

Fundação Lauro Campos
Dom, 04 de Maio de 2008 16:50
Um dia de rebelião, não de descanso! Um dia não ordenado pelos indignos porta-vozes das instituições, que trazem os trabalhadores encadeados! Um dia no qual o trabalhador faça suas próprias leis e tenha o poder de executá-las! Tudo sem o consentimento nem a aprovação dos que oprimem e governam. Um dia no qual com tremenda força o exército unido dos trabalhadores se mobilize contra os que hoje dominam o destino dos povos de todas as nações.
Um día de protesto contra a opressão e a tirania, contra a ignorância e as guerras de todo tipo. Um día para começar a desfrutar de oito horas de trabalho, oito horas de descanso e oito horas para o que nos der gana.
(Panfleto que circulava em Chicago em 1885)

4 de maio de 1886,
Praça de Haymarket, Chicago
A cada ano, o 1o de Maio rememora o assassinato de cinco sindicalistas norte-americanos, em 1886, numa das maiores mobilizações operárias celebradas naquele país, reivindicando a jornada laboral de oito horas.

Em julho de 1889, o I Congresso da II Internacional acordou celebrar o 1o de Maio como jornada de luta do proletariado de todo o mundo e adotou a seguinte resolução histórica: “Deve organizar-se uma grande manifestação internacional numa mesma data de tal maneira que os trabalhadores de cada um dos países e de cada uma das cidades exijam simultaneamente das autoridades públicas limitar a jornada laboral a oito horas e cumprir as demais resoluções deste Congresso Internacional de Paris”.

Como em outras partes do mundo, a situação dos trabalhadores nos Estados Unidos no final do século XIX era muito difícil. Sem embargo, emigrantes de diversos países europeus iam para lá em busca de uma melhor situação econômica. Em 1886, um escritor estrangeiro retratou Chicago assim: “Um manto abrumador de fumo; ruas cheias de gente ocupada, em rápido movimento; um grande conglomerado de vias ferroviárias, barcos e tráfico de todo tipo; una dedicação primordial ao Dólar Todo-poderoso”. Era uma cidade com um proletariado de imigrantes, arrastado pelo capitalismo para a periferia duma cidade industrial. A grande maioria dos proletários, especialmente em cidades como Chicago, eram da Alemanha, da Irlanda, da Boêmia, da França, da Polônia ou da Rússia. Ondas de operários lançados uns contra os outros, comprimidos em tugúrios e açodados por guerras étnicas. Muitos eram camponeses analfabetos, mas outros já estavam temperados pelas lutas de classes.

No inverno de 1872, um ano depois da Comuna de Paris, em Chicago, milhares de operários sem lar e famintos por causa do grande incêndio, fizeram manifestações pedindo ajuda. Muitos levavam cartazes nos quais estava inscrita a consigna “Pão ou sangue”. Receberam sangue. A repressão policial os obrigou a refugiar-se no túnel sob o rio Chicago, onde foram tiroteados e golpeados.

Em 1877, outra grande onda de greves se estendeu pelas redes ferroviárias e desatou greves gerais nos centros ferroviários, entre eles Chicago, onde as balas da polícia dispersaram as enormes concentrações de grevistas daquele ano.

Daquelas lutas nasceu uma nova direção sindical, especialmente de imigrantes alemães, conectados com a I Internacional de Marx e Engels. O proletariado alemão tinha uma contagiosa consciência de classe: aprendida, moldada por uma experiência complexa, profundamente hostil ao capitalismo mundial. Como todos os revolucionários, eram odiados, temidos e difamados ao mesmo tempo. A seu lado estava um lutador oriundo dos Estados Unidos, Albert Parsons. Assim se deu uma fusão da experiência política de dois continentes, do tumulto da Europa e do movimento contra a escravidão dos Estados Unidos. Nos agitados anos da emancipação dos escravos, Parsons fora um republicano radical que havia desafiado a sociedade texana burguesa casando-se con uma escrava mestiça liberta, Lucy Parsons, que chegou a ser uma figura política por si mesma. Albert Parsons militou muito tempo na Liga das Oito Horas, mas até dezembro de 1885 escrevera em seu jornal Alarma: “A nós, da Internacional [fazia referência à anarquista IWPACOR] nos perguntam com frequência por que não apoiamos ativamente o movimento da proposta de oito horas. Coloquemos a mão naquilo que podemos conseguir, dizem nossos amigos das oito horas, por que se pedimos demais poderíamos não receber nada. Contestamos: porque não fazemos compromissos. Ou nossa posição de que os capitalistas não têm nenhum direito à posse exclusiva dos meios de vida é verdade ou não é. Se temos razão, reconhecer que os capitalistas têm direito a oito horas de nosso trabalho é mais que um compromisso; é uma virtual concessão de que o sistema de salários é justo”. A imprensa anarquista sustentava: “Ainda que o sistema de oito horas se estabelecesse nesta tardia data, os trabalhadores assalariados... seguiriam sendo os escravos de seus amos”.

Após recuperar-se dos acontecimentos de 1877, o movimento operário se propagou como um incêndio incontrolável, especialmente quando se concentrou na demanda da jornada de oito horas.

Naquela época, havia duas grandes organizações de trabalhadores nos Estados Unidos. A Nobre Orden dos Cavalheiros do Trabalho (The Noble Orden of the Knights of Labor), majoritária, e a Federação de Grêmios Organizados e Trade-uniões (Federation of Organized Traders and Labor Union). No IV Congresso desta última, celebrado em 1884, Gabriel Edmonston apresentou uma moção sobre a duração da jornada de trabalho, que dizia: “Que a duração legal da jornada de trabalho seja de oito horas diárias a partir do 1o de Maio de 1886”. A moção foi aprovada e se converteu numa reivindicação também para outras organizações não afiliadas ao sindicato.

No 1o de Maio de 1886, os trabalhadores deviam impor a jornada de oito horas e fechar as portas de qualquer fábrica que não a aceitasse. A demanda de oito horas se transformaria, de uma reivindicação econômica dos trabalhadores contra seus patrões imediatos, na reivindicação política duma classe contra outra.

O plano recebeu uma tremenda e entusiástica acolhida. Um historiador escreve: “Foi pouco mais que um gesto que, devido às novas condições de 1886, se converteu numa ameaça revolucionária. A efervescência se estendeu por todo o país. Por exemplo, o número de membros da Nobre Ordem dos Cavalheiros do Trabalho subiu de 100.000 no verão de 1885 para 700.000 no ano seguinte”.

O movimento das oito horas recebeu um apoio tão caloroso porque a jornada de trabalho típica era de 18 horas. Os trabalhadores deviam entrar na fábrica às 5 da manhã e retornavam às 8 ou 9 da noite; assim, muitos trabalhadores não viam sua mulher e seus filhos à luz do dia. Os operários, literalmente, trabalhavam até morrer; sua vida era conformada pelo trabalho, por um pequeno descanso e pela fome. Antes que os trabalhadores como classe pudessem levantar a cabeça em direção a horizontes mais distantes, necessitavam momentos livres para pensar e formar-se.

Nas ruas, trabalhadores rebeldes cantavam:

Nós propomos refazer as coisas.
Estamos fartos de trabalhar para nada,
escassamente para viver,
jamais uma hora para pensar.

Antes da primavera de 1886 começou uma onda de greves em escala nacional. “Dois meses antes do 1o de Maio”, escreve um historiador, “ocorreram repetidos distúrbios [em Chicago] e se viam com frequência veículos cheios de policiais armados que corriam pela cidade”. O diretor do Chicago Daily News escreveu: “Se predizia uma repetição dos motins da Comuna de Paris”.

Em fevereiro de 1886, a empresa McCormick, de Chicago, despediu 1.400 trabalhadores, em represália a uma greve que os trabalhadores da empresa, dedicada a fabricar máquinas agrícolas, haviam realizado no ano anterior. Os Pinkertons, uma espécie de polícia privada empresarial, vigiavam todos os passos dos grevistas, foram contratados muitos espiões, mas a greve durou até o 1o de Maio. Ao manter-se a greve e aproximar-se a data chave que o IV Congresso havia sinalizado, ia-se associando a idéia de coordenar essas duas ações.

Nesse dia, 20.000 trabalhadores paralisaram em distintos Estados, reivindicando a jornada de oito horas de trabalho. Os trabalhadores em greve da empresa McCormick também se uniram ao protesto.

O 1o de Maio era o dia chave para exigir o novo horário; todos os comentários e expectativas estavam centralizadas naquela data, e se aproveitou mais ainda o descontentamento dos trabalhadores e a greve de Chicago.

Naquele dia os operários dos maiores complexos industriais dos Estados Unidos declararam uma greve geral. Exigiam a jornada laboral de oito horas e melhores condições de trabalho.

A imprensa burguesa reagiu contra os protestos dos trabalhadores; por exemplo, nesse mesmo dia o jornal New York Times dizia: “As greves para obrigar o cumprimento da jornada de oito horas podem fazer muito para paralisar a indústria, diminuir o comércio e frear a renascente prosperidade do país, mas não poderão lograr seu objetivo”. Outro jornal, o Philadelphia Telegram disse: “O elemento laboral foi picado por uma espécie de tarântula universal, ficou louco de remate. Pensar nestes momentos precisamente em iniciar uma greve para conquistar o sistema de oito horas...”.

Esse Primeiro de Maio de 1886 foi tão agitado como se havia prognosticado. Realizou-se uma greve geral em Wilkawee, onde a polícia matou 9 trabalhadores. Em Louisville, Filadelfia, San Luis, Baltimore e Chicago, produziram-se enfrentamentos entre policiais e trabalhadores, sendo o ato desta última cidade o de maior repercussão. Chicago, onde também estava a greve dos trabalhadores da empresa McCormick, foi o símbolo da luta e do sacrifício dos trabalhadores. Ali os acontecimentos foram especialmente trágicos. Para reprimir os grevistas, a burguesía urdiu uma provocação: em 4 de maio, na praça de Haymarket, onde se celebrava uma maciça assembléia operária, explodiu uma bomba. Era a senha para que os policiais da cidade e os soldados da guarnição local abrissem fogo contra os grevistas.

Os acontecimentos ocorridos nos Estados Unidos em maio de 1886 tiveram uma imensa repercussão mundial. No ano seguinte, em muitos países os operários se declararam em greve simultaneamente, símbolo de sua unidade e fraternidade, passando por cima de fronteiras e nações, em defesa de uma mesma causa.

Como resultado da greve, os patrões fecharam as fábricas. Mais de 40.000 trabalhadores se puseram em pé de guerra. Começou una repressão maciça não só em Chicago, principal centro do movimento grevista, senão que também por todo os Estados Unidos. A burguesia desatou uma de suas típicas campanhas de propaganda de ódio contra a classe operária e os sindicatos. Aos operários, os encarceravam às centenas.

Em 21 de junho de 1886, teve início o processo contra 31 responsáveis, que logo foram reduzidos a 8.

O sistema judicial fez o resto: passou por cima de sua própria legalidade e, sem prova nenhuma de que os acusados tivessem algo a ver com a explosão em Haymarket, ditou uma sentença cruel e infame: prisão e morte.

Prisão

• Samuel Fielden, inglês, 39 anos, pastor metodista e operário têxtil, condenado à cadeia perpétua.

• Oscar Neebe, estadunidense, 36 anos, vendedor, condenado a 15 anos de trabalhos forçados.

• Michael Swabb, alemão, 33 anos, tipógrafo, condenado à cadeia perpétua.

Morte na forca

Mártires de Chicago: Parsons,
Engel, Spies e Fischer foram
enforcados, Lingg (ao centro)
suicidou-se na prisão.
Em 11 de novembro de 1887, consumou-se a execução de:

• Georg Engel, alemão, 50 anos, tipógrafo.

• Adolf Fischer, alemão, 30 anos, jornalista.

• Albert Parsons, estadunidense, 39 anos, jornalista, esposo da mexicana Lucy González Parsons, ainda que se tenha provado que não esteve presente no lugar, entregou-se para estar com seus companheiros e foi igualmente condenado.

• Hessois Auguste Spies, alemão, 31 anos, jornalista.

• Louis Linng, alemão, 22 anos, carpinteiro, para não ser executado suicidou-se em sua própria cela.

Aquele crime legal tinha um só objetivo: não permitir que se extendessem os protestos operários e atemorizar os operários por muito tempo. Um capitalista de Chicago reconheceu: “Não considero que essa gente seja culpada de delito algum, mas deve ser enforcada. Não temo a anarquía em absoluto, posto que se trata de um esquema utópico de uns poucos, muito poucos loucos filosofantes e, ademais, inofensivos; mas considero que o movimento operário deve ser destruído”.


Principais declarações dos processados


Albert Parsons (1845-1887),
estadunidense, jornalista “Nos Estados do sul meus inimigos eram os que exploravam os escravos negros; nos do norte, os que querem perpetuar a escravidão dos operários”.

August Spies (1855 -1887),
alemão, jornalista “Neste tribunal eu falo em nome duma classe e contra outra

George Engel (1836-1887),
alemão, tipógrafo “Todos os trabalhadores devem preparar-se para uma última guerra que porá fim a todas as guerras”.

Adolph Fischer (1858-1887),
alemão, jornalista “Sei que é impossível convencer os que mentem por oficio: os mercenários diretores da imprensa capitalista, que cobram por suas mentiras”.

Luis Lingg (1864-1887),
alemão, carpinteiro “Os Estados Unidos são um país de tirania capitalista e do mais cruel despotismo policialesco”.

Michael Schwab (1853-1898),
alemão, tipógrafo "Milhões de trabalhadores passam fome e vivem como vagabundos. Inclusive os mais ignorantes escravos do salário se põem a pensar. Sua desgraça comum os move a compreender que necessitam unir-se e o fazem".

Samuel Fielden (1847-1922),
inglês, pastor metodista e
operário têxtil “Os operários nada podem esperar da legislação. A lei é somente um biombo para aqueles que os escravizam”.

Óscar Neebe (1850-1916),
estadunidense, vendedor
(Fund. Lauro de Campos) “Fiz o quanto pude para fundar a Central Operária e engrossar suas fileiras; agora é a melhor organização operária de Chicago; tem 10.000 afiliados. É o que posso dizer de minha vida operária.”

A ADORAÇÃO DOS PRÍNCIPES

A ADORAÇÃO DOS PRÍNCIPES
Posted: 29 Apr 2011 12:19 PM PDT




Milhares de pessoas de todos os países estão na Inglaterra para tentar entrever e fotografar o príncipe Williams e sua consorte. Talvez tenham sorte e consigam fotografias que guardarão a vida inteira e naquelas reuniões informais de amigos, no breve momento em que a conversa fora já foi recolhida para o lixo, a dona da casa dirá, displicentemente: “Pois estivemos lá! Eles passaram e conseguimos algumas boas fotos”.

Será o suficiente para que todos queiram ver as fotos e saber detalhes de todas as circunstâncias que envolveram o casamento. Todas as circunstâncias e detalhes os donos da casa não saberão, mas algumas mentirinhas sociais indesmentíveis serão aceitas, e logo a conversa tomará novo fôlego, regada a uísque – “escocês legítimo, vejam!” – que acompanhará uma legítima torta de maçã inglesa. As senhoras preferirão chá. E todos ficarão felizes.

Custo a acreditar que pessoas pensem e ajam assim. Mas é verdade. Em pleno século XXI o sentimento de vassalagem permanece no inconsciente coletivo de milhões de pessoas. E, provavelmente, no consciente. Não pasmem, existem pessoas assim. Pessoas que vivem pensando na riqueza das outras pessoas, nas roupas das outras pessoas, nas jóias das outras pessoas, nos carros das outras pessoas, nos filhos das outras pessoas, no penteado das outras pessoas, no modo de viver das outras pessoas – e até acreditam que as outras pessoas que elas tanto veneram tem sangue azul e merecem a sua devoção.

Fiquei muito surpreso quando a Espanha, que aparentemente é um país democrático, concordou que o ditador Francisco Franco passasse o seu poder vitalício para Juan Carlos I, em 1975, aplaudido pela maioria dos espanhóis, que adoraram ter uma família real novamente simbolizando a nobreza dos espanhóis.

Logo a Espanha que tinha passado por uma longa e sangrenta guerra civil, nos anos ’30, que derrubou a Segunda República espanhola e instituiu o fascismo, com Franco no poder. Fiquei surpreso, porque acreditava, ingenuamente, que os povos do mundo inteiro, aos poucos, não aceitariam mais casas reais para representá-los, como se fossem órfãos de vontade própria. E logo a Espanha...

E Franco era muito amigo do atual rei da Espanha – aquele que quer a América Latina calada e submissa – e o colocou no trono. E os espanhóis ali, assistindo, sem nada fazer a respeito, deixando-se emburrecer cada vez mais pela sua mídia, porque não é só no Brasil que a mídia aliada ao Estado tem a função de deixar as pessoas parvas e submissas. Também na Europa, Estados Unidos e outros países que passam por desenvolvidos.

Entre eles, a Inglaterra. A Inglaterra da mistificação da realeza, da pirataria, dos corsários; a Inglaterra que enriqueceu invadindo países mais pobres, que difundiu o ópio pelo mundo; a Inglaterra que desenvolveu o sistema bancário para melhor dominar a economia da maioria dos países; a Inglaterra que fingiu uma guerra com os Estados Unidos, deixou-o “libertar-se” para depois torná-lo no seu principal aliado na dominação das Américas.

A Inglaterra que criou a sua própria igreja, mais como aliada política do Estado do que difusora do Cristianismo; a Inglaterra que criou a moderna Maçonaria, em 1717, não para buscar a Verdade, mas para ter um poder oculto em todos os países, para manobrar os seus governos; a Inglaterra que se tornou senhora do mundo, junto com os Estados Unidos, depois das duas guerras européias que a enriqueceram ainda mais.

E devido a isso, a todo esse poder que manipula governos e fabrica mídias para embasbacar as pessoas e deixá-las a cada dia mais distante da sua própria realidade, tudo o que acontece na Inglaterra (e nos Estados Unidos) é tão ovacionado que as pessoas que estão vivendo neste século de tanta tecnologia estão se transformando em produtos utilizáveis e facilmente descartáveis, que entregaram a sua mente curta e o seu mínimo senso crítico aos meios de comunicação de massa. Porque realmente se tornaram massa; massa que pode ser moldada da maneira que bem apetecer aos donos do poder.

E os próprios veículos de comunicação estão compostos, em sua grande maioria, por jornalistas que perderam a noção do que realmente é ou deveria ser o jornalismo e se transformaram em meros repetidores das informações que lhes chegam através das agências de notícias que pertencem aos donos do capital ilusionista.

No Brasil – e talvez no resto do mundo – está havendo um massacre de informações - patrocinadas por esses repetidores - que vem diretamente da Inglaterra, devido ao casamento daqueles dois seres que tudo ganharão à custa do trabalho do povo, e o povo inglês – assim como o povo espanhol e outros povos que ainda tem um regime monárquico - não percebe que sustenta milionariamente uma família que nada lhes dá em troca, a não ser o fastio de uma visão de conto de fadas.

Não percebem e não querem perceber que estão sendo usados, manipulados e que depois que tudo passar nada mais restará a não ser a visão da pobreza mental das suas vidas limitadas ao nada que escolheram.

É uma verdadeira adoração dos príncipes. As pessoas não saem da frente da televisão, como tardos mentais, obcecadas pela novela real.

Muitos irão a Londres unicamente na expectativa da passagem do casal multimídia e tentarão algumas fotos para mostrar aos amigos em alguma noite, não muito distante, quando se reunirem para beber um legítimo uísque que acompanhará uma torta de maçã. Alguns preferirão chá.

Depois, surgirá o inevitável assunto:

“Quem sabe a volta da família real ao Brasil? Quem sabe os Orleans, os Braganças? Pelé e Xuxa não tem sangue azul. Chega de Dilmas e Lulas, tão pobres até no linguajar! O Brasil só será respeitado quando tivermos um Rei. Imaginem as festas!... Só assim o povo saberá o seu lugar.”

E a noite se estenderá com planos políticos e leves subversões intimas. Depois, sonharão com ducados e castelos. E desejarão ser ingleses ao acordar.

Fausto Brignol.
(‘Chupado’ de “Sarau p Todos”)
E, acrescento eu, é o sentimento do colono ante o imperador, do ‘negro’ da senzala ante o senhor de engenho, é todo um contexto de subserviência aos poderosos, mesmo q, no momento, ex-poderosos.
Há Tb a questão simbólica da realeza, do atrativo pelo antigo esplendor das cortes, os rituais e pompas, os objetos ‘sagrados’ e sacros...as cores, os gestos ‘reais’....
Existe tb o lado da mídia, um poder gigantesco no mundo de hoje. Talvez, há quem especule, um poder superior aos demais. Pois é preciso ter noticias, vender, vender, vender, exercer seu papel de superestrutura com eficácia...
Enfim, é a nostalgia ao colonialismo.
(e o capitalismo, onde entraria aí? Ora, já n é capitalismo, se fosse seria feudalismo! Poderíamos dizer, afinal, q seria uma etapa posterior: o consumo-imperialismo, em linguagem bem vulgar e simplória)
DEUS da Silva

Paris

Chéri à Paris Passage des Panoramas
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admin
– 12/11/2010Posted in: Posts
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(Chéri à Paris, por Daniel Cariello)
Esse texto faz parte da série “Autour de Paris”, de crônicas dedicadas a cada um dos bairros da cidade. Para ler os outros, clique aqui
O bom de estar em Paris é que Paris não se cansa de me surpreender. Moro aqui há três anos e meio e toda vez que vejo monumentos como a torre Eiffel e a Notre Dame, que já vi milhões de vezes, me dou conta disso e penso “caramba, estou em Paris!”.
Esse tipo de sensação acontece o tempo todo, quando descubro um jardim escondido, uma rua charmosa ou um restaurante imperdível. E hoje aconteceu de novo.
Peguei uma vélib e saí em direção à Bourse, a bolsa de valores, localizada no 2ème e escolhida para essa segunda crônica sobre os bairros da cidade. Porém, com meu aguçado senso de não-direção, acabei parando longe de onde havia planejado. Tant mieux, pois no caminho topei com a Passage des Panoramas, a mais antiga passagem coberta de Paris.
A Passage des Panoramas foi criada em 1799, para que os parisienses pudessem fazer compras abrigados da chuva e da sujeira da cidade, que não tinha esgoto na época. Hoje serve como uma espécie de galeria, cheia de restaurantes, algumas lojas de filatelia e com um climão que me lembra a Galeria Menescal do Rio de Janeiro, onde se encontra a segunda melhor esfirra da história das esfirras. A melhor está não muito longe dali, na Galeria Condor, no Largo do Machado.
Cheguei perto da hora do almoço, e o cheiro de comida vem de todos os lados. Do restaurante italiano, onde estou e bebo apenas um café, sobe um aroma de manjericão fresco. Do indiano da frente, de curry. Do francês logo ao lado não vem cheiro nenhum, mas o cardápio do dia sugere um carré de cochon rôti de Paul Legros, um pedaço de porco grelhado de Paul Legros, Paul o gordo, em português. A dúvida que me bate é se o porco é do Paul, é preparado pelo Paul ou é o próprio Paul. A não conferir.
Ao meu lado, uma senhora fala do marché d’Aligre para o italiano dono do restaurante, e conta a ele maravilhas dos legumes bio que se encontram por lá. Bio – biô, pra eles – é a nova moda francesa. Todos os bo-bos, os bourgeois-bohème, comem biô e se acham super naturebas, enquanto acendem mais um cigarro.
Pouco depois surge um sujeito mais velho, de muletas, e senta-se mais perto do balcão. O italiano faz jus à fama do seu povo e dirige-se a ele num quase grito.
- Ei, pra você nós estamos fechados.
- Eu não quero nada dessa birosca não, só sentar nessa cadeira podre aqui.
Eles sorriem, se abraçam e o dono vai buscar um café para quem parece ser um amigo de longa data, que o bebe com gosto e agradece.
O italiano, feliz da vida, volta pro seu balcão cantando.
- Amore, amore, amore!!!
Paris não se cansa de me surpreender. A poesia está em cada uma de suas esquinas.
-
Daniel Cariello, editor da revista Brazuca, é colaborador regular daBiblioteca Diplô /Outras Palavras. Escreve a coluna Chéri à Paris, uma crônica semanal que vê a cidade com olhar brasileiro. Os textos publicados entre março de 2008 e março de 2009 podem ser acessados aqui.

(Outras Palavras)

Boff

Boff e as encruzilhadas do novo governo
By
Caue Seigne Ameni
– 16 de novembro de 2010
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Teólogo elogia erradicação da miséria como prioridade; mas lembra que é preciso rever o conceito de desenvolvimento
Por Marilza de Melo Foucher
Leonardo Boff teve um papel fundamental nessas eleições e eu não podia deixar de entrevistá-lo durante minha passagem no Rio. Todavia, devido seus inúmeros compromissos e o cansaço de final de campanha deste bravo eleitor da cidadania ativa, não foi possível nos encontrarmos. Leonardo me respondeu por email duas questões:
Como membro estimulador da candidatura da Marina, e tendo você uma visão holística do desenvolvimento, como as proposições formuladas por esse movimento podem influenciar no novo governo?
Eu creio que Dilma tem que fazer um aprendizado rápido e forte, porque não possui muita acumulação em termos de questões ecológicas. Ela declarou que vai incorporar as sugestões básicas da Marina Silva. No fundo, trata-se de superar a idéia convencional de desenvolvimento que se transforma em sinônimo de crescimento econômico. Desenvolvimento deve ser considerado como um novo paradigma, quer dizer, supõe uma nova relação para com a Terra. O projeto de crescimento ilimitado, próprio da modernidade, não pode ser suportado por um planeta limitado. O desenvolvimento implica, em primeiro lugar, desentranhar as virtualidades do ser humano para que cresça a partir de uma relação nova com a natureza, com respeito de seus limites e alcances, em sinergia com seus ritmos, que descubra em si,como humano, dimensões do capital espiritual que se mostram pela cooperação, solidariedade, tolerância, compaixão para com a humanidade e a natureza sofredoras, amor incondicional e abertura a um Maior. Desenvolvimento que permita à Terra descansar, regenerar-se e conservar sua vitalidade. Isso supõe um ritmo mais lento, equilibrado, onde todos possam co-evoluir e ser incluídos, também a comunidade de vida (os demais seres vivos que usam a biosfera e precisam da Terra). Trata-se de um foco diferente. Estimo que Dilma tem capacidade de aprender. Mas depende da pressão dos grupos que já incorporaram esta visão, da sociedade que se dá conta de que assim como está não podemos continuar, ou vamos ao encontro do pior.
Para você qual seria a principal prioridade do governo Dilma?
Dilma declarou e eu acho que deve ser a primeira prioridade: erradicar a miséria e as sequelas que se derivam como fome, doenças, desestruturação pessoal e familiar entre outras. A missão primeira do Estado é cuidar da vida dos cidadãos. Nisso Dilma mostrou ter clareza e creio que vai ser a marca de seu governo: a erradicação da fome. Só uma mulher possui, por sua natureza, uma percepção natural desta urgência. Por isso, estimo que será conseqüente e fará tudo para alcançar esta meta que Lula já inaugurou e que ela deve levar até o seu fim.

Marilza de Melo Foucher é doutora em economia e especializada em desenvolvimento territorial integrado e solidário
(Outras Palavras)

Guy Debord

Guy Debord:
Muito além do cinema
.
Por Luiz Rosemberg Filho e Sindoval Aguiar, do Rio de Janeiro


Alucinados pela tirania das imagens, submissos à tirania da mídia, viramos uma multidão desinformada, submissa e aquartelada.

Guy Debord
“Burocracia/ Prisão econômica/ E campo de provas/ Da burguesia/ Onde se tritura o sujeito/ E depois rumina/ Como certeza da ruína/ E cansada de tantas vitórias/ Apenas espera/ Uma nova fase do capitalismo/ Além dessa do triturar/ Pelo olhar/ Que a sociedade do espetáculo/ Esmera de passagem/ Pela abundância da imagem/ E sem a necessidade/ Do ruminar.”
Sindoval Aguiar em “Tantas Vitórias”

Queiramos ou não, o espetáculo pelo espetáculo, muito comum nos dias de hoje, é a concretização de fascismos. O eterno ex-defunto volta a enquadrar-se na retórica de implicações perigosas, como a burocracia. Ora, o que são as imagens-flashes da política, das religiões na TV, das guerras, da publicidade e mesmo do fardo das novelas? São, sim, artifícios simbólicos de dominação pela via do espetáculo. O ressuscitar da besta fertilizando “novos” horrores. Do velho conservadorismo dos discursos que nada dizem a um naturalismo eternizador como proposta de poder. Poder ser para a morte do saber. Ora, por que não se ressalta nunca o caráter repressivo do espetáculo? Qual a trajetória da sua onipotência ligada à religião, ao cinema e à TV? Espaços onde todos são vendidos como “artistas”, nessa feia região do nada. E no baixo jogo das dissimulações, o fingimento como máscara de uma sinceridade duvidosa.

Nunca, em tempo algum, se usou tanto o espaço dos crimes como ilustração “positiva” repressiva do horror. O bufão apatetado e carola na TV grita ter Deus no coração. Nada mais dissimulativo no baixo uso do fascismo como arma de intimidação, pois o ser humano virou objeto de uso descartável que, ao viver entre injustiças e autoridades, não passa de um fantoche sem expressão humana alguma. Só serve para produzir, consumir, vomitar e votar no cinismo político do nosso tempo. Estamos todos impregnados da presença da miséria-espetáculo como forma de diluição permanente. O político, o religioso, o comunicador e o burocrata são as “razões” teóricas, através das quais funciona a propagação de fascismos partidários. Ontem o nazi-fascismo. Hoje a televisão e seus anunciantes que nos fazem comprar seja lá o que for, desde que seja lixo!

O espetáculo da produção só quer contemplação, e não um mínimo de transformação. Temem o enfraquecimento da hipocrisia como arte empobrecida. Daí esse culto exasperante ao “vilão bem-intencionado” da política à religião na TV. Usa-se o espectador idiotizado para aceitação do que seja, e trabalhado 24 horas para não pensar, produzir, consumir e se sentir “feliz” por um falso discurso produzido e fechado na melancolia de um imenso vazio. Vazio, enfim, que responde pela sua mudez. Cabe ao “ator” do espetáculo mentir mais e satisfazer-se com sua morte agonizante, mas que justificará seu sucesso e sua vaidade de idiota, identificado-o com a missa grossa do capital.

O defunto pensa que sabe o que está fazendo, e seu desafio é não ser demasiadamente o que é: um idiota a serviço do fascismo como espetáculo. A máquina sabe bem como usar a todos, imputando-nos esquecimentos, obrigações, silêncios e perversidades. “Pensando” sempre em voz alta, diz: -Crucificai-o pois já está morto e não sabe! O catequista-religioso sente-se vitorioso. A atriz-tecnicollor-digital se realiza em sua marcha para o sucesso a qualquer preço. O político, ainda na era colonial, não se importa de se embrenhar na corrupção e se sentir um Deus socializador do óbvio. Inofensivos, os roteiristas das novelas ou do cinemão aplaudem por se sentirem vivendo no apogeu da eterna glorificação de Hollywood.


A Confederação dos Burocratas do Brasil acompanha esse afã com uma dissertação pomposa em defesa do dinheiro público para nossas múmias tropicais. É preciso valorizar nosso surto capitalista de nos devorarmos vivos, na nossa Wall Street de Pindamonhangaba: todas as repartições públicas que lidam com a Cultura! Sempre evasivo, o Bonequinho aplaude e fica de quatro. Mas é o que o professorado infantil de “Malhação” entende como responsabilidade dos novos fantoches descolloridos: uma especialização comum do óbvio, sem improvisação alguma. E, por extensão, para os novos alunos virarem cartões-bostais, extasiando-se com as reminiscências da Casa Grande. O pictórico do espetáculo jorra da cacetada da sua reestreia na próxima novelinha das 7. Do lixo para o lixo, sempre no lixo oficial!

Ora, como pode a televisão aberta e privada ser uma espécie de monopólio da comunicação? E já agora transformando o cinema no novelão das 9! Claro que as forças obscuras do passado estão lá dentro inventando que glorificam o cinema. Mas que tipo de cinema? No seu teatrinho de marionetes intensificam o espírito-yankee burocrático empresarial que aprenderam com a ditadura, na administração infindável de seus muitos horrores. Como já estão velhos (talvez mortos!), volta e meia os encontramos rotos internamente em hospitais, enterros e cemitérios. Mas alguns ainda gostam de ouvir que foram, no passado... cineastas! “Cada qual com o seu quadrado” na valorização de mão-única do sucesso do patrão. Ontem a ditadura. Hoje a TV. Realizam-se como porta-vozes alfabetizados pelo idiotismo televisivo à disposição do espetáculo.

São os Xuxos da “nova” era da obviedade, sedimentados no eterno poder de mandar e humilhar. Único compromisso imposto na ditadura e na TV, tenazes na sua projeção simbólica do passo-de-ganso que o regime militar desenvolveu como técnica dos discursos religiosos, e no virtuosismo da burocracia, ao servir às multinacionais da informação, e no que eles entendem como cinema. Ora, raros são os filmes como O Leopardo, Dr. Fantástico, Fanny e Alexander, Blow-Up e Macunaíma, que subvertem o sentido bélico e alienante do espetáculo em seu desenvolvimento crítico.

Hollywood criou um modelo burro e autoritário para o mundo, impondo forças produtivas reacionárias capazes de legitimar hierarquias, copistas, hegemonias, privilégios, esquizofrenia, imobilismos, burocracias e fascismos. Sob sua jurisdição, o que importa é enraizarem-se como movimento “civilizatório” potencializado pelo capital. Basta que se vejam no mundo os “filmes” que alardeiam grandes sucessos de bilheteria: inconsequentes numa velada (ou não), reconsolidação de fascismos como um princípio fundamental repressivo. O grande público é tratado para só ser pagante e alienado à luz do espetáculo conservador. Mas... é onde a “sociedade burocrática de consumo” vai gozar: numa rejeição mesquinha ao saber e a uma politização criativa e poética da arte cinematográfica.

Chegamos, então, ao delicado cinema de Guy Debord. Seus filmes se definem como uma tese central, a da abdicação da verdade, que forma o espetáculo que a sociedade assumiu e quer nos impor. Ou melhor, nos impõe como realidade. E da qual não conseguimos escapar porque ela está presente em nossas vidas como um criminoso à nossa espera, em emboscada. Mas Debord, em seus filmes, tem sua estratégia sóbria, delicada e contundente, a do saber como terrorismo cultural, e cujo torpedo ele carrega em suas ideias – incapazes de serem interceptadas por qualquer escudo antimíssil. E que, quando lançado, não destrói, instrui. Desdobra e desconstrói, compõe e recompõe através de fragmentos do real que ele parafraseia, pausada e musicalmente, tornando o campo de batalhas um local de encontro, substituindo o monólogo da morte pelo diálogo com a vida. Esta coisa única, nossa e insubstituível. A linguagem extra-imagem de Debord nos aproxima ainda mais de Godard. Consciência sem ambivalências!

Assim são os filmes de Debord, um encontro inesperado entre duas forças antagônicas, não ambivalentes, mas possíveis de uma aproximação porque da realidade ninguém escapa. O que Debord sabia e de que não fugia! Porque, para ele, a realidade já era a modernidade com suas inúmeras contradições, tendo, ao centro, a comandá-la, o terror do capitalismo e do controle dos meios de produção, superada aquela fase de indecisão da década de 60 em que guerras eram ativadas como superação de suas crises e manutenção de sua eterna e constante produção de lucros e mortes.

Do outro lado, para o encontro, estava esse fantástico e impressionante cinema de Debord. O de um experimento muito além do cinema, porque o que ele incorpora é justamente a análise da imagem pela decomposição em incomparáveis tentativas de diálogo com elas (que só sabem monologar pela concepção impositiva de que são formadas). E, aos poucos, pela beleza do encontro, as imagens acabam aceitando a abdicação de suas verdades. Com a relação entre imagens e linguagens se definindo pela abstração daquelas e a supremacia e a presença de uma exposição lúcida e convincente da linguagem sobre o que aquelas imagens estavam representando. Ali onde o espetáculo que elas significavam era a forma mais perversa de nossa fragmentação e separação de nós mesmos. Porque tudo o que não temos e, nem está em nós, está presente na forma de espetáculo.

Como uma novela, por exemplo. Tudo está lá: luxo, lixo, traição, riqueza, violência, sonhos, contradições, menos o ser humano! E somos tragados, sugados e trucidados. E a tudo isso vamos nos acostumando como divertimento, controle e submissão psicológica de base política em todos os níveis: econômicos, religiosos e culturais. Imagens que nos são impostas a partir de necessidades que temos delas como oferenda e culto. O mais cruel é que a própria sociedade não vive mais sem as necessidades dessas imagens. Produzidas e administradas em rede, onde todos temos que cair. E onde Debord se recusa a ser peixe frito!

Enquanto as imagens monologam, Debord impõe o diálogo com a serenidade e a desconstrução do próprio confronto. Oferece também tudo aquilo que o marxismo nos apresenta para mudar o mundo, além da filosofia, a luta de classes, a universalização do conhecimento e das coisas mais íntimas de nosso dia a dia – a realidade – coisas tão próximas e que nos arrastam.

Debord, um cineasta e filósofo definitivo para o nosso tempo. Seu trabalho foi deslocar o sentido antropológico a que o ser humano se deixou levar pelo espetáculo, tornando a realidade uma coisa frágil, comum, sem poder e da qual podemos fazer parte e ser iguais; o que ele nega numa confirmação histórica e dialética, de que o espetáculo reduz tudo à insignificância, enquanto a dominação pelos meios e as imagens se estrutura e extrapola, estrangulando nossa existência.

Debord utiliza o cinema como uma significação da arte para transformar a complexidade de uma totalidade em entendimentos. O que a realidade não faz e nem permite. Para que cheguemos ao entendimento de nossa individualidade, Debord decompõe o sentido do espetáculo em que a sociedade se transformou. O cinema então passa a recuperar a importância que o espetáculo lhe tirou, recuperando sua função social, enquanto os seres humanos são transformados em coisas e objetos. Os filmes de Debord são a síntese do materialismo histórico, de uma dialética aplicada à realidade. Para sua transformação além de uma situação. Um recurso de conhecimento avançado que Godard utiliza em seu moderno cinema, fazendo de cada espectador um ser social. E de cada realidade um lugar onde ele se forma.

11/2/2011

Fonte: ViaPolítica/Os autores

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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Líbia

‘Entre Kadafi e a OTAN, Líbia está na iminência de uma tragédia’


Escrito por Gabriel Brito e Valéria Nader, da Redação
05-Abr-2011

Com o agravamento da crise política da Líbia, que agora sofre intervenção militar da OTAN, sob o forte jugo dos EUA e dos principais países europeus, o Correio da Cidadania entrevistou o jornalista Jose Arbex Jr., para tratar do país de Kadafi e de toda a região, abalroada por revoltas populares a partir de diferentes valores estratégicos para os donos do mundo.

Para o também professor da PUC e um dos editores da revista Caros Amigos, a situação líbia chegou a um estágio no qual resta a tragédia pela frente, pois qualquer dos lados em batalha não tem a mínima pretensão de atender à totalidade dos interesses do povo deste país. No que se refere ao excessivo foco do Ocidente e da mídia sobre a Líbia, enquanto outros países passam pela mesma onda de protestos e violência, registrando centenas de mortes, Arbex volta a atacar o imperialismo e suas ambições econômicas. Afinal, a Líbia é fundamental supridora de petróleo, especialmente para a Europa.

De acordo com Arbex, acima de tudo está em jogo a situação da economia mundial, que pode sofrer outro duríssimo golpe em meio a uma já quase incontornável crise econômica. Com o prolongamento dos conflitos e a ameaça a regimes fantoches (como a ‘imprescindível’ monarquia da Arábia Saudita), o fluxo e o preço do petróleo podem ser radicalmente atingidos.

Diante da importância geopolítica da região e da necessidade de líderes nacionais submissos, Arbex aponta para a perspectiva de uma mudança política controlada em direção a qualquer esboço de democracia - na Líbia e em todo o Norte da África e Oriente Médio.

Correio da Cidadania: Como avalia o atual momento das revoltas populares no Oriente Médio e no Norte da África, afetando toda a comunidade árabe e a geopolítica local?

José Arbex: Uma avaliação correta de tais conflitos tem de levar em conta a situação financeira e econômica mundial, por uma simples razão: essa é uma região que abastece o mundo de petróleo, um ativo fundamental pra movimentar a economia internacional. Ora, num quadro em que essa economia mundial ainda tenta debelar a crise de 2008, com passos muito claudicantes nesse sentido - bastando ver a crise da Grécia, as situações absolutamente periclitantes em Portugal e Espanha ou mesmo dentro dos próprios EUA –, pode-se ver que um distúrbio nesse momento no fluxo de petróleo, ou boatos que gerem pânico sobre isso, aumentando o preço do barril, incide diretamente na economia mundial.

Alguns economistas, aliás, dizem que 10 dólares de aumento no preço do barril acarretam a diminuição de 0,25% do PIB mundial. Portanto, é óbvio que, se essa situação continuar do jeito que está, prolongando-se por muito tempo, vai explodir a economia mundial, pois esta não agüenta segurar o preço do petróleo acima dos 120 dólares, como já está hoje.

Dessa forma, a crise dos países árabes tem significação planetária. E é isso que está em jogo no momento: não a crise da Líbia, do Egito, do Bahrein, nada disso, mas sim a situação da economia mundial.

Correio da Cidadania: Em que a situação líbia se diferencia dos casos egípcio e tunisiano?

José Arbex: Focando no Egito, o caso mais exemplar, tem uma diferença brutal, que é a seguinte: o exército egípcio é fonte de orgulho nacional, foi formado com base no nasserismo, de Gamal Abdel Nasser, fundador do pan-arabismo, surgido em 1956 depois da vitória dele e de seu povo pela nacionalização do Canal de Suez, o que ocorreu em julho daquele ano. Depois, França e Inglaterra armaram uma ofensiva pra retomar o canal, Nasser armou a população egípcia, foram para o combate e as forças conjuntas de Israel, França e Inglaterra foram derrotadas. Isso deu ao exército e a Nasser uma reputação ímpar de liderança e representação do espírito árabe no Egito e Oriente Médio.

Depois disso, foi derrotado na Guerra dos Seis Dias, também criou um governo autoritário etc. Mas o que interessa é que o mito Nasser sobreviveu ao político. O mito é mais forte que o político, sendo que o exército carrega essa mística, com a mitologia de ser aliado do povo. Desse mito, o exército tira o grande prestígio do qual desfruta, o que explica por que não quis atirar nos manifestantes nos protestos que derrubaram o regime, uma vez que tal prestígio lhe confere muito poder. O próprio Hosni Mubarak era militar e da turma do Nasser. Portanto, tal prestígio fez com que, de certa forma, a nação egípcia ficasse mais coesa em torno do exército. Isso deu uma unidade para o movimento no Egito que não existe na Líbia.

Lá é o contrário. Na Líbia, o Kadafi tomou o poder numa situação de guerra de tribos - existem pelo menos 140 tribos na Líbia. O Kadafi conta com o apoio de uma parte delas e a oposição com outra parte; ele tem o exército líbio, mas também uma força paramilitar de 10.000 homens que controla diretamente. Assim, na Líbia não existe coesão nacional. Além do mais, a Líbia é uma junção de três regiões (sendo a Cirenaica a que mais tem petróleo) que jamais foram completamente integradas como um único país. Não é o que acontecia no Egito, onde a situação é radicalmente diferente.

Aliás, não creio que a situação tenha chegado ao final no Egito, as contradições continuam. O Mubarak na verdade não foi tirado do poder. Já não é o presidente, mas está é passando uma temporada de férias na casa da praia. Não aconteceu nada com ele, não houve punição, todo o aparato construído por ele segue intacto e, mais cedo ou mais tarde, seu nome voltará à pauta das manifestações. A situação não foi resolvida, mas é fundamentalmente diferente da existente na Líbia.

Correio da Cidadania: O que pensa da decisão de intervenção militar tomada pela ONU, e apoiada, entre outros, por EUA, França e Inglaterra, escudados pela OTAN?

José Arbex: Sou absolutamente contrário. Penso que qualquer ser humano minimamente informado sobre o status do mundo tem que ser contra. A idéia de que a OTAN está lá para fins humanitários só pode ser piada. Até dias atrás o Kadafi era tido como amigo dos países da OTAN; o Tony Blair foi visitá-lo, Berlusconi também. O Kadafi tem vários interesses em empresas multimilionárias européias, nos EUA e, ademais, a partir de 2005, após conversas com o Bush filho, abriu a Líbia para a Exxon, a Brittish Petroleum, Texas Petroleum, ENI, enfim, várias grandes empresas petrolíferas desses países, além de ter aberto o país à indústria térmica estadunidense e também às empreiteiras, inclusive brasileiras.

Dessa forma, a Líbia se transformou num parque de diversões das transnacionais, com o Kadafi lá. Portanto, essa idéia de que a OTAN está lá para defender os interesses do povo líbio é uma bobagem que não resiste à mínima memória histórica. Nos países em que a OTAN intervém, é massacre atrás de massacre. Por isso sou totalmente contra a intervenção, o que não significa que apóio o regime de Kadafi.

Acho que esse regime é o fim do mundo; como disse, ele transformou o país em um parque de diversões de transnacionais, o que me leva a dizer que a Líbia está na iminência de uma tragédia. Quero dizer que, qualquer seja a solução, não há no horizonte visível, em minha opinião, alternativa alguma que atenda aos interesses reais do povo líbio. Se a OTAN ‘ganhar’ e ficar por ali, será uma tragédia; e se o Kadafi ganhar; será outra tragédia.

Qualquer que seja, a solução será trágica ao povo líbio. Somos obrigados a dizer, mas é fato, não vejo nenhuma solução e não creio que ela passe por alimentar a ilusão de que as tropas da OTAN vão virar tropas da madre Teresa de Calcutá e vão ficar dando comida e assistência social e médica à população.

Correio da Cidadania: Diante dessa conhecida abertura total do país às empresas transnacionais, como fica o argumento de algumas correntes progressistas e de esquerda que se colocam contra a intervenção militarista na Líbia, sob a alegação de que o ditador Kadafi foi durante muitos anos um opositor dos interesses norte-americanos na região, tendo inclusive adotado uma política econômica na contramão do neoliberalismo? Não soa anacrônico hoje tal argumento?



José Arbex: Exatamente. Houve uma transformação gradual, lenta e irresistível do regime do Kadafi a um governo francamente alinhado com os países da OTAN. Não dá mais pra tratá-lo como se fosse o antigo Kadafi. É um equívoco de boa parte da esquerda mundial, principalmente do Chávez, defendê-lo dessa forma.

Correio da Cidadania: O que diria com relação à posição de abstenção do Brasil na votação da ONU quanto à intervenção militarista na Líbia?

José Arbex: Bom, o Brasil mantém sua tradição de tentar uma solução pelo diálogo, sem entrar em confronto direto com o imperialismo, como foi feito no caso das instalações nucleares do Irã.

Eu a considero uma posição interessante no sentido de que pelo menos – pelo menos – o Brasil não está fazendo eco ao imperialismo, dizendo ‘sim, senhor’. Claro que há outros interesses nessa posição, mas ao menos não é somente abaixar a cabeça e abanar o rabo para o imperialismo.

No entanto, está muito longe do que podia ser. O Brasil hoje tem condições, ou teria, de fazer denúncias da política de pilhagem da OTAN e da intervenção imperialista nos países onde ocorre tal pilhagem. O Brasil poderia assumir uma posição diplomática muito mais forte do que costuma assumir.

Dessa forma, não fico na posição de elogiar a política externa brasileira e avaliá-la como antiimperialista, porque não é. Mas existem essas nuances, nem tudo é preto ou branco, temos de enxergar esses aspectos. E a posição brasileira tem a nuance de que, pelo menos em um aspecto, é interessante.

Correio da Cidadania: E por que um foco tão direcionado e intenso do mundo todo em direção à Líbia, quando sabemos que outros países na região vivem momentos tensos e de dura repressão aos rebeldes, como Bahrein e Iêmen, Síria, Arábia Saudita, somando centenas de mortes também?

José Arbex: Porque há uma razão de ordem prática e outra de ordem estratégica. Qual é a de ordem prática? As exportações de petróleo da Líbia pra Europa despencaram brutalmente. Alguns falam em 50%, mas outras fontes falam em 25%. Ou seja, a Líbia está exportando muito menos petróleo à Europa em meio a esses conflitos. E eles estão apavorados, pois dependem do petróleo líbio e não têm como recompor as reservas.

Essa é, portanto, a razão de ordem prática, a premência de tempo de retomar logo o fluxo. E a questão de ordem estratégica é exatamente pelo fato de o regime do Kadafi ter uma história anterior distinta dos demais países da região – Emirados Árabes, Arábia Saudita etc. Se a OTAN conseguir sufocar a rebelião na Líbia - onde supostamente haveria uma camada da população que visa a transformação antiimperialista, capaz de ter uma ideologia mais alternativa - e controlar o país, estará dado o recado aos demais países árabes: "olha, cuidado, mesmo na Líbia, conseguimos controlar a situação, então se cuidem".

Por isso penso que a Líbia virou um ponto chave na região toda. Se avaliarmos os outros países mencionados, onde há uma repressão brutal, como o Bahrein, veremos que quem promove a repressão é a Arábia Saudita, que ultrapassou suas fronteiras e está fazendo o serviço sujo por ali. E a Arábia Saudita ocupa uma posição absolutamente estratégica na história toda.

Correio da Cidadania: Por quê?

José Arbex: Primeiro porque a monarquia saudita é guardiã dos locais sagrados do Islã. É lá onde estão Meca, Medina, os principais templos da religião islâmica... E é a primeira vez que a monarquia saudita se mete numa situação desse tipo, em que suas tropas estão matando muçulmanos. Isso é gravíssimo. Imagine como está a comunidade muçulmana mundial nesse momento ao saber que a maior guardiã dos principais locais sagrados do Islã está matando islâmicos em nome de interesses petroleiros. Isso provoca um desgaste de legitimidade para a Arábia Saudita muito grave, do ponto de vista do imperialismo, porque a Arábia sempre foi sua incondicional aliada.

E, além disso, a Arábia Saudita é o único país que detém reservas e meios técnicos para manter o fluxo de petróleo para a Europa e o resto do mundo, mesmo que sequem todas as outras fontes.

Portanto, a Arábia Saudita é vital, não pode estourar nada lá, se não, ferrou. Creio que é até por isso que as notícias sobre esse país são divulgadas em pílulas, mantidas em low-profile, como se não interessassem.

Correio da Cidadania: Considerando ser a Líbia um país não unificado, composto por diferenciadas tribos e regiões em um extenso território, como já salientado, não se abre uma possibilidade considerável de cisão do país em pelo menos dois?

José Arbex: Creio que a OTAN pode trabalhar tal possibilidade, até para assegurar o controle das regiões mais ricas em petróleo. É uma possibilidade estratégica que a OTAN pode estar levando em consideração. Existem especialistas que já dizem isso, que uma das estratégias da OTAN seria tentar dividir a Líbia em três regiões, pegar aquela mais rica em petróleo e deixar as outras duas entregues ao caos.

Correio da Cidadania: Fazendo da Cirenaica um Bahrein?

José Arbex: Provavelmente.

Correio da Cidadania: Diante de tudo que foi dito, desse desgaste que certamente abriu os olhos de enorme parte do público para o despotismo que reina de forma generalizada na região, como deve caminhar o conflito em sua opinião de agora em diante? Há indício de evolução para algum tipo de processo ‘revolucionário’?

José Arbex: Sim, o processo revolucionário está em curso. O problema é que não há uma direção, ninguém sabe pra onde está indo essa onda toda. Não existe uma força organizada que dê o norte, mas a revolução está acontecendo.

Eu lembro como exemplo o que aconteceu na Argentina em 2001. Havia senhoras de classe média, bem vestidas, saindo às ruas, o povo enfrentando a polícia, saqueando supermercado, tirando presidente da Casa Rosada no chute etc... E depois de tudo, o que aconteceu? Acabou acontecendo que, por falta de uma direção que dissesse o que fazer, voltou ao poder o peronismo, o Kirchner. Quer dizer, o anticlímax! O povo faz tudo, a revolução, tira os caras do poder, mas não tem direção e aparece o Kirchner pra pegar a cocada.

Eu acho que são processos assim que tendem a se desenrolar no Oriente Médio e no norte da África, com uma diferença: o petróleo. Na Argentina, não havia a "urgência" de resolver o assunto como ocorre nos países árabes agora. Porque o petróleo do mundo está nesses países e, em função disso, a crise não pode se arrastar por tempo indeterminado. Esse é o dado de urgência que torna a crise de agora mais dramática.

Correio da Cidadania: Há pouco tempo, nos dias que cercaram a queda de Mubarak no Egito, entrevistamos a historiadora Arlene Clemesha, que afirmou acreditar na tendência de se caminhar para "democracias representativas" na região. Você concordaria com tal análise a essa altura?

José Arbex: Não acredito nisso. Acho que a Arlene se deixou levar muito mais por otimismo, o wishful thinking. Nem no Egito creio nisso. Creio que o que ela disse resultou mais de um desejo de ver as coisas assim do que dos dados da realidade. Para se chegar a uma democracia representativa, precisa-se, no mínimo, de órgãos de representação razoavelmente legítimos, uma população que participe da vida pública e seja respeitada como opinião pública...

Correio da Cidadania: Condições totalmente inexistentes em tais países...

José Arbex: Em todos esses países. Aliás, até no Brasil. Eu sou daqueles que pensam que o Brasil está muito longe de ser uma democracia representativa, liberal ou o que o valha. Temos uma aparência de democracia representativa, eleições, não sei o que, mas entre a aparência e o fato... Não dá pra chamar de democracia um país com a desigualdade econômica do Brasil. E no Egito, quando vão começar a resolver isso?!

Dessa forma, penso que a Arlene está muito mais agindo por otimismo do que fazendo a análise mais realística do que ocorre por lá.

Correio da Cidadania: Dessa forma, para a população conseguir se organizar e participar de fato da vida política de seus países, um longo e incógnito caminho teriam ainda que ser percorridos?

José Arbex: Vai custar caro. Até porque, como eu disse, o Hosni Mubarak não saiu do poder. Está lá ainda.

Correio da Cidadania: Qual seria a saída por você considerada ideal, aquela que a comunidade internacional deveria adotar, considerando a atual situação geopolítica e a extensão já atingida pelos conflitos?

José Arbex: Comunidade internacional quem? Quando falamos em comunidade internacional estamos nos referindo a quem exatamente?

Correio da Cidadania: Digamos que, num exercício de idealismo, a uma comunidade internacional que buscasse a saída adequada e justa. Aquela que atuaria no interesse dos povos.

José Arbex: É que essa expressão eu não consigo levar a sério... Não consigo entender o que significa, não sei o que é. Eu penso que existem interesses internacionais solidamente estruturados. Interesses internacionais financeiros, banqueiros, petrolíferos, da indústria de armamentos. E tem a classe trabalhadora, o povo, que passa fome no Oriente Médio, com preços de alimentos cada vez mais extorsivos...

Quanto ao interesse dos povos, ele consiste em fazer cair essas ditaduras todas e varrer o imperialismo. Mas a perspectiva de que isso aconteça sem uma direção real é muito wishful thinking.

Correio da Cidadania: Finalmente, o que esses momentos iniciais do governo Dilma te dizem da nossa nova diplomacia relativamente à anterior?

José Arbex: Trata-se em parte do que já falei. Não vejo muitas modificações. Aliás, nem em relação ao governo FHC acho que houve grandes mudanças na diplomacia.

O Itamaraty mantém uma certa tradição de formulação de política externa dentro daquilo que se chama de pragmatismo. O que eu considero uma grande porcaria, mas é assim.

Por exemplo, o que pouca gente sabe é que, quando houve um boicote do petróleo para a Venezuela, assim que o Chávez ganhou as eleições, o Fernando Henrique determinou o abastecimento de petróleo brasileiro para a Venezuela, para evitar o desabastecimento deles. Foi o FHC que fez isso. Uma atitude que decorre da tradição do Itamaraty, que eles chamam de pragmatismo ou coisa assim.

Não creio que teve nenhuma grande mudança.

Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.

Leia mais:

‘Revoltas árabes tendem a resultar em democracias participativas, já um grande avanço’ - entrevista com a historiadora Arlene Clemesha, chefe do Centro de Estudos Árabes da USP.


(Correio da Cidadania)

Índios

Roda de Medicina, Roda de Cura ou Arco Sagrado


A Roda de Medicina é um poderoso e antigo instrumento de Cura
usado pelos povos nativos desde os tempos imemoriais. Ela representa o
Universo e é considerada uma ''professora silenciosa" da realidade das
coisas, revelando como elas são ou estão e, também, como podem vir a
ser.
Quando trabalhamos com a Roda de Cura, ela funciona como um
espelho que nos mostra as nossas potencialidades e dons que foram
colocados dentro de nós pelo Criador e que não permitimos, pelas mais
diversas razões, que se desenvolvessem. Quando vemos nosso reflexo
neste espelho tomamos consciência das nossas potencialidades nãodesenvolvidas
e descobrimos o que é preciso fazer para nutrirmos a cada
uma delas e, assim, permitirmos o seu amadurecimento.
Ao olharmos a Roda de Medicina, contatamos a nossa identidade
que é, no entendimento dos povos nativos, a maneira como se
experimenta a presença física (consciência do corpo), a opinião sobre si
mesmo e seu potencial (autoconceito) , como se sente ou percebe a si
próprio e suas habilidades para crescer e mudar (auto-estima) e a
capacidade de usar a vontade para atualizar as potencialidades Tísica,
emocional, mental e espiritual (autodeterminaçã o).
Muitos povos usam a Roda de Cura como um modelo daquilo que
o homem pode vir a ser se decide e age para desenvolver todo o seu
potencial. Porem, como acontece com todo o conhecimento originário
das mandalas — o Arco é também uma mandala — a influência se dá
independentemente da vontade do ser humano. Fitá-la por si só é o
suficiente para que inconscientemente as mudanças comecem a se
processar.


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Mitakuye Oyasin!
Os Sete Rituais Sagrados

Preservando o Espírito
Este foi o primeiro ritual revelado pela Mulher Novilha de Búfalo
Branco. Consiste da purificação do espírito de um ser amado que morreu
para que ele possa retornar ao Grande Mistério. A segunda parte do
ritual acontece um ano após a morte, quando os bens e pertences do
morto são doados aos seus amigos, escolhidos pelo seu herdeiro natural.
Cada bem entregue auxilia no processo de libertação da alma para
sua jornada de volta ao seio do Grande Mistério, ao mesmo tempo em
que ensina sobre o desapego, não-materialismo, promove a reutilização
dos pertences e também serve para relembrar, uma maneira de honrar o
amigo ou parente que partiu.
Hoje, depois de ter sido proibido pelo governo americano em 1890,
por influência dos missionários cristãos, este ritual foi transformado na
Cerimônia da Doação.
Cerimônia da Doação
O objetivo principal é fazer com que as pessoas trabalhem o
desapego das coisas materiais. Este ritual exige a entrega, sem restrições,
de algum objeto de seu uso pessoal ou ao qual você está ligado por
supostos laços afetivos.
Ao fazer a doação trabalha-se a perda e abre-se espaço para que
algo novo possa chegar. Não é para se desvencilhar de coisas velhas e
inúteis, mas algo que precisamos liberar energeticamente a fim de não
ficarmos presos a um ponto, impedindo o desenvolvimento de outros e a
distribuição das bênçãos que recebemos diariamente do Grande Espírito
Sauna Sagrada.


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Mitakuye Oyasin!

A Mãe Terra é a fonte da vida e o lugar de todos os retornos de vida. Ela nos dá a vida. Ela nos alimenta através da nossa viagem e ela espera que voltemos a ela. A maneira indiana é reconhecer a Terra como o lugar de nossos antepassados. É por isso que alguns lugares na Terra são considerados espaços sagrados e da terra sagrada, este é o lugar dos nossos antepassados. Todos nós precisamos refletir sobre a terra, o lugar onde nossos antepassados viveram. Precisamos ter amor e respeito para com a Terra.

Meu Criador, deixe-me honrar o lugar de nossos antepassados, a Mãe Terra





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(Literatura Indígena)

O. Médio

Oriente Médio: retrato do Império em apuros
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– 19/04/2011Posted in: Capa
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Numa região decisiva do planeta, EUA perdem grandes aliados e parecem sem rumo. Mas as consequências de seu declínio ainda são incertas
Por Immanuel Wallerstein | Tradução: Daniela Frabasile
Nos últimos cinquenta anos, a política dos Estados Unidos no Oriente Médio tem sido construída em torno de relações muito próximas com três países: Israel, Arábia Saudita e Paquistão. Em 2011, porém, Washington está em desacordo com os três, e de maneira fundamental. Também é público a divergência com Reino Unido, França, Alemanha, Rússia, China e Brasil sobre as políticas na região. Parece que quase ninguém concorda com os Estados Unidos ou segue sua liderança. Pode-se ouvir a frustração agonizante do presidente, do Departamento de Estado, do Pentágono e da CIA – todos vêem a situação saindo do seu controle.
O motivo de os Estados Unidos terem criado uma aliança tão forte com Israel é ponto para muito debate. Mas é claro que, por muitos anos, o relacionamento tem ficado cada vez mais sólido, e segue cada vez mais os termos de Israel. O país tem contado com apoio financeiro e militar dos EUA, e a certeza do veto infalível no Conselho de Segurança da ONU.
O que ocorreu agora é que tanto as políticas israelenses quanto suas bases de apoio nos EUA têm se movido rapidamente para a direita. Israel aferra-se a duas coisas: o adiamento eterno de negociações sérias com a Palestina e a esperança de que alguém irá bombardear o Irã. Obama tem se movido em direção contrária, ao menos tanto quanto a política interna dos Estados Unidos lhe permite. As tensões são fortes e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu está rezando – se é que ele reza – para uma vitória dos republicanos na eleição presidencial em 2012. O desfecho da crise pode, porém, vir antes, quando a Assembleia Geral da ONU votar para reconhecer a Palestina como um Estado-membro. Os Estados Unidos irão se encontrar na posição perdedora de lutar contra isso.
A Arábia Saudita manteve um relacionamento confortável com Washington desde que o presidente Franklin Roosevelt encontrou-se com o rei Abdul Aziz em 1943. Juntos, tinham a capacidade de controlar a política de petróleo em todo o mundo. Colaboraram em assuntos militares e os Estados Unidos contaram com a ajuda do aliado próximo para apoiar outros regimes árabes em cheque. Porém, hoje o regime saudita sente-se muito ameaçado pela segunda revolta árabe. Também ficou totalmente desconcertado com decisão dos Estados Unidos de reconhecer o destronamento de Mubarak pelo seu Exército; e pela crítica de Washington à intervenção saudita no Bahrain, por mais que a crítica tenha sido leve. As prioridades dos dois países são bastante diferentes agora.
Durante a Guerra Fria, quando os Estados Unidos consideravam a Índia próxima demais da União Soviética, o Paquistão obtinha total apoio norte-americano (e da China), qualquer que fosse o seu regime. Os dois países trabalharam conjuntamente para auxiliar os mujahidin no Afeganistão e forçaram a retirada das tropas soviéticas. Eles provavelmente trabalharam juntos para conter o crescimento da al-Qaeda. Duas coisas mudaram. No período pós-Guerra Fria, os Estados Unidos desenvolveram relações mais próximas com a Índia, para a frustração do Paquistão. E o Paquistão e os Estados Unidos encontram-se em extremo desacordo sobre como lidar com a força crescente da al-Qaeda e do Talibã no Paquistão e Afeganistão.
Um dos principais objetivos da política externa dos EUA, desde o colapso da União Soviética, tem sido evitar que os países da Europa Ocidental desenvolvam políticas autônomas. Mas hoje, os três países principais – Reino Unido, França e Alemanha – estão fazendo isso. Nem a linha dura de George W. Bush, nem a diplomacia suave de Barack Obama parecem ter retardado isso. O fato de a França e a Grã-Bretanha pedirem que os Estados Unidos assumam uma liderança mais ativa na luta contra Gaddafi, enquanto Alemanha diz praticamente o oposto é menos importante que os três expressarem essas opiniões muito alto e fortemente.
Rússia, China e Brasil estão usando suas cartas cuidadosamente no que diz respeito às relações com Washington. Os três se opõem às posições dos EUA em quase tudo atualmente. Eles podem não ir até o fim (deixando de usar o veto no Conselho de Segurança) porque os Estados Unidos ainda têm garras que podem usar. Mas eles certamente não estão cooperando. O fiasco da recente viagem de Obama ao Brasil, onde ele pensou que conseguiria obter uma nova abordagem da presidente Dilma Rousseff – mas não conseguiu – mostra quão pouca influência os Estados Unidos têm no presente.
Finalmente, a política interna mudou. A política externa bipartidária caiu na memória histórica. Agora, quando os Estados Unidos entram em guerra, como na Líbia, a opinião pública mostra apenas cerca de 50% de apoio. E políticos dos dois partidos atacam Obama – ou por ser muito belicoso, ou por ser muito pacifista. Estão todos esperando para lançar-se sobre ele, diante de qualquer insucesso grave. O resultado disso pode ser forçá-lo a intensificar o envolvimento dos EUA em todos os lugares e desse modo agravar a reação negativa de todos os aliados.
Madeleine Albright chamou os Estados Unidos de “nação indispensável”. O país ainda é o gigante na cena mundial. Mas é um gigante desajeitado, incerto sobre onde e como quer chegar. A medida do declínio dos Estados Unidos é o grau em que os aliados próximos de antes estão prontos para defender seus desejos e manifestar isso publicamente. A medida do declínio dos Estados Unidos é a incapacidade do país em declarar publicamente o que está fazendo, ou a insistência em dizer que tudo está realmente sob controle. Os Estados Unidos efetivamente tiveram que desembolsar uma quantia muito grande de dinheiro para liberar da prisão um simples agente da CIA no Paquistão.
A consequência disso tudo? Muito mais anarquia no mundo. Quem vai lucrar com isso tudo? No momento, é uma questão que está em aberto.
(Outras Palavras)

Vida

A Vida
.
Por Sergio Santeiro


Niterói – Vivemos. Consiste em respirar, indispensavelmente. Em alimentar-se, também indispensável, no máximo, digamos, a cada 48 horas. Antes dá pra suportar, embora não se deva, que o digam os famélicos da terra. Em abrigar-se a salvo das intempéries naturais ou não. E cada vida vale, é igual, a uma vida. Por isso que o detentor de uma vida não pode aniquilar outra vida, senão fica devendo a dele.

Assim começa e prossegue o que se chama de ciclo da vida. Embora sejam mais e mais frequentes os centenários, que já o foram também no passado, acho que podemos por hipótese supor uma base de 80 anos, em média, para a sobrevivência humana. É um bom tempo para se aprender a viver, a que será que se destina.

A humanidade, a partir dos grupos que se espalharam territorialmente, veio se transformando no que hoje vemos e vivemos. Houve um tempo em que as sociedades verdadeiramente se compunham igualitárias, uns realmente iguais aos outros e todos participando do coletivo na sua medida e necessidade.

Não vou historiar a história do mundo, mas surgiram as disputas entre grupos que passaram a se organizar para além da sobrevivência estrita, basicamente uma vitória sobre a natureza: caçando, pescando, colhendo. E chegamos aos nossos dias. Bradam-se palavras e bandeiras, mas as sociedades ganhadoras vão impondo o seu estilo de privilégios para motivarem o crescimento mais de uns que de outros. Acumular.

A questão em si é muito simples: cada um só pode ter o que todos tenham. Ninguém tem direito a mais. Senão fica difícil. Não há como deter essa corrida industrialista seletiva. Muitos trabalham para poucos. E o que fazer com os danos que tal produção para alguns indivíduos causa para a coletividade?

Respirar fica difícil, entopem os ares com porcarias, alimentar-se fica difícil, empesteados terras e mares. Abrigar-se também fica difícil, os espaços, vagos, têm donos individuais que não os ocupam, deles não necessitam. A vida fica difícil. Sob a ameaça da vida difícil, muitos mais indivíduos aderem à estratégia de se incluírem, se possível, nas políticas de privilégios dominantes. São as classes médias. Na base fica o povo excluído.

Mil justificativas – falta escolaridade – não têm como justificar o erro, o brutal desperdício de vida, a mais para os poucos burgueses, a menos para a maioria do povo. Na disputa, na refrega por melhores dias, a violência torna-se o caminho para manterem-se os privilégios de classe – mais dinheiro. O que é preciso é abolir o dinheiro. Ou não dá pra resolver.

Os ideais, por exemplo, da Revolução Francesa, lá de trás, tidos como universais, viraram letra morta. Ainda se diz, ainda se repete, mas não se os vê, não estão em parte alguma. Somos mais ou menos aquinhoados que o vizinho, empáfia ou vergonha? Como se sabe, num misto de inveja e medo de cairmos ainda mais pra baixo, toleramos a desigualdade que nos impõem e forçamos os de baixo a tolerar também a mais desigualdade que sofrem. Mas a corda que nos puxa e nos amarra chega uma hora em que se rompe.

Certamente o crescimento crescente da população nessa escala de desigualdade gera uma complexidade de acordos e ajustes, difíceis de serem negociados e respeitados. As populações sofrem em meio aos luxos e banquetes. Desde menino aprendi que quando erramos a conta começamos de novo. É preciso começar de novo, garantir a vida para todos: um respirar, um alimentar e um abrigar.
O resto depois a gente vê como faz.

6/6/2009

Fonte: ViaPolítica/ O autor

Mais sobre Sergio Santeiro

E-mail: santeiro@anaterra.mus.br

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Veríssimo

Buuu
Por Luis Fernando Verissimo – O Estado de S. Paulo
Diálogo urbano, no meio de um engarrafamento. Carro a carro.
- É nisso que deu, oito anos de governo Lula. Este caos. Todo o mundo com carro, e todos os carros na rua ao mesmo tempo. Não tem mais hora de pique, agora é pique o dia inteiro. Foram criar a tal nova classe média e o resultado está aí: ninguém consegue mais se mexer. E não é só o trânsito. As lojas estão cheias. Há filas para comprar em toda parte. E vá tentar viajar de avião. Até para o exterior – tudo lotado. Um inferno. Será que não previram isto? Será que ninguém se deu conta dos efeitos que uma distribuição de renda irresponsável teria sobre a população e a economia? Que botar dinheiro na mão das pessoas só criaria esta confusão? Razão tinha quem dizia que um governo do PT seria um desastre, que era melhor emigrar. Quem pode viver em meio a uma euforia assim? E o pior: a nova classe média não sabe consumir. Não está acostumada a comprar certas coisas. Já vi gente apertando secador de cabelo e lepitopi como e fosse manga na feira. É constrangedor. E as ruas estão cheias de motoristas novatos com seu primeiro carro, com acesso ao seu primeiro acelerador e ao seu primeiro delírio de velocidade. O perigo só não é maior porque o trânsito não anda. É por isso que eu sou contra o Lula, contra o que ele e o PT fizeram com este país. Viver no Brasil ficou insuportável.
v- A nova classe média nos descaracterizou?
- Exatamente. Nós não éramos assim. Nós nunca fomos assim. Lula acabou com o que tínhamos de mais nosso, que era a pirâmide social. Uma coisa antiga, sólida, estruturada…
- Buuu para o Lula, então?
- Buuu para o Lula!
- E buuu para o Fernando Henrique?
- Buuu para o… Como, “buuu para o Fernando Henrique”?!
- Não é o que estão dizendo? Que tudo que está aí começou com o Fernando Henrique? Que só o que o Lula fez foi continuar o que já tinha sido começado? Que o governo Lula foi irrelevante?
- Sim. Não. Quer dizer…
- Se você concorda que o governo Lula foi apenas o governo Fernando Henrique de barba, está dizendo que o verdadeiro culpado do caos é o Fernando Henrique.
- Claro que não. Se o responsável fosse o Fernando Henrique eu não chamaria de caos, nem seria contra.
- Por quê?
- Porque um é um e o outro é outro, e eu prefiro o outro.
- Então você não acha que Lula foi irrelevante e só continuou o que o Fernando Henrique começou, como dizem os que defendem o Fernando Henrique?
- Acho, mas…
Nesse momento o trânsito começou a andar e o diálogo acabou.
(‘Chupado’ de QTMD)

Drummond

À meia-noite, pelo telefone

À meia-noite, pelo telefone,
conta-me que é fulva a mata do teu púbis.
Outras notícias
do corpo não quer dar, nem de seus gostos.
Fecha-se em copas:
"Se não vem depressa até aqui
nem eu posso correr à sua casa,
que seria de mim até o amanhecer?"
Concordo, calo-me.


Carlos Drummond de Andrade
(1902-1987)
(Poemblog)

Bandeiras

A bandeira errada e a bandeira certa
Na falta de um verdadeiro confronto militar na tomada de Bagdá, o embate se deu sob forma simbólica, através da derrubada de uma estátua de Saddam. Um militar pendurou uma bandeira dos EUA na cabeça da estátua, logo substituída por uma bandeira iraquiana. Era uma tentativa de projetar um fundo histórico que engrandecesse aquela cena ridícula.
Flávio Aguiar
Na manhã do dia 09/04/2003 eu estava sentado diante da televisão, em meu apartamento no bairro do Butantã, em São Paulo. Assistia ao vivo a entrada triunfal (à tarde lá, pela diferença de horário) das tropas norte-americanas em Bagdá. À noite, assisti as reportagens sobre o evento em vários canais de TV, nacionais e estrangeiros.

No dia seguinte, 10/04/2003, publiquei um artigo nesta Carta Maior (quando minha coluna ainda tinha o nome de “Cartas Ácidas”, pois eu substituía interinamente Bernardo Kucinski, convocado a colaborar com o Presidente Lula) chamado “A bandeira errada”, sobre a diferença entre o que eu vira à tarde e o que vira à noite.

O foco do título era uma atitude precipitada, descrita como “ato falho” de um militar norte-americano. Na falta de um verdadeiro confronto militar na tomada de Bagdá, o embate se deu sob forma simbólica, através da derrubada de uma estátua de Saddam Hussein, na praça Fildos. Um dos militares – que hoje sei se chamar o Cabo Edward Chin – pendurou uma bandeira norte-americana na cabeça da estátua. Ajudada pelo vento, ela se plantou em seu alvo de cabeça para baixo, o que, na linguagem internacional, é aviso de situação difícil e de pedido de socorro. A bandeira pertencia a outro militar – Tim Maclaughlin – que a levara com a esperança algo obsessiva de hasteá-la em algum lugar para compor uma cena histórica. Talvez o que o inspirasse fosse a famosa cena (montada e remontada algumas vezes) dos soldados soviéticos hasteando a bandeira vermelha no alto do Reichstag, em Berlim, no gesto que simbolizaria o fim da Segunda Guerra Mundial. Ou ainda a foto (também construída e reconstruída) dos soldados norte-americanos hasteando a bandeira de seu país em Iwo Jima.

A bandeira ficou naquele alvo pouco mais de um minuto. O suficiente para oficiais no local e até em Washington, que assistiam ao vivo a invasão, que nem eu, perceberem o “erro” que aquilo significava. A bandeira dos EUA foi retirada, e em seu lugar colocou-se uma do Iraque, na posição certa. Seguiu-se a derrubada da estátua, proeza feita por um buldozer do Exército norte-americano, puxando uma corda atada à sua cabeça.

O feito nada tivera de heróico, ao contrário, para quem o vira ao vivo soava e ainda soa como, sobretudo, ridículo. Mas o noticiário à noite apresentava a derrubada com ares épicos de uma guerra de libertação, no Ocidente; como uma invasão de conquista, no mundo árabe, como na Al Jazzeera. No primeiro, preferia-se a versão com a bandeira iraquiana na cabeça; no segundo, a imagem da bandeira norte-americana era incluída.

No primeiro, havia uma epopéia redentora de um povo; no segundo, uma manipulação grosseira de imagens, planejada desde o começo.

Pulemos 8 anos. Ao entardecer de 09/01/2011, navegando na internet a partir de meu apartamento em Berlim, deparei com interessante artigo do colunista de assuntos internacionais Marcos Guterman, do Estadão (publicado em 06/01). Nele o colunista reporta sob o título “A gênese de um factóide de guerra”, o conteúdo de outro artigo, desta vez do norte-americano Peter Maass, publicado no New Yorker (“The Toppling. How the media inflated a minor moment in a long war”).

Peter Maass estava lá, no dia 09/04/2003, em Bagdá, na praça Firdos. Talvez eu até o tenha visto, quem sabe? Fui até o seu artigo. De modo muito interessante, ele confirma a leitura do meu modesto “A bandeira errada”, mas acrescenta dados muito significativos. A tese principal de Maass é a de desmontar a argumentação, por exemplo, da Al Jazzeera, de que aquilo fora um factóide planejado e montado a priori pelas forças norte-americanas. Não: para ele, o que houve foi um suceder de fatos independentes um do outro. A obsessão do dono da bandeira; o impulso de fazer algo que desse significado a um ato, no fundo, decepcionante, para quem esperava um rude combate que glorificasse a “ação épica” de um exército “libertador”; a leitura do erro, in loco e à distância, que significara a cobertura da cabeça de Saddam com a bandeira norte-americana; sua substituição pela bandeira iraquiana. Para o repórter norte-americano, inclusive, a passagem pela praça Fildos foram inteiramente ocasional; o comandante da coluna blindada norte-americana procurava o Hotel Palestina, onde se concentrava a mídia internacional, e na busca de informações, já que não tinha um mapa detalhado daquele bairro em Bagdá, desembocara na praça onde estava a estátua. E tudo isso vem muito bem documentado e corroborado por entrevistas, testemunhos, etc.

Só que, ao fazer isso, Peter Maass torna explicitamente claro o papel da mídia ocidental, então 99% aderente, senão sua incitadora, à campanha invasora do Iraque, e à tese da posse, por Saddam Hussein, de armas de destruição em massa, tese que se comprovou fictícia e manipulada a partir da própria mídia e do governo Bush Filho. É discutível, mesmo lendo o artigo do New Yorker, que tudo tenha sido tão completamente fruto do acaso. Fica evidente que, no meio do tumulto, tanto na mídia como no escalão militar houve quem percebesse, no instante e a posteriori, o valor simbólico daquilo. Prova disso é o relato de alguns repórteres sobre como suas reportagens foram modificadas pelos editores, back home, para dar-lhe o realce épico que nossa mídia pró-ocidente no Brasil, provinciana e canhestramente ecoou.

Oito anos depois, o Estadão, mesmo inadvertidamente, dá o chapeau à Carta Maior. Mérito pessoal? Sim, guardo um, e com muita satisfação. O de ter assistido, ao vivo, aquelas transmissões, e ter podido, dessa forma, senão fazer um juízo preciso sobre os acontecimentos, detectar a exata medida sobre como as versões construídas depois eram deveras enganosas. Eram montadas para enganar, num crime jornalisticamente doloso, do lado do Ocidente.

Mas uma coisa é certa. Ainda me aferro à convicção de que o “ato falho” do cabo Edward Chin, hasteando a bandeira que o então soldado Maclaughlin levara, tinha em si a chave para o âmago do espetáculo, tenha sido ele planejado antes ou não: projetar um fundo histórico (advindo da Segunda Guerra, seja a soviética no Reichstag ou a norte-americana em Iwo Jima) que engrandecesse aquela cena ridícula.

Ou seja, para o olhar investigativo, a bandeira errada era a bandeira certa. Inclusive por estar de cabeça para baixo.

Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.

Andréa del Fuego

3 DEDOS DE PROSA COM ANDRÉA DEL FUEGO

Não troco os lençóis há dois meses, e acho pouco. Dispensei todo pano entre mim e o colchão, a não ser que você traga uma toalha de mesa bem chacoalhada na varanda, sem migalha de vagabundo.
...
Meu irmão mais novo foi internado às pressas, eu acho que é pirraça, ele nunca passa mal quando eu bato com martelo. Mamãe prefere mantê-lo medicado, de seis em seis horas ele toma comprimidos azuis. Minha drágea é vermelha, dão-me depois do jantar, mas a prendo na bochecha esquerda. No quarto, esfarelo o remédio com o indicador debaixo da cama, assopro, dou martelada em mim e não dói.
...
Tornar-me adulta inclui estrias na barriga, a pele não se hidrata a tempo. Quando soube que despejaria um ovo cru por mês, engravidei de uma história, que só posso expelir escondida.

(Andréa del Fuego é autora do romance “Os Malaquias” e da trilogia de contos “Minto enquanto posso”, “Nego tudo” e “Engano seu”, dos juvenis “Sociedade da Caveira de Cristal”, da coletânea de crônicas “Quase caio” e do infantil “Irmãs de pelúcia”. Ganhou o prêmio Literatura Para Todos, do Ministério da Educação, com a novela “Sofia, o cobrador e o motorista”. Está escrevendo o romance “Sonar” com a Bolsa de Criação Literária do Programa Petrobrás Cultural)
(Diversos Afins)

Pensamentando

Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso…”
Que tal o mar pra voar?
O céu pra ser um peixe?
A fome pra ter sede?

“Só que agora é diferente:
Estou tão tranqüilo e tão contente.”
Já achou o pássaro que da água brota?
A impossível prova na escuridão?
“Quantas chances desperdicei,
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém”
Quantas chances eu ganhei
Quando o que em mim sorria
Era um doar no mais profundo
Um doar que se alastrava
Num eterno vai e vem

“Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira”
Verdade. Ou seria mentira?
Verdade. É como conter a ferida.
É ser o que controla.
É não brincar com o próprio ser.

“Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo.
Já não me preocupo se eu não sei por que.
Às vezes, o que eu vejo, quase ninguém vê.”
Vejo um caminho
Sem fim nem início
Vejo a vida
Sem vício
Talvez sejam olhos
De criança intrusa
Que, ansiosa,
Se lambuza.
“Tão correto e tão bonito;
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos!”
Tão honesta, tão sensata
A certeza é realmente
Um dos diabos
Mais feios.

“Sei que, às vezes, uso
Palavras repetidas,
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?”
Sei que tantas vezes
Cometo muitos erros
Mas quem se leva a sério
Rodeia-se por medos.
04 de fevereiro de 2011,
Ana Helena Tavares
criado por Ana Helena Tavares 11:51:15 — Arquivado em: Diálogos, Diálogos poéticos —
(Obs.: conforme a própria Ana, este texto é uma mescla de momentos próprios de poesia, c citações)

Millôr, o gênio de direita

O ESPELHO
"O jeito com que ela nestes dias se veste com mais atenção pra sair e passar sozinha a tarde nas compras, ou apenas passeando, nela diz mais do que quando saem juntos prum restaurante ou festa: uma coisa tão sutil, como falar disso, como imaginar que poderia explicar isso a ela? O jeito com que ela se olha ao espelho por longos momentos enquanto se prepara, se maquila, o jeito com que olha tão profundamente pra si mesma, fita seus próprios olhos, sua boca, o olhar descendo pelos seios: o que ele vai dizer, que ela olha pra si mesma de um modo que ele antes nunca viu, mais carnal? Ela lhe diria que está louco, ou outra coisa qualquer que, seja o que for, ele não quer ouvir. O floreio com que ela veste a jaqueta, o jeito atrevido com que sorri ao sair pela porta, a porta, o jeito com que a porta clica ao fechar, o jeito com que a fechadura tranca por trás dela tão enfaticamente. Que é que ele pode pensar? O que tem a dizer, a quem? O espelho, a jaqueta, a fechadura, a porta terrível? Nem pode tocar na porta, medo de que a porta rompa o acordo assustador que tem com ele. Também não pode olhar no espelho, esse vazio malicioso e escuro; quem sabe o que vai ver?" Adaptado de C.K. Williams


Chama-se de criança precoce aquela que nasce antes dos pais casarem.
• Inércia é uma energia gerada pela preguiça de sair de onde se está.
• Uma ilha é um pouco do fundo do mar que veio à tona. Tem muito mais ilha lá no fundo.
• Lassidão é o efeito do laxativo.
• Latitude é o oeste quando a gente está no leste e vice-versa.

• Chama-se de ortodoxa uma religião em que eles não permitem as sacanagens que as outras permitem.

• Paralelograma é quando a gente corta a grama do jardim e ela fica bem paralela.

• Metafísico é o sujeito que demonstra a existência de uma coisa que não existe. Continua...


























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quarta-feira, 27 de abril de 2011

Espinho no Dedo II

http://espinhonodedoii.blogspot.com/

Espinho no Dedo II

Visite-o! É o filho!

Pequenino texto

Vc já foi feliz hoje?
- Sozinha?
- n.
-E amanhã?
- É, a felicidade precoce...nossos tempos de gozo desertaram...estamos sós...
-ingênua...
-tolinho...
-te amo.
- e seus monólogos e decassílabos aos sábados?
- e tinha o ritual do vinho, lembra?
- seus fantasmas e duendes ainda te perseguem?
- é...altruísmo depois de um jogo de futebol...
- ontem eu desapareci, amor...foi fugaz, instantes, mas gostoso...
- vc ainda me quer?
-quero.
- k bom!

Araguaia

guerrilheiros do período mais sangrento da Guerrilha do Araguaia. Grabois foi executado em 25 de dezembro de 1973. Foi um dos últimos insurgentes a morrer. Na prática, houve três grandes campanhas dos militares contra a guerrilha. Na última, não houve preocupação de efetuar prisões, e sim de eliminar os combatentes. Como o diário vai de abril de 1972 a dezembro de 1973, temos mais informações sobre essa fase final. Os poucos sobreviventes, não mais do que meia dúzia, não deixaram relatos consistentes. Um deles, Ângelo Arroyo, morreria em 1976 na chacina da Lapa, no Rio de Janeiro. Os demais eram desertores, não quiseram falar muito sobre o que aconteceu. Esse diário está nos arquivos sigilosos das Forças Armadas desde então. Só foi revelado agora por CartaCapital.

CC: Como você definiria a liderança exercida por Grabois?

LF: Ele era muito mais rígido com os outros do que com ele mesmo ou com o seu partido, o PCdoB. Grabois tinha sob o seu comando 68 combatentes, em sua maioria jovens na faixa dos 25 anos, estudantes universitários ou profissionais liberais. Gente que nunca pegou em armas antes, que nunca teve treinamento militar. Ele esperava que esses 68 neófitos, como costumava dizer, fossem capazes de enfrentar soldados profissionais das três Forças Armadas, agentes da Polícia Federal e policiais de três estados diferentes. Exigia rigor absoluto, erro zero. Como se esse pequeno grupo pudesse atuar como rambos no Araguaia.

Além disso, Grabois teve graves erros de avaliação. Imaginava que, com o tempo, as massas iriam aderir à guerrilha. Mas a população local oferecia apenas apoio pontual, doava comida e oferecia abrigo para os combatentes pernoitarem em algumas ocasiões. Jamais os campesinos se dispuseram a engrossar as fileiras da insurgência. Grabois também costuma ouvir muito a Rádio Tirana, da Albânia, que pregava propaganda comunista e alardeava um grande movimento insurrecional no Araguaia. Ele passou a acreditar no que escutava. A rádio passava propaganda e ele tomava como verdade. Trata-se de um erro de avaliação indesculpável para um líder revolucionário.

A reportagem completa sobre o diário de Grabois está na última edição de Carta Capital.
(Palavras Diversas)

O enterro de Wellington

O enterro de Wellington


Escrito por Duarte Pereira
26-Abr-2011

“Lembra-te, homem, de que és pó e ao pó retornarás”.
(De cerimonial fúnebre católico)

O corpo do jovem Wellington Menezes de Oliveira, morto aos 24 anos, ex-aluno da Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro, portador de transtornos mentais, vítima de maus tratos e humilhações quando era aluno da escola e autor dos disparos que mataram 12 estudantes da escola e feriram outros 12, alguns gravemente, foi depositado na última sexta-feira da paixão, 23/04, num buraco raso e sem lápide no Cemitério do Caju, na zona portuária da cidade.

Nenhuma autoridade de primeiro, segundo ou décimo escalão compareceu. Nenhum ministro religioso – católico, evangélico, islâmico ou umbandista – esteve presente para rezar pelo jovem homicida e suicida e manifestar compaixão por seu trágico destino.

Filho de paciente psiquiátrica abandonada nas ruas, segundo informações divulgadas pela mídia, e criado por pais adotivos já falecidos, Wellington tinha cinco irmãos adotivos, além de primos e sobrinhos. Nenhum desses parentes reclamou o corpo, nem compareceu ao sepultamento.

Nenhum procurou respeitar o pedido de Wellington de que seu corpo fosse enterrado ao lado de sua mãe adotiva, provavelmente a única pessoa que lhe dedicou atenção e afeto ao longo de sua breve e dilacerada existência.

A conduta de seus irmãos adotivos, mesmo que ditada por medo, confirma o abandono em que Wellington foi relegado numa casa herdada nos últimos meses de vida e o desabafo do jovem, registrado num dos textos encontrados nessa casa, de que ele não tinha uma verdadeira família.

Houve em Realengo duas tragédias superpostas: a das crianças e pré-adolescentes mortos e feridos estupidamente e a do jovem doente e solitário que os alvejou. Essa última tragédia tem sido, porém, negligenciada e Wellington tratado como um “monstro”, como estampou a revista Veja em capa, “monstro” que não mereceu atenção nem tratamento quando era vivo e não tem merecido respeito após sua morte.

Fotos do precário enterramento de Wellington no Cemitério do Caju mostram uma vasta área de terra seca, nua, poeirenta, por onde se espalham 5 mil covas rasas, sem delimitação, nem identificação, nas quais são deixados os corpos de indigentes e desamparados como Wellington . Muitos cães e cadelas de estimação são sepultados com mais regalias. Em nossa sociedade capitalista, os preconceitos ideológicos e as diferenças sociais se estendem até mesmo às condições e ritos de sepultamento.

Duarte Pereira é jornalista.
(Correio da Cidadania)

Índios

Lenda da Noite
(em nheengatu tupi)


Ipirungáua ramé intimaan pituna, ara anhó opaim ara pupê. Pituna okéri oiko y repipe. Intimaha sooeta opaim maha onheen.
Durante o princípio não havia noite, somente dia todo o tempo. A noite estava adormecida no fundo do rio.
Boiaussu membira ipaha oiumendare iepe curumin ussu irumo. Quaha curuminussu oreko mossapira miassua caturete.
A filha de Cobra Grande, dizem, casou-se com um rapaz. Este rapaz tinha três criados muito bons.
Oiepe ara upe ocenoim mossapira miassua onheen aeta supe:
Um dia ele chamou os três criados e disse-lhes:
— Pecoim peoatá, xeremirecó inti okéri putári ce irúmo.
- Ide passear, minha mulher não quer dormir comigo.
Miaussua ossô ana.
Os criados foram.
Aramê ahê ocenoim xemirecó okéri arama ahê irúmo. Xemirecó ossuaxára:
Então ele chamou sua mulher para dormir com ele. Sua esposa respondeu:
- Inti raim pituna.
Ainda não é noite
- Intimaha pituna ara anhum.
- Não há noite, só dia.
- Xe ruba oreko pituna. Rekeri putari rame xe irumo remundu paimo ahe parana rupi.
- Meu pai tem a noite. Se queres dormir comigo manda buscá-la pelo rio.
Ahe ocenoim mossapira miassua xemireko omundu aeta iruba oca pyri osso opiamo arama iepe tucumã rainha.
Ele chamou os três criados, sua mulher e os mandou irem à casa de seu pai, para buscarem um caroço de tucumã.
Aeta ocyca rame Boiaussu oca upe quaha omehee aeta oiepe tucumã rainha oiucikinau reté onheen:
Quando chegaram na casa do Cobra Grande, ele deu-lhes um caroço de tucumã bem fechado e disse-lhes:
- Kussukui ane rerasso tenhe curi pe pirari... Pepirari rame pecanhyma curi.
— Aqui está, levai, mas não o abri... Se o abrirdes, o perdereis.
Miassua osso Ana, ocena teapu tucumã rainha pupe: ten-ten-ten- ten, xi-xi-xi-xi. ..Aicoreme teapu jaky sapo pupe baê onhengara pituna bo Outassaba ojepottámo igapucábo popyatã.
Os criados foram, ouviram o som dentro do caroço de tucumã: ten-ten-ten- ten, xi-xi-xi-xi. .. Era o barulho dos grilos e sapos dos que cantavam pela noite. À viagem continuaram remando forte.
Assapyá nheranacábo xeretaetê aan amoiirê, apu cuaba aicoreme apó baê, nhemonoonga sui igara pupê paum monhangatatá moycu breu oiucikináu rainha baê. Moputuna atãrupi opa.
De repente não suportando mais a curiosidade para saber que barulho era aquele reuniram-se no meio da canoa, fizeram fogo e derreteram o bréu que fechava o caroço. Tudo escureceu de repente.
Pituna semãorecô tukumã rainha suí. É nhé ui, ocamenduara mõ pupê, ocuabámo mojaboéra baê iraarõ angaetê okéri supê. Boiaussu membyra ucuara onheen:
A noite havia saído do caroço de Tucumã. Nesse instante, lá longe na cabana nupcial, os que esperavam para dormir souberam que a semente havia sido aberta. A filha do Cobra Grande ofegante disse:
- Irabámo pituna, orossô é nhé arõ coema.
- Soltaram a noite, vamos esperar agora o amanhecer.


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__._,_.___O Cachimbo Sagrado

Desde o momento em que a Grande Mulher Novilha de Búfalo Branco apareceu à Nação Sioux, o Cachimbo vem sendo considerado uma Cura Sagrada, partilhada entre os Irmãos e Irmãs da América Nativa.Trata- se de uma forma de oração, que nos permite falar a verdade e curar relacionamentos feridos ou rompidos.Nós recebemos o Cachimbo para poder enviar nossas preces e manifestar nossa gratidão ao Grande Mistério e para simbolizar a Paz entre todas as Nações, Tribos e Clãs.O fornilho do Cachimbo representa o aspecto feminino de todas as coisas vivas e o tubo é o símbolo do aspecto masculino em todas as formas de vida. O simples ato de colocar o tubo no fornilho simboliza união, criação e fertilidade. Quando o Cachimbo está abastecido, cada pitada de Tabaco é abençoada, assim como cada ramo de Nossos Parentes é convidado a entrar no Cachimbo na forma de espírito para poder ser honrado e fumado...

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Como sombras, nós nos movemos...
Nossos, são os instantes de silêncio.
O espaço entre os segundos,
São os nossos momentos.
Na solidão, encontramos refúgio.
Um pouco de paz e tranqüilidade. ..
Uma fuga das amarras da realidade.
Solitários somos, por opção ou não;
Ao nos isolarmos, nos aproximamos
Daqueles que como nós, buscam as respostas
Nos caminhos secretos e antigos.
Ao cair da noite, nós nos reunimos
Atendendo ao chamado silencioso
Da Dama Prateada.
Ouça. Você pode ouvir?
O som vem de todos os lugares...
Dos bosques e das montanhas;
Das cachoeiras e dos mares;
Dos becos e prédios da cidade;
Os Espíritos da Terra te convocam.
Ouça. Você pode ouvir?
São as vozes do passado...
Trazendo de volta o conhecimento
Perdido na memória do tempo
E reatando os antigos laços
Do homem com a Natureza.
Ouça. Você pode ouvir?
Sim... você pode ouvir.


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(Literatura Indígena)